Arquivos Javier Milei - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/tag/javier-milei/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 18 Feb 2025 10:04:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Caso $libra e Javier Milei – Entenda o que aconteceu https://canalmynews.com.br/noticias/caso-libra-e-javier-milei-entenda-o-que-aconteceu/ Mon, 17 Feb 2025 16:34:10 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=51974 Entenda a situação envolvendo lançamento da criptomoeda chamada $LIBRA, do presidente da Argentina, Javier Milei

O post Caso $libra e Javier Milei – Entenda o que aconteceu apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Por Denise Cinelli, COO da CryptoMarket

Tudo começou na última sexta-feira às 19h01, quando o presidente argentino Javier Milei publicou no X e no Instagram uma mensagem sobre o lançamento da criptomoeda chamada $LIBRA. Segundo ele, a nova moeda digital estimularia a economia e ajudaria pequenas empresas a crescerem.

“A Argentina Liberal cresce!!!”, escreveu Milei, acrescentando que “o mundo quer investir na Argentina”. No post, ele incluiu o endereço do contrato inteligente da criptomoeda, já que, por ser um ativo novo, ainda não estava listado para compra em nenhuma plataforma consolidada.

LEIA MAIS: Calor extremo nas escolas: Como as altas temperaturas afetam alunos e professores

De acordo com o jornal argentino Ámbito Financiero, o site do projeto e a criptomoeda foram criados poucas horas antes da publicação de Milei. A empresa responsável pelo token, KIP NETWORK INC, está registrada no Panamá e possui um site com informações escassas, incluindo apenas um e-mail do Gmail e o nome do projeto: “Viva la Libertad Project”.

O site do projeto destaca que o token $LIBRA seria um símbolo das ideias libertárias de Milei e teria como objetivo fortalecer a economia argentina, apoiando o empreendedorismo e a inovação. No entanto, a transparência sobre a estrutura do projeto é limitada.

O CEO da KIP, Julian Peh, teve um encontro com Milei em outubro de 2024 no TechForum, evento no qual a empresa foi patrocinadora e o presidente argentino atuou como palestrante.

O que aconteceu após a publicação de Milei?

Os fundadores da criptomoeda detinham 70% do suprimento total do ativo, que inicialmente valia US$ 0,000001. Após a promoção feita por Milei, o valor do token disparou, atingindo um pico de US$ 5,20. Durante algumas horas, o post do presidente permaneceu fixado no topo de sua página.

No entanto, a valorização não durou muito. A moeda sofreu uma queda abrupta de mais de 85%, retornando a valores próximos de zero, enquanto algumas poucas carteiras capturaram ganhos expressivos.

O investidor Ariel Sbdar, da Cocos Capital, chegou a comemorar a ascensão da moeda, escrevendo no X: “Vocês entendem que $LIBRA promovida por @jmilei já vale mais do que muitas empresas argentinas?”. Mais tarde, observando a queda vertiginosa, alertou potenciais investidores sobre os riscos de perda.

Quando a desvalorização se acentuou, chegou-se a especular que a conta de Milei poderia ter sido hackeada. Entretanto, horas depois, ele apagou a publicação e fez uma nova postagem alegando desconhecimento sobre os detalhes do projeto.

Redes sociais alertam sobre comportamentos

Usuários do X alertaram sobre o comportamento do ativo, sugerindo que poderia se tratar de um “rug pull”, um esquema no qual os desenvolvedores de uma criptomoeda criam um projeto, atraem investidores e, em seguida, retiram os fundos antes de desaparecerem.

Mais de quatro horas após sua primeira publicação, Milei apagou seu post e afirmou que havia promovido o token sem ter conhecimento aprofundado sobre ele.

Enquanto isso, a empresa KIP postou que o lançamento da $LIBRA havia sido um sucesso e agradeceu pelo apoio. Afirmou, ainda, que Milei não estava envolvido com o projeto.

VEJA: Número de evangélicos tende a crescer e acirra disputa entre Lula e Bolsonaro

Estima-se que o suposto golpe tenha movimentado entre US$ 70 e 100 milhões, afetando cerca de 44 mil investidores, incluindo figuras próximas a Milei, como o comunicador Daniel Parisini e os deputados José Luis Espert e Damián Arabia.

Diante da repercussão, a Presidência da República anunciou que a Oficina Anticorrupção da Argentina investigará se houve conduta imprópria por parte de Milei ou de membros do governo.

Foi criada também uma Unidade de Tarefas de Investigação (UTI), composta por representantes de órgãos reguladores de criptoativos e lavagem de dinheiro, para analisar as transações envolvendo $LIBRA.

O fundador de $LIBRA, Hayden Mark Davis, alegou que havia recebido garantias de apoio contínuo de Milei ao projeto e que a reviravolta do governo foi a principal causa do colapso do token.

Por outro lado, a oposição reagiu duramente, com parlamentares pedindo um processo de impeachment contra Milei. A ex-presidente Cristina Kirchner afirmou que milhares de pessoas perderam dinheiro enquanto poucos lucraram com informação privilegiada.

Denise Cinelli, COO da CryptoMarket, destacou que o caso $LIBRA expõe os riscos de um setor ainda pouco regulamentado e com alta volatilidade. “Casos como esse são um alerta para a necessidade de mais transparência e educação financeira no setor cripto. Infelizmente, essa falta de clareza abre espaço para oportunistas lucrarem de maneira imoral às custas de investidores despreparados. Enquanto alguns poucos fizeram fortunas, milhares de pessoas perderam suas economias confiando em um projeto sem garantias sólidas”, afirmou Cinelli.

Veja mais do MyNews

Clique neste link e seja membro do MyNews — ser inscrito é bom, mas ser membro é exclusivo!

O post Caso $libra e Javier Milei – Entenda o que aconteceu apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Um ano de Milei: a Argentina no rumo certo https://canalmynews.com.br/outras-vozes/um-ano-de-milei-a-argentina-no-rumo-certo/ Thu, 28 Nov 2024 21:34:39 +0000 https://localhost:8000/?p=48945 O 'outsider', a quem poucos davam credibilidade, foi capaz de controlar em pouco tempo a hiperinflação, que agora caiu para menos de 3% ao mês

O post Um ano de Milei: a Argentina no rumo certo apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Esta semana, estive em Buenos Aires, atendendo a convite da Fundação Friedrich Naumann, para participar de um simpósio sobre o primeiro ano do governo de Javier Milei como presidente da Argentina.

Eleito em 19 de novembro do ano passado, Milei tomou posse pouco depois, em 10 de dezembro, em um cenário de terra arrasada. O governo de Alberto Fernández entregava-lhe a inflação mais alta do mundo, que atingiu 211% em 2023, e um país em recessão econômica, com quase metade da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Com as contas públicas fora de controle, devido aos inúmeros subsídios e gastos excessivos do governo, a Argentina enfrentava uma crise fiscal, econômica e de confiança, que limitava suas opções de crédito e fazia a moeda se desvalorizar a cada ano.

Leia mais: ‘Reforma da previdência deve voltar à pauta em 2025’, diz presidente da FenaPrevi 

A crise era tão grave que o presidente Fernández nem se arriscou a tentar a reeleição, tamanho o grau de impopularidade. Escalou seu então ministro da Economia, Sergio Massa, para sucedê-lo.

A oposição tradicional lançou Patricia Bullrich, mais moderada, e Milei surgiu como o outsider a quem poucos davam credibilidade no início da corrida eleitoral. Apesar das desconfianças, seu estilo excêntrico e retórica agressiva contra o sistema conquistaram um eleitorado frustrado e disposto a apostar em uma mudança mais radical.

A vitória de Milei, entretanto, embora representasse uma saída para os anos de peronismo, trouxe também uma certa desconfiança e aflição a parte dos argentinos. Qual seria sua capacidade de execução? Sua excentricidade prejudicaria o país? Ele realmente implementaria as políticas prometidas, mesmo sendo impopulares e trazendo dificuldades no curto prazo?

Há de se compreender as dúvidas levantadas. Afinal, o discurso e perfil de Milei representavam uma ruptura à política tradicional que a Argentina ainda não havia experimentado. Porém, as fórmulas anteriores — seja as políticas assistenciais e populistas do peronismo, ou o gradualismo de Macri — não haviam funcionado. Então, por que não tentar algo novo?

Leia mais: Brasil está aquém dos EUA quando o assunto é representatividade feminina no legislativo

Agora, após um ano de governo, os resultados são visíveis. Em pouco tempo, Milei foi capaz de controlar a hiperinflação, que agora caiu para menos de 3% ao mês. Valor ainda elevado, mas consideravelmente menor do que o cenário anterior.

O ajuste fiscal também caminha a todo vapor, com medidas necessárias, porém amargas, como o fim de subsídios para itens como gasolina e energia elétrica, cortes em programas sociais e nos repasses às províncias, redução da máquina pública e ajustes na previdência. No curto prazo, essas medidas encareceram o custo de vida para muitos argentinos, mas foram essenciais para o controle da inflação, algo muito mais benéfico e sustentável a longo prazo para a população.

Ao mesmo tempo, para reaquecer a economia e permitir o florescimento do setor privado, Milei implementou um amplo pacote de desregulamentações e privatizações, que só não foram mais agressivas devido à resistência do Congresso.

Essas medidas renovaram as esperanças dos argentinos. Mesmo os mais céticos agora acreditam que o país está seguindo um caminho próspero, capaz de reverter os anos de atraso e políticas equivocadas.

Contudo, ainda há muito a se fazer. A questão cambial segue como um grande desafio, pois ainda não há câmbio livre no país e o mercado paralelo, embora com valores mais próximos do oficial, persiste. Além disso, Milei segue sem uma base firme no Congresso, o que traz dificuldades à implementação de novas medidas. E sempre paira a dúvida: até quando a população seguirá compreensiva diante das dificuldades de curto prazo causadas pelas reformas?

Leia mais: Isenção por problemas de saúde será restrita a renda de até R$ 20 mil

Quando perguntei aos argentinos sobre o segredo para o sucesso de Milei, as respostas convergiam. A excentricidade e o radicalismo que eram considerados riscos ao seu governo foram os atributos que, na verdade, lhe deram condições políticas para adotar medidas tão duras, mas necessárias. Muitos o comparam ao governo de Macri, que, embora ciente do que precisava ser feito, foi muito menos ousado e evitou atritos, o que dificultou reformas mais estruturais. Milei foi o oposto: ousou desde o início e preferiu lidar com os atritos do que evitá-los.

E isso foi exatamente o que ele prometeu fazer, sempre alertando para as consequências imediatas. Mesmo que os resultados do ajuste tragam dores à população, todos reconhecem que não foram pegos de surpresa.

Certamente, ainda há muito a ser feito, mas Milei parece firme em seu plano e segue contando com o reconhecimento dos argentinos, mesmo entre os que antes duvidavam do que poderia realizar.

Sem dúvidas, o primeiro ano do novo governo já deixou sua marca, realizando o que há muito não se via na Argentina e se tornando um exemplo para outros países, inclusive o nosso.

Afinal, enquanto nosso vizinho faz o seu ajuste de contas, o Brasil segue no caminho inverso: sem coragem para realizar as reformas estruturais necessárias para corrigir décadas de políticas econômicas e fiscais equivocadas, e ainda insistindo em muitas delas. Sem dúvida nenhuma, o exemplo de Milei precisa ser rapidamente seguido por aqui.

O post Um ano de Milei: a Argentina no rumo certo apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Argentina decide aderir à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza https://canalmynews.com.br/noticias/argentina-decide-aderir-a-alianca-global-contra-a-fome-e-a-pobreza/ Mon, 18 Nov 2024 19:03:50 +0000 https://localhost:8000/?p=48613 País era o único do G20 que ainda não integrava a iniciativa, que é prioridade do governo brasileiro; ao menos outras 80 nações já firmaram esse compromisso

O post Argentina decide aderir à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Após negociações de última hora, o governo argentino decidiu aderir à iniciativa do Brasil da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, nesta segunda-feira (18), na cúpula do G20, no Rio de Janeiro. A Argentina havia sido a única nação do G20 que não tinha aderido à aliança, que foi lançada na abertura da cúpula do bloco das maiores economias do planeta.

A adesão da Argentina ainda no dia do lançamento da aliança permite que o país figure como um dos membros fundadores da plataforma independente internacional criada para captar recursos para financiar políticas de transferência de renda em países.

Leia mais: Pela primeira vez, Fazenda divulga lista de empresas que recebem benefício fiscal; veja

Com isso, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza soma 82 países, além da União Africana e da União Europeia, nove instituições financeiras, 24 organizações internacionais e 31 entidades filantrópicas e não governamentais, totalizando 148 membros fundadores.

A adesão está aberta desde julho deste ano, e os países podem aderir a qualquer momento. Além dos membros do G20, aderiram à iniciativa nações como Uruguai, Ucrânia, Suíça, Nigéria, Angola, Colômbia, Jordânia e Líbano, entre outras. A expectativa é que a estrutura de governança da aliança esteja pronta até 2025.

Leia mais: Marcelo Rubens Paiva: ‘Classe artística foi massacrada por Temer e Bolsonaro’

Existe ainda a expectativa se Milei vai concordar com outras iniciativas do Brasil no G20, como a proposta para taxação dos super ricos e de medidas contra as mudanças climáticas.

No caso da Aliança Contra a Fome, a adesão ao programa é formalizada por meio de uma declaração de compromisso que define medidas gerais e personalizadas a serem adotadas pelos países que aderiram à iniciativa contra a fome alinhadas “com as prioridades e condições específicas de cada membro”.

Saiba como fica segurança do G20 após atentado em Brasília:

O post Argentina decide aderir à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Milei não se atreveu a enfrentar Lula no Brasil, diz jornalista https://canalmynews.com.br/noticias/milei-nao-se-atreveu-a-enfrentar-lula-no-brasil-diz-jornalista/ Tue, 09 Jul 2024 20:11:59 +0000 https://localhost:8000/?p=44538 Após fazer ataques ao presidente brasileiro nas redes sociais, chefe de Estado argentino 'tentou manter equilíbrio diplomático'

O post Milei não se atreveu a enfrentar Lula no Brasil, diz jornalista apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
O presidente da Argentina, Javier Milei, conhecido por seu jeito agressivo e direto de falar, teve medo e não se atreveu a enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em casa. Foi o que afirmou a jornalista argentina Ivone Alves García, apresentadora do canal Humo y Espejos, durante participação no Segunda Chamada de segunda-feira (8).

“O fato de não tê-lo mencionado foi um pouco disso, de não se atrever, de ter esse medo de enfrentar o Lula em sua própria terra”, disse. “Ele [Javier Milei] […] tentou manter esse equilíbrio diplomático.”

As tensões entre os presidentes brasileiro e argentino aumentaram após Milei cancelar participação na cúpula do Mercosul para se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro na Conferência Política de Ação Conservadora (CPAC). Com o anúncio da visita, Lula chegou a cancelar viagem a Itajaí (SC), que fica a 20 quilômetros de distância de Balneário Camboriú (SC), cidade que sediou o evento bolsonarista.

Leia mais: ‘Forças Armadas saíram do governo, mas não deixaram o poder’, diz cientista político

Durante discurso na CPAC Brasil, Milei evitou citar Lula, se limitando a criticar genericamente o que chamou de “socialismo da América Latina”. Para Ivone, a atitude cautelosa se deu pelo fato de Lula ter ameaçado retirar o embaixador brasileiro do país vizinho caso Milei continuasse os ataques. No final de maio deste ano, a Espanha retirou definitivamente sua embaixadora em Buenos Aires depois que Milei chamou a esposa do presidente espanhol Pedro Sánchez de “corrupta”.

“Javier Milei é o primeiro presidente argentino que tem problemas com tantos países”, declarou a jornalista. É algo inédito até para a Argentina, ou seja, é um absurdo.”

Assista abaixo ao Segunda Chamada de segunda-feira (8):

*Sob supervisão de Sofia Pilagallo

O post Milei não se atreveu a enfrentar Lula no Brasil, diz jornalista apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
‘Milei não está bem, se perde dentro das próprias loucuras’, diz jornalista argentina https://canalmynews.com.br/opiniao/milei-nao-esta-bem-se-perde-dentro-das-proprias-loucuras-diz-jornalista-argentina/ Tue, 09 Jul 2024 18:06:43 +0000 https://localhost:8000/?p=44528 Para Ivone Alves García, atitudes do presidente da Argentina, aliado à extrema direita, têm levado o país vizinho do Brasil a situação crítica

O post ‘Milei não está bem, se perde dentro das próprias loucuras’, diz jornalista argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
O presidente da Argentina, Javier Milei, não está bem psicologicamente, e se tornou um personagem que se perde dentro das próprias loucuras. Foi o que afirmou ao Segunda Chamada de segunda-feira (8) a jornalista argentina Ivone Alves García, produtora da AsiaTV e apresentadora do canal Humo y Espejos. Para ela, entre as “loucuras” de Milei estão, por exemplo, cancelar participação em Cúpula do Mercosul para se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro em evento conservador em Balneário Camboriú (SC), e se recusar a participar do BRICS, grupo de países emergentes do qual o Brasil faz parte. Ivone acredita que, enquanto Lula é um estadista, Milei é o exato oposto disso, o que tem levado o país a uma situação crítica.

“Lula é um estadista. Muitos podem gostar [dele] ou não, mas essa é a realidade, porque se conhece o trabalho que ele tem feito. Milei, por outro lado, veio para destruir o Estado. Ele mesmo diz isso”, diz Ivone. “Agora, como vocês me explicam um presidente que faz esse tipo de declaração seguir sendo presidente?”, questiona.

Leia mais: ‘Forças Armadas saíram do governo, mas não deixaram o poder’, diz cientista político

A Argentina vive hoje uma profunda crise socioeconômica, com a desvalorização do peso e uma inflação descontrolada. O país chegou a registrar uma inflação anual de quase 300% em maio deste ano e, embora os índices tenham mostrado alguma desaceleração, a inflação voltou a subir nos últimos dias. A previsão do banco central é que a inflação mensal permaneça estagnada entre 4,5% e 5,5% para os restantes meses do ano, em uma mostra de que as primeiras medidas para reduzir a inflação começam a dar mostras de esgotamento.

Com o país em crise, 60% dos argentinos vivem hoje na pobreza, percentual que era de 44% quando Milei assumiu a presidência, segundo dados da Universidade Católica da Argentina. Em agosto do ano passado, com a disparada da inflação às vésperas da eleição, supermercados foram alvos de saques em algumas cidades argentinas. Para Ivone, nesse cenário, é oportuno que Milei use suas atitudes para desviar a atenção dos problemas.

“Milei faz o que faz para que as pessoas falem sobre ele e esqueçam das dificuldades que estão enfrentando”, avalia Ivone, ressaltando que Milei é “resultado” de Alberto Fernández e Mauricio Macri, ex-presidentes da Argentina. “Ninguém da oposição se posiciona contra isso, por isso eu sempre digo: eles são cúmplices dessa situação”, acrescenta.

Assista abaixo ao Segunda Chamada de segunda-feira (8):

O post ‘Milei não está bem, se perde dentro das próprias loucuras’, diz jornalista argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Guerra das Malvinas aproxima militares e Milei https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/guerra-das-malvinas-aproxima-militares-e-milei/ Thu, 04 Apr 2024 13:02:24 +0000 https://localhost:8000/?p=42828 Presidente argentino pede "reconciliação com militares" em comemoração dos 42 anos do conflito

O post Guerra das Malvinas aproxima militares e Milei apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Na semana em que os argentinos rememoram o início da Guerra das Malvinas, em 2 de abril de 1982, o presidente Javier Milei chamou as Forças Armadas a uma “nova era de reconciliação”, que faria parte de um de seus projetos algo utópicos de declarar um Pacto de Maio, no mês da independência argentina, do qual participariam todos os governadores, todos os partidos e, agora, também o Exército.

A relação de Milei com os direitos humanos significa uma guinada numa área em que a Argentina é vanguardista. O país já condenou a mais de mil repressores, e, ainda nos anos 1980, elaborou as primeiras listas de desaparecidos e colocou os líderes do regime militar (1976-1983) no banco dos réus, durante o Julgamento das Juntas, retratados no filme “Argentina, 1985”.

A opinião sobre o período ditatorial do mandatário é explicada parafraseando as palavras do comandante da Marinha, Emilio Massera, que liderou a tortura e as desaparições dos anos de chumbo. Milei defende a ideia de que o golpe militar foi produto de uma guerra, equiparando a violência do Estado com a dos guerrilheiros, o que não é aceito pelos principais organismos de defesa dos direitos humanos.

O próprio Estatuto de Roma estabelece que os crimes cometidos por civis prescrevem, mas os cometidos pelo Estado, não. Por isso, na Argentina, eles vêm sendo julgados até hoje.

Ao relativizar esse consenso, Milei abre as portas para que, em primeiro lugar, seja iniciado um processo de julgamento dos ex-guerrilheiros (como Montoneros e o ERP), em segundo, que se inicie o corte dos aportes que o governo faz a instituições como as Mães e as Avós da Praça de Maio, e, em terceiro, para uma ação muito mais polêmica, porém defendida por sua vice, Victoria Villarruel, de começar a anistiar os repressores militares presos. Villaruel é filha de um militar que batalhou na Guerra das Malvinas.

Neste sentido, reivindicar os militares e pedir uma conciliação está em sintonia com esse movimento de reaproximação dos mesmos à política.

Depois da Guerra e do fim da ditadura, os militares saíram de campo desmoralizados. Haviam perdido o conflito de forma vergonhosa, mandando 648 rapazes argentinos a morrer nas ilhas, e entregavam ao primeiro presidente democraticamente eleito, Raúl Alfonsín (1983-1989), um país quebrado economicamente. 

Desde então, os militares nunca mais opinaram nem participaram das decisões políticas. Pelo menos até agora. 

Sobre as Malvinas, de modo mais específico, há muito que pode ser feito para melhorar a vida tanto dos argentinos como dos islenhos. 

É certo que há um artigo importante da atual Constituição argentina que afirma que é dever de todo mandatário nunca deixar de lutar pela soberania das ilhas. Todos os ex-presidentes e o atual jamais deixaram de reafirmar que defenderiam essa bandeira, a única que une a todos os argentinos, da esquerda à direita.

O caso é que a discussão pela soberania está travada num dilema difícil de romper. Se por um lado existe de fato uma resolução das Nações Unidas, dos anos 1960, de que ambos os países, Argentina e Reino Unido, deveriam negociar a questão da soberania das ilhas; ,de outro, o Reino Unido considera que essa decisão não tem mais vigência depois que, de fato, a Argentina invadiu as ilhas. Afinal, houve uma guerra, e a Argentina saiu derrotada. 

De lá para cá, houve diferentes posições dos governos argentinos com relação a como atuar diante das Malvinas. Por exemplo, na gestão de Carlos Saúl Menem (1989-1999), houve gestos de aproximação com o governo e a população da ilha, como a promoção de eventos entre os dois países, e os voos especiais para levar familiares de vítimas a finalmente visitarem a sepultura de seus filhos. Durante a ditadura, foi proibido tentar trazer os corpos dos argentinos mortos para serem enterrados no país. Eles estão, até hoje, num cemitério inóspito onde o vento não para de soprar. Nos anos 1990, foram realizados voos para levar esses familiares a conhecer as tumbas de seus seres queridos. 

Já no período kirchnerista, a coisa ficou mais difícil, pois Cristina Kirchner foi mais hostil aos islenhos e reivindicou as Malvinas de modo aberto em diversos fóruns. Os islenhos não ficaram quietos e fizeram um referendo apenas para provar ao governo argentino que queriam continuar a ser parte do Reino Unido. A proposta saiu vencedora com mais de 90% dos votos. 

Nos últimos anos, uma iniciativa ainda mais interessante foi levada adiante, o trabalho de identificação dos corpos no cemitério de Darwin, que antes não existia. Cada soldado morto e enterrado na ilha aparecia identificado apenas como “Soldado argentino, apenas conhecido por Deus”. Os argentinos, vanguardistas também no que diz respeito à antropologia forense, fizeram um trabalho de exumação e análise de DNA, e hoje a maioria das sepulturas leva o nome do soldado que lá está. As famílias foram levadas até as ilhas, e pela primeira vez puderam chorar nos túmulos de seus filhos e irmãos. 

Enquanto a questão do debate da soberania parece impossível de resolver _os islenhos se consideram originais das Falklands (como chamam as ilhas) e muitas famílias estão lá há mais de nove gerações_ gestos como esses são muito mais eficientes. 

Por exemplo, seria possível incrementar o acesso às ilhas, hoje apenas feito pelo Chile ou por um raro voo que sai de Río Gallegos. Todos os insumos e medicamentos que os islenhos precisam, ou vêm de Santiago ou de Londres.

Se viessem de Buenos Aires ou mesmo de São Paulo, custariam bem menos. Também nada impede que garotos das Malvinas possam estudar na Argentina, em vez de serem enviados ao interior da Inglaterra aos 17 anos para completar a faculdade, barateando os custos para o governo local, que hoje custeia toda a educação universitária dos nascidos nas Malvinas/Falklands. E os argentinos poderiam se beneficiar também em termos de ciência, pesca e eventos culturais e esportivos _tanto as ilhas como o continente adoram o futebol e o rugby.

Mais que de grandes decisões e negociações políticas para destravar a questão da soberania, ambas as sociedades, a Argentina e a dos habitantes das Falklands/Malvinas, poderiam trabalhar por um intercâmbio cotidiano, como ocorria antes da invasão das ilhas, beneficiando a ambas populações.

Usar a narrativa da Guerra para ganhar apoio político e, no caso de Milei, chamar os militares para ter um papel mais protagonista no governo, não parece ser o melhor caminho.

O post Guerra das Malvinas aproxima militares e Milei apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Defesa de Bolsonaro pede ao Supremo que passaporte seja devolvido https://canalmynews.com.br/politica/defesa-de-bolsonaro-pede-ao-supremo-que-passaporte-seja-devolvido/ Thu, 15 Feb 2024 03:32:49 +0000 https://localhost:8000/?p=42355 Apreensão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes

O post Defesa de Bolsonaro pede ao Supremo que passaporte seja devolvido apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
O ex-presidente Jair Bolsonaro, por meio de sua defesa, pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) devolva seu passaporte, que foi apreendido no âmbito da Operação Tempus Veritatis, que investiga a existência de uma organização criminosa que teria planejado um golpe de Estado no país.

Os advogados argumentam que a apreensão não preenche requisitos legais, por não ter sido demonstrado, segundo a defesa, risco real de fuga, por exemplo. Eles pedem que a retenção do passaporte seja substituída pela obrigação de pedir autorização para deixar o país por mais de sete dias.

No pedido, a defesa sustenta que Bolsonaro “desde o início do processo tem cooperado de maneira irrestrita com as autoridades, comparecendo pontualmente a todos os chamados e colaborando ativamente para o esclarecimento dos fatos”.

A apreensão do passaporte foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, a pedido da Polícia Federal e com aval da Procuradoria-Geral da República. Essa foi a única medida cautelar tendo Bolsonaro como alvo. Os demais investigados, incluindo militares de alta patente, também tiveram os passaportes apreendidos, bem como foram proibidos de se comunicar entre si.

A defesa do ex-presidente sustenta ainda que a retenção do passaporte viola o direito à locomoção e teria adquirido caráter de antecipação de pena. Para os advogados, Bolsonaro “está sendo tratado como culpado, não só por este Juízo como também pelos veículos de comunicação”.

Na petição, os advogados acrescentam que durante todo o ano de 2023 Bolsonaro precisou se ausentar do país apenas uma vez, para comparecer à posse do presidente argentino Javier Milei, e que avisou sobre a viagem ao Supremo com antecedência.

O post Defesa de Bolsonaro pede ao Supremo que passaporte seja devolvido apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
“O país não está à venda” foi o lema da paralisação na Argentina https://canalmynews.com.br/politica/o-pais-nao-esta-a-venda-foi-o-lema-da-paralisacao-na-argentina/ Thu, 25 Jan 2024 02:30:05 +0000 https://localhost:8000/?p=42143 Em primeira paralisação geral desde que Javier Milei assumiu a presidência, a maior central sindical do país convocou as pessoas para irem às ruas contra o "decretaço"

O post “O país não está à venda” foi o lema da paralisação na Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Protesto convocado pela maior central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), gera a primeira paralisação geral desde que Javier Milei assumiu a presidência. Com objetivo de manifestar contra a medida provisória que modifica leis trabalhistas e economia, o “Decretaço”, milhares de argentinos de classes sociais diversas, foram às ruas nesta quarta-feira (24/01).

Com início a partir do meio-dia e duração de 12 horas, a greve chegou a afetar transportes, serviços públicos e bancos – além de centenas de voos cancelados. Muitos comércios, porém, chegaram a funcionar normalmente. Os manifestantes marcharam em direção ao Congresso com o lema “o país não está à venda” na tentativa de pressionar paralmentares a não aprovarem as leis. O ato recebeu críticas de autoridades, como da ministra Patricia Bullrich quando afirmou em sua rede social que o país não para, são “as máfias que param”:

A crítica do governo Milei às manifestações foi feita através do porta-voz, Manuel Adorni, sobre a CGT estar do lado da história e que falta liberdade aos trabalhadores. Quanto às medidas sob protesto dos manifestantes, o governo argumenta que é para equilíbrio das contas públicas e redução da inflação, com meta de estabilizar a economia do país – que vive uma das suas piores crises da história recente.

Os detalhes sobre a notícia e o cenário político na Argentina, foram abordados no programa Segunda Chamada, que contou com a condução de Afonso Marangoni e participações dos jornalistas João Bosco Rabello, Marcos Magalhães e Sylvia Colombo, com o professor de enconomia do Ibmec, Renan Silva e com análises do ex-embaixador da Argentina no Brasil, Juan Pablo Lohlé.

Confira:

 

O post “O país não está à venda” foi o lema da paralisação na Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Milei diz que ajuste fiscal é única alternativa para a economia https://canalmynews.com.br/internacional/milei-diz-que-ajuste-fiscal-e-unica-alternativa-para-a-economia/ Mon, 11 Dec 2023 10:05:04 +0000 https://localhost:8000/?p=41719 "Hoje enterramos décadas de fracasso e disputas sem sentido. Hoje começa uma nova era na Argentina", afirma novo presidente

O post Milei diz que ajuste fiscal é única alternativa para a economia apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
O recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei, fez seu primeiro discurso na frente do Congresso Nacional, onde foi declarado presidente na manhã de ontem (10). Em suas primeiras palavras, ele destacou que se inicia um novo momento em seu país.

“Hoje começa uma nova era na Argentina. Hoje damos por terminada uma longa e triste história de decadência e começamos o caminho de reconstrução do país”, disse ele.

“Os argentinos, de forma contundente, expressaram uma vontade de mudança que já não tem retorno. Hoje enterramos décadas de fracasso e disputas sem sentido. Hoje começa uma nova era na Argentina, uma era de paz e de prosperidade, de crescimento e de desenvolvimento, de liberdade e de progresso”, destacou.

Para uma multidão de pessoas, que vestiam principalmente a camisa da seleção argentina, Milei falou por cerca de 30 minutos e enfatizou que será preciso paciência da população, porque o ajuste fiscal a ser feito deverá ser difícil no início.

“Não há alternativa possível que não seja o ajuste. Logicamente isso vai impactar no nível de atividade, emprego, salários reais e na quantidade de pobres e indigentes. Haverá inflação, é certo. Mas não é algo diferente do que ocorreu nos últimos 12 anos”.

“Há mais de uma década vivemos com essa inflação. Esse será o último momento ruim para começar a reconstrução da Argentina”, disse ele. “Depois desse ajuste macro que vamos impulsionar, a situação começará a melhorar. Haverá luz no final do túnel”, enfatizou.

Esse ajuste na economia, declarou Milei, será feito essencialmente sobre o setor público: “a única possibilidade é o ajuste. Um ajuste organizado, que entrará com força sob o Estado e não no setor privado. Sabemos que será duro”, falou.

Segundo o novo presidente, a Argentina viveu, em seus últimos anos, uma grave crise e uma grande inflação. “Nenhum governo recebeu uma situação pior do que estamos recebendo.”

“Lamentavelmente tenho que dizer uma vez mais: não há dinheiro.”

Emergência
Ele também destacou que a crise argentina não se dá somente no setor econômico, mas atinge também as questões de saúde, de educação e de segurança. “Em todas as esferas, a situação da Argentina é de emergência”.

No entanto, disse ele, seu novo governo vencerá essas dificuldades. “Sabemos que, a curto prazo, a situação vai piorar. Mas depois veremos os frutos do nosso esforço, tendo criado as bases para um crescimento sólido e sustentável. Sabemos que nem tudo está perdido. Os desafios que temos são enormes. Mas temos capacidade para superá-los. Não será fácil, 100 anos de fracasso não se desfazem em um único dia. Mas começam em um dia e hoje é esse dia”.

Ao final de seu discurso, Milei declarou ainda que não vai perseguir opositores. “A todos os dirigentes políticos e sindicais, nós os receberemos com braços abertos”, disse.

Após discursar, Milei seguiu  em carro aberto para a Casa Rosada, tendo sido saudado por diversos apoiadores que acenavam para ele nas ruas da capital argentina. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, enviou o chanceler Mauro Vieira para participar do evento.

 

O post Milei diz que ajuste fiscal é única alternativa para a economia apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Que fizeram de ti, Argentina? https://canalmynews.com.br/balaio-do-kotscho/que-fizeram-de-ti-argentina/ Sat, 09 Dec 2023 21:43:51 +0000 https://localhost:8000/?p=41713 Minha Buenos Aires querida, que saudade...

O post Que fizeram de ti, Argentina? apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Buenos Aires foi o destino da minha primeira viagem a outro país, em 1968, a serviço do Estadão, onde iniciara a carreira na grande imprensa um ano e meio antes. Era um “foca”, um principiante, como se diz na gíria das redações. Tinha 20 anos, e fiquei deslumbrado com esta cidade, então maravilhosa, principalmente à noite, com sua intensa vida cultural e boêmia.

E para lá voltaria inúmeras outras vezes, a trabalho ou a passeio com a família. A pauta era insólita: comprar o máximo de roupas e bugigangas em Buenos Aires e voltar para o Brasil de navio para denunciar os achaques na alfândega de Santos na hora de liberar as bagagens. Para justificar a viagem, fui fazer a cobertura de um torneio internacional de futebol, do qual participava o Santos, no auge de Pelé.

Registro no meu livro de memórias “Do Golpe ao Planalto – Uma vida de repórter”, lançado pela Companhia das Letras quando completei 40 anos de profissão (ano que vem, já serão 60…):

“Na mesma noite em que cheguei, andei pela cidade sem rumo, até cansar. Queria sentir como era estar fora do Brasil, ouvir as pessoas falando outra língua. Para mim, naquele momento, Buenos Aires era a metrópole do mundo. Era como se eu estivesse na Europa, que só conhecia de filmes. Comércio aberto e famílias inteiras passeando pelas ruas até altas horas, filas enormes nos teatros, casas de shows superlotados, comida maravilhosa”.

Muito tempo depois, nos anos 80 do século passado, voltaria para lá pela “Folha”, numa das muitas crises do governo de Isabelita Peron, em companhia do meu compadre Clóvis Rossi, um dos mais talentosos jornalistas da sua geração, quando o país já deva os primeiros sinais de decadência nos escombros deixados pela ditadura militar argentina, a mais feroz e longeva do continente.

*

“Depois de um dia de cão, encontrei Rossi no saguão do hotel.

_ Ricardinho, quebrou o pau em Córdoba e você tem que ir para lá agora. Não sei como, se vira.

_ Por que não vai você?, cheguei a lhe perguntar, mas ele alegou que tinha uma importante entrevista já marcada, para o dia seguinte, com o presidente do Senado, que lá também é o vice-presidente da República”.

Fui e voltei na noite seguinte, depois de rodar de táxi pela cidade para ver os estragos da rebelião contra o governo promovida na véspera. O motorista era um verdadeiro repórter, sabia tudo o que tinha acontecido e me levou nos lugares certos, quase não desci do carro, nem precisava. Para fazer certas reportagens, basta olhar e ouvir as pessoas certas, a tempo de voltar para Buenos Aires e transmitir a matéria de lá.

Essas lembranças me voltam à mente agora, na véspera da posse de Javier MIlei, o mais improvável presidente que a Argentina já teve, um “anarco-capitalista”, que se autodefine “libertário”. Até outro dia, era um palhaço na TV, onde falava sobre economia e já defendia a implosão do Banco Central.

Na verdade, trata-se de apenas mais um radical de direita da safra dos Trumps e Bolsonaros, um anti-sistema que promete refundar o país, como aconteceu aqui em 2018. Não por acaso, o capitão Jair Bolsonaro acompanhado de uma grande comitiva, é o convidado de honra para a posse, que por isso mesmo não terá a presença de Lula, o atual presidente brasileiro, atacado por Milei durante a campanha.

“Que fizeram de ti, Argentina?”, me pergunto no título, perplexo com a velocidade da decadência do país, em todos os campos político, econômico, social, cultural e, principalmente na autoestima de um povo que se gabava de ter sido um dos mais ricos do mundo, ao final da Segunda Guerra Mundial.

Sim, por muito tempo os argentinos tinham motivos para se orgulhar, considerar-se superiores aos vizinhos, prezar pelo garbo nos trajes, a excelência da sua gastronomia, dos vinhos e dos pulôveres de cashmere.

Eles levavam a sério essa história de ser o país “europeu” mais próximo do Brasil, o que me levou tantas vezes para lá. Não mais. A Argentina de Milei e seu parçaBolsonaro é hoje apenas mais um pobre país latino-americano, que vive de recordações, é motivo de chacota, e não mais de admiração.

Agora, já tem também seu maluco de estimação. Podemos prever, por experiência própria, no que isso vai dar. E não é bonito.

Vida que segue.

O post Que fizeram de ti, Argentina? apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
FIJ repudia privatização de estatais de comunicação da Argentina https://canalmynews.com.br/internacional/fij-repudia-privatizacao-de-estatais-de-comunicacao-da-argentina/ Thu, 23 Nov 2023 09:44:40 +0000 https://localhost:8000/?p=41393 Entidade também afirmou que apoiará os sindicatos locais do setor na defesa “do acesso à informação e emprego”

O post FIJ repudia privatização de estatais de comunicação da Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), organismo que reúne 600 mil jornalistas de todo o mundo, com presença em mais de 140 países, repudiou, nesta quarta-feira (22), as declarações do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, sobre a privatização dos veículos públicos de comunicação. A entidade também afirmou que apoiará os sindicatos locais do setor na defesa “do acesso à informação e emprego”.

Na última segunda-feira (22), Milei afirmou, já como presidente eleito, sua intenção de privatizar empresas estatais, mencionando a Televisión Pública, a Radio Nacional e a agência de notícias Télam. Em comunicado conjunto, diretores de veículos públicos de comunicação da Argentina afirmaram que as palavras de Milei “geram rechaço e preocupação, já que demonstram um grande desconhecimento do papel que [esses veículos] cumprem na construção democrática”.

O documento das emissoras públicas reafirma que os meios de comunicação públicos garantem a informação como um direito e não uma mercadoria, bem como a pluralidade, a diversidade e a inclusão em seu conteúdo, o mandato de serviço público estabelecido pelas leis vigentes e a soberania informacional e cultural. “Os meios de comunicação públicos são essenciais para o fortalecimento da vida democrática, da liberdade de expressão, da diversidade de vozes e da construção cidadã”.

Em diversas entrevistas como candidato, Javier Milei argumentou que os meios de comunicação públicos são “um ministério secreto de propaganda” e que “tudo o que puder estar nas mãos do setor privado, estará nas mãos do setor privado.”

Em nota, a FIP reafirmou apoio a todas as organizações reunidas na luta pela defesa dos meios públicos de comunicação. “Sua permanência no ecossistema mediático garante o direito do povo à informação com um critério de não obedecer às leis do mercado, apoiando uma agenda plural e nacional”, diz a entidade.

O post FIJ repudia privatização de estatais de comunicação da Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Lula diz que não precisa gostar de presidentes dos países vizinhos https://canalmynews.com.br/brasil/lula-diz-que-nao-precisa-gostar-de-presidentes-dos-paises-vizinhos/ Wed, 22 Nov 2023 11:46:42 +0000 https://localhost:8000/?p=41361 "Como não pode ter supremacia de um sobre o outro, a gente tem que chegar a um acordo. Essa é a arte da democracia", disse

O post Lula diz que não precisa gostar de presidentes dos países vizinhos apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta terça-feira (22) que outros presidentes não precisam ser amigos dele, mas que é possível chegar a um acordo.

“Eu não tenho que gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela. Ele não tem que ser meu amigo. Ele tem que ser presidente do país dele, eu tenho que ser presidente do meu país. Nós temos que ter políticas de Estado brasileiro e ele, do Estado dele”, disse Lula.

“Nós temos que sentar à mesa, cada um defendendo os seus interesses. Como não pode ter supremacia de um sobre o outro, a gente tem que chegar a um acordo. Essa é a arte da democracia: a gente ter que chegar a um acordo”, completou.

A declaração foi dada no Palácio Itamaraty, em Brasília, em discurso na cerimônia de formatura de diplomatas brasileiros no Instituto Rio Branco, escola diplomática do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

No discurso, Lula disse que aos chefes de Estado de países da América do Sul aconselharia que, em vez de reclamarem dos problemas políticos, devem tentar resolvê-los com diálogo e aprender a conviver com as diferenças. “Temos que ser inteligentes e tentar resolver, tentar conversar, tentar fazer com que as pessoas aprendam a conviver democraticamente na adversidade, chegar a um acordo.” O presidente valorizou a capacidade de negociação e convencimento, e em alguns momentos, a de ceder nas relações para chegar a um acordo.

Ainda sobre a América do Sul, o presidente Lula lembrou da criação do Mercosul, em 1985, pelos presidentes do Brasil, José Sarney, e da Argentina, Raúl Alfonsín, para fortalecimento do comércio na América do Sul. E ainda apontou outro feito que considera importante para o continente: a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em 2008, em um momento da história em que os países estavam irmanados.

Leia também
Lula tenta avançar em acordo entre Mercosul e União Europeia

Lula considera que, em um período de 16 anos, a região viveu seu melhor momento. Mesmo que os países sul-americanos pensassem política e ideologicamente de formas distintas, o presidente entende que havia uma união regional. “Éramos irmanados porque, em um determinado momento da nossa história, o povo elegeu um agrupamento de dirigentes que tinha noção de que era preciso que a gente construísse um grupo, um conjunto de países que resolvesse se fortalecer para negociar com aqueles que eram mais fortes do que nós”, citando os Estados Unidos, a China, a União europeia e o Japão.

Após dois dias da vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina, Lula mencionou a relação que o Brasil tem com o país vizinho, desde o primeiro ano como mandatário do Brasil.

“A gente fazia muita reunião com a Argentina, porque a Argentina é um país parceiro. O Brasil tem uma relação extraordinária com a Argentina, que foi o primeiro país que eu visitei para dar uma demonstração, em 2003, de que a gente ia ter uma forte política para América do Sul”, relembrou Lula.

Brasil mais altivo
Aos formandos, Lula defendeu que o Brasil precisa de uma política externa mais ativa e mais altiva e confessou que tem orgulho da diplomacia brasileira.

Lula fez referência também às acusações de que o Brasil teria complexo de vira-lata, de não ter alta autoestima; não defender o que acredita e que se subordinaria a vontades de países tidos como mais importantes.

“Me baixou uma coisa que acho que tem que nortear vocês. É não esquecer o que vocês são, não esquecer o que vocês querem. Porque a gente não compra nem honra nem caráter em shopping. A gente traz de família, a gente traz de berço”, aconselhou o presidente que chorou ao falar aos novos diplomatas.

O post Lula diz que não precisa gostar de presidentes dos países vizinhos apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Lula está certo: não tem nada que ligar para Javier Milei, um bufão malcriado e provocador https://canalmynews.com.br/balaio-do-kotscho/lula-esta-certo-nao-tem-nada-que-ligar-para-javier-milei-um-bufao-malcriado-e-provocador/ Tue, 21 Nov 2023 17:49:38 +0000 https://localhost:8000/?p=41349 No mesmo dia em que foi eleito, Milei fez mais uma provocação, ao fazer de Bolsonaro o primeiro convidado oficial para a sua posse

O post Lula está certo: não tem nada que ligar para Javier Milei, um bufão malcriado e provocador apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Na falta de assunto melhor, comentaristas de TV, que se autonomearam ombudsmen do presidente, agora resolveram cobrar uma ligação de Lula para cumprimentar Javier Milei pela vitória na eleição argentina.

Para quê? Para falar o que com esse tipo esquisito e perigoso que se aconselha com cachorros, promete privatizar tudo, explodir o Banco Central para dolarizar a economia, e que o atacou várias vezes durante a campanha para avisar que não queria conversa com o presidente brasileiro?

No mesmo dia em que foi eleito, Milei fez mais uma provocação, ao fazer do seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, de triste memória, o primeiro convidado oficial para a sua posse no dia 10 de dezembro. É mais ou menos como convidar a vizinha para um churrasco junto com o ex-marido.

Lula faz muito bem em não telefonar, não citar o nome do dito cujo na nota em que saudou a democracia argentina nem ir à sua posse. As relações entre os dois países serão tratadas daqui em diante por diplomatas, enquanto o presidente argentino eleito não se desculpar por suas agressões gratuitas, como bem cobrou o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta.

Respeito é bom e a gente gosta, quaisquer que sejam as divergências pessoais e políticas. Nós hoje tempos boas relações com o mundo inteiro e bem sabemos o que aconteceu aqui durante quatro anos quando elegeram um elemento semelhante, que quase destruiu o país e tornou o Brasil um pária mundial.

Ninguém sabe o que vai acontecer com a Argentina nos próximos dias e meses nas mãos de um ultraliberal celerado, que se diz o primeiro anarco-capitalista eleito no mundo, mas não passa de um extremista de direita mal-ajambrado. Nem sabe o eleito, nem quem votou nele.

Faz muito bem Lula em esperar para ver no que vai dar a alucinação coletiva em que nossos vizinhos embarcaram no último domingo. Ao contrário do que vimos em outras eleições, em que multidões saiam às ruas para comemorar a vitória dos seus candidatos em Buenos Aires, desta vez só havia muita gente em frente ao hotel onde Milei estava hospedado e fez seu primeiro discurso.

O mais animado era ele mesmo, falando frases desconexas de improviso, com jargões da campanha, depois de ler o discurso para seus seguidores dentro do hotel, em que prometeu democracia, direitos e liberdade, palavras vazias repetidas na boca da extrema-direita mundo afora.  

Falar o que com esse cidadão, um bufão malcriado e provocador?

Vida que segue.

Assista:

 

O post Lula está certo: não tem nada que ligar para Javier Milei, um bufão malcriado e provocador apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Lula tenta avançar em acordo entre Mercosul e União Europeia https://canalmynews.com.br/brasil/lula-tenta-avancar-em-acordo-entre-mercosul-e-uniao-europeia/ Tue, 21 Nov 2023 09:10:06 +0000 https://localhost:8000/?p=41322 Andamento foi tema da conversa entre Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen

O post Lula tenta avançar em acordo entre Mercosul e União Europeia apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
O andamento das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia foi o tema da conversa por telefone entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, na tarde desta segunda-feira (20).

Segundo o Palácio do Planalto, a conversa durou cerca de meia hora e tratou dos pontos finais do acordo entre os dois blocos. “Os dois concordaram em acompanhar de perto o trabalho dos negociadores nos próximos dias e deverão voltar a se encontrar na próxima semana, durante a COP28, em Dubai, Emirados Árabes”, informou a assessoria.

A finalização do acordo também foi tratada recentemente em conversa entre Lula e o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, que ocupa a presidência rotativa do bloco europeu.

A presidência do governo brasileiro no Mercosul vai até o dia 7 de dezembro, três dias antes da posse do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, que já defendeu a saída da Argentina do bloco econômico. Depois, Milei recuou da ideia e passou a defender apenas mudanças no Mercosul, que reúne também Uruguai, Brasil e Paraguai.

Aprovado em 2019, após 20 anos de negociações, o acordo Mercosul-UE precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. A negociação envolve 31 países.

 

O post Lula tenta avançar em acordo entre Mercosul e União Europeia apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Javier Milei é o novo presidente eleito da Argentina https://canalmynews.com.br/internacional/javier-milei-e-o-novo-presidente-eleito-da-argentina/ Sun, 19 Nov 2023 23:56:24 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=41294 Com vitória reconhecida pelo adversário, Massa, antes dos números oficiais

O post Javier Milei é o novo presidente eleito da Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Javier Milei foi eleito neste domingo (19) presidente da Argentina, com reconhecimento da vitória por Massa antes dos números oficiais.

No dia 10 de dezembro de 2023, Milei toma posse.

Confira cobertura ao vivo do Canal MyNews:

O post Javier Milei é o novo presidente eleito da Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Cifra de desaparecidos volta ao debate político na Argentina https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/cifra-de-desaparecidos-volta-ao-debate-politico-na-argentina/ Thu, 05 Oct 2023 12:20:39 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40306 No último debate eleitoral argentino, no domingo (1), o candidato de ultradireita Javier Milei reacendeu um debate que ocorre na Argentina desde os anos 1970

O post Cifra de desaparecidos volta ao debate político na Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
No último debate eleitoral argentino, no domingo (1), o candidato de ultradireita Javier Milei reacendeu um debate que ocorre na Argentina desde os anos 1970, o da cifra de desaparecidos durante a ditadura militar (1976-1983). Milei afirmou que não foram 30 mil as vítimas do regime, mas sim 8.753.

No dia seguinte, defensores dos direitos humanos, políticos e analistas trataram de dar continuidade a esse debate tão passional que polariza os argentinos. De um modo geral, a direita sempre tenta diminuir essa cifra, enquanto a esquerda segue aferrada ao número de 30 mil.

Durante a gestão de Mauricio Macri (2015-2019), o embate também ocorreu, pois este se posicionou contra a política de repassar verba às associações de direitos humanos, como as Mães e as Avós da Praça de Maio. A pressão da sociedade foi tanta que Macri se moderou e não tocou mais no tema. Sua posição, porém, levou muitos a novamente questionarem a cifra e a pedir o fim dos chamados “currais” de direitos humanos, ou seja, das organizações que ainda buscam a verdade e a reparação dos crimes da ditadura _e a quem a direita em geral é hostil.

Naquela época, porém, Macri não pôde avançar muito com essa posição ao sentir o grande risco de perder apoio político. Afinal, o tema das vítimas do regime ainda é sensível e comove a boa parte da sociedade argentina.

Milei, porém, sem papas na língua, como sempre, volta com essa ideia de “deixar os anos 1970” para trás. Muito mais agressivo do que Macri tentou ser neste tema, Milei não só afirmou que a cifra de desaparecidos é bem menor que a dos 30 mil. Também reforçou que considera a política de direitos humanos um “curral” com finalidades eleitoreiras, e que “nos anos 1970, o que ocorreu foi uma guerra”, com mortes dos dois lados.

Comecemos pelo número de vítimas, o que de fato se sabe sobre isso? Milei está correto ao afirmar que não foram 30 mil os desaparecidos. Este número, que não foi calculado a partir de nenhuma base empírica, na verdade se tratou de um discurso forjado por argentinos exilados na Europa, fugidos da perseguição política, para chamar a atenção para a repressão que corria solta em seu país.

A primeira contagem confiável dos desaparecidos surgiu com os trabalhos da Conadep (Comissão Nacional de Desaparecidos), instituída pela democracia, no governo de Raúl Alfonsín (1983-1989), cuja principal porta-voz é a ativista Graciela Fernández Meijide, mãe de Pablo, um rapaz então de 17 anos, que foi arrancado de seu quarto, diante de todos os familiares, e que nunca mais voltou.

A Conadep contabilizou, nos anos 1980, com a ajuda de outras instituições de direitos humanos, 7.954 casos de pessoas desaparecidas, com nome, sobrenome e circunstância do desaparecimento.

Essa lista, com o tempo, foi sendo aumentada com a revelação de outros casos que vieram à tona nos primeiros anos do período democrático. Logo, o número ultrapassou os 10 mil desaparecidos.

Porém, essa lista sempre foi alimentada por relatos ou denúncias de familiares ou amigos que podiam dar o nome e o sobrenome de alguém próximo que perderam. Mas não contabiliza os sumiços que não foram relatados por medo de uma possível retaliação ou porque, em muitos casos, eliminou-se toda a família na repressão e não sobrou quem pudesse fazer a denúncia.

Há ainda mais indícios de que o número inicial, da Conadep, não era o mais correto. Por exemplo, um deles surgiu de documentos que tiveram o sigilo derrubado por Washington nos últimos quinze anos.

Tratava-se de uma correspondência entre militares argentinos e chilenos, conversando no âmbito da Operação Condor, em que os primeiros relataram aos colegas do país vizinho que já haviam “eliminado 22 mil pessoas ligadas à subversão”, entre os anos de 1975 e 1978. Ou seja, uma informação que veio da boca dos próprios responsáveis pela repressão.

Portanto, nem 30 mil, nem muito menos 8 mil. Há consenso entre historiadores hoje de que o número real deve estar em torno de 20 ou 25 mil. É importante esclarecer a verdade e contar a história como ela é. Mas lembremos que, nesse estica-e-puxa em que vivem esquerda e direita argentinos, uns jogando a cifra de desaparecidos para cima e outros, para baixo, não há por onde justificar os horrores da ditadura. Se fossem mil ou 500 ou 100 os desaparecidos, por exemplo, o período continuaria sendo nefasto.

Quanto à afirmação de Milei sobre ter havido uma “guerra” nos anos 1970, e que não só os militares que tivessem cometido “abusos” deveriam ser punidos, mas também “os montoneros e o ERP (guerrilhas marxistas urbanos)”, existe uma verdadeira má-fé.

Milei praticamente repetiu letra por letra uma frase do comandante da Marinha da ditadura, Emilio Massera, que dizia que “houve uma guerra, e nessa guerra, forças do Estado cometeram excessos”.

Milei, como muitos antes dele, crê que a violência política deve ser interpretada da mesma forma, como se os crimes de civis pudessem ser equiparados a crimes de Estado.

Milei passa por cima de tratados internacionais, dos quais a Argentina é signatária. O Estatuto de Roma, por exemplo, estabelece que apenas a violência do Estado é um crime de lesa humanidade e que por isso não prescreve nunca, e que delitos cometidos por civis prescrevem depois de um tempo.

Do jeito que Milei expõe, não teria havido condenação a montoneros ou membros do ERP, o que não é verdade. Nos anos 1980, após a redemocratização, dezenas deles foram presos. Após os indultos concedidos por Carlos Menem (1989-1999), a maioria foi liberada, assim como muitos cabeças das Forças Armadas. Quando os julgamentos foram retomados, durante o período dos Kirchner, já era tarde demais para julgar ex-guerrilheiros, por conta da prescrição de seus delitos e o foco ficou nos militares, porque seus crimes são considerados de lesa humanidade.

Mas, talvez, o pior erro de Milei tenha sido dizer que “não há mais que discutir a história, viemos para governar”. Um povo sem memória fica vulnerável a incorporar discursos negacionistas e a perder seu senso crítico sobre os rumos de seu país.

O post Cifra de desaparecidos volta ao debate político na Argentina apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Vice de Milei ameaça conquistas de direitos humanos https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/vice-de-milei-ameaca-conquistas-de-direitos-humanos/ Wed, 06 Sep 2023 16:25:34 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=39415 Na verdade, Villarroel ganhou projeção muito tempo antes de Milei, ao comandar uma organização, a CELTYV, que caminha contra a corrente da exemplar defesa dos direitos humanos de que a Argentina pode se orgulhar

O post Vice de Milei ameaça conquistas de direitos humanos apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>
Muito se vem falando do candidato ultralibertário Javier Milei, na Argentina. Pouco, porém, se debate sua fórmula para a vice-presidência, a deputada de extrema-direita Victoria Villarroel. As eleições ocorrem no próximo dia 22 de outubro.

Não se trata de uma desconhecida da população argentina. Na verdade, Villarroel ganhou projeção muito tempo antes de Milei, ao comandar uma organização, a CELTYV, que caminha contra a corrente da exemplar defesa dos direitos humanos de que a Argentina pode se orgulhar.

O CELTYV (Centro de Estudios Legales sobre el Terrorismo y sus Víctimas) se dedica a recolher dados de “vítimas da guerrilha”, e pede reparações a todos aqueles que foram mortos por ações de grupos que resistiram contra a ditadura, como Montoneros e o ERP (Exército Revolucionário do Povo), os principais grupos guerrilheiros da época.

Os argumentos que usa Villarroel são mentirosos. Primeiro porque não é verdade o que afirma ao dizer que governos democráticos só se propuseram a julgar os militares. Nos primeiros anos pós-ditadura, durante a gestão de Raúl Alfonsín, foram condenados 62 guerrilheiros que haviam cometido assassinatos. Em 1973, quando o então presidente Héctor Cámpora deu anistia a guerrilheiros, havia pelo menos 500 presos.

É possível questionar essas anistias, é claro, mas aí o que conta é o fator tempo. A Argentina é signatária do Estatuto de Roma, que afirma que os crimes cometidos por civis prescrevem depois de um tempo, enquanto a violência do Estado, não. Seus crimes são considerados de lesa humanidade e portanto não prescrevem. Pois Villarroel chamou a atenção para o que pretende levar adiante caso seja eleita ao lado de Milei, durante uma sessão na legislatura de Buenos Aires, nesta semana.

Em seu discurso, Villarroel, que é filha de militares, disse que o país necessita ter uma “memória completa” do que ocorreu, e que, por isso, seria necessário olhar para “as outras vítimas” (as dos guerrilheiros). Propôs que se retomassem julgamentos, que se oferecessem anistia a genocidas presos e que fossem interrompidas as ajudas do governo para o funcionamento das organizações de direitos humanos que buscam vítimas da repressão há mais de 40 anos, como as Mães e as Avós da Praça de Maio.

O público lotou a sessão e a aplaudiu. Porém, do lado de fora, uma multidão apareceu para protestar e teve de ser separada do prédio da legislatura por barras de metal.

Villarroel, 48, visita velhos comandantes nas prisões e garante que lutará para que suas penas sejam canceladas. Tem o apoio de vários familiares de vítimas, como o de Arturo Larrabure, filho do militar Argentino Del Valle Larrabure, que foi mantido sequestrado pelo ERP por um ano antes de ser assassinado, e de Claudia Rucci, filha do sindicalista José Ignacio Rucci, um assessor de Perón, que foi morto pelos montoneros em 1974.

O que não se conta sobre este famoso assassinato é que seus executores foram todos presos, e na época o próprio Perón repudiou o ocorrido.

Os ânimos do lado de fora da legislatura mostram que esse enfrentamento proposto por Villarroel será um fator mais a dividir a sociedade argentina, entre as outras ideias delirantes de Milei com relação à economia e a reorganização do Estado. Os manifestantes gritavam, entre outras coisas: “Não se homenageia o fascismo, se combate” e “Nunca Mais”.

As ideias negacionistas de Villarroel mostram um dos graves perigos desta candidatura. O de que haja um total retrocesso numa política de direitos humanos que foi levada como prioridade por quase todos os governos democráticos do país, independentes de seus partidos, e que é um exemplo para os outros países da região. E tudo isso ocorre justamente no ano em que a Argentina completará 40 anos de democracia.

O post Vice de Milei ameaça conquistas de direitos humanos apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

]]>