Canção de Chico Buarque foi premonitória em relação a fim da ditadura militar brasileira. E ainda hoje diz muito sobre nós.
por Maria Aparecida de Aquino em 18/05/22 10:09
Chico Buarque de Hollanda (Foto: Bob Wolfenson/Divulgação)
Aqueles que têm memória/idade ou apenas conhecimento hão de lembrar dessa composição de nosso artista maior, orgulho brasileiro: Chico Buarque de Hollanda. Talvez se recordem de toda controvérsia em torno dela e de suas dificuldades de liberação com a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).
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Composta em 1970, em pleno governo do General Emílio Garrastazu Médici, foi lançada em compacto simples e logo alcançou enorme sucesso. A cantora Clara Nunes também gravou a composição em 1971. O entendimento da maior parte das pessoas, inclusive de Clara, é que se tratava de uma rusga entre namorados:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia…
Quando o regime finalmente percebeu o significado da canção, ainda em 1971, proibiu sua execução, invadiu a sede da gravadora e destruiu as cópias do compacto, puniu o censor que havia “deixado passar” tal ofensa aos militares. Chico Buarque foi chamado em interrogatório e daí para frente sua relação com a censura seria muito difícil para dizer o mínimo. Suas letras seriam constantemente rejeitadas, chegando ao ponto de precisar recorrer a pseudônimo (Julinho da Adelaide de Acorda Amor) para lançar suas canções.
Quanto a Apesar de Você, somente foi relançada por Chico Buarque em 1978, já no final do governo do General Ernesto Geisel, com sua distensão política. E, assim, pudemos entoar livremente seus belos versos:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Parafraseando a ótima peça teatral Greta Garbo quem diria acabou no Irajá, escrita nos anos de 1970, por Fernando Melo, gente de minha geração acreditava que só haveria espaço em sua existência para um regime autoritário. Mas, quem diria? Estamos nós de novo às voltas com o autoritarismo, só que dessa vez, por obra e graça de um processo eleitoral legítimo, ou seja, por desejo de parcela significativa da população brasileira.
As expressões de autoritarismo explícito do governo de Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) são variadas e, o mais grave, sobem constantemente de tom. São preocupantes seus ataques a instituições como o Supremo Tribunal Federal e ao processo eleitoral, alegando uma pretensa e inexistente possibilidade de fraude eleitoral. Neste último aspecto, é caso confesso de quem tem clareza que vai perder as eleições e, portanto, se prepara para lançar mão do descrédito sobre as urnas eletrônicas para tentar melar um processo que é, internacionalmente, reconhecido como um grande avanço e cuja licitude não deixa sombra de dúvidas.
A canção de Chico Buarque foi premonitória e ao fim, a Ditadura Militar “se deu mal”, não como deveria, pois, os criminosos não foram para o banco dos réus e se preservou, malfadadamente, uma memória positiva do regime militar que é a razão de nossos males e das “viúvas saudosistas” pedirem a “volta dos militares”. Mas, foram retirados do poder “pela porta dos fundos” – vide o último presidente General João Baptista de Oliveira Figueiredo que se recusou a passar a faixa para seu sucessor civil – e, por qualquer ângulo que se analise seriamente, seu resultado é negativo para o país.
Lembrando de Apesar de Você, são válidos como nunca, para a atualidade, seus versos:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
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