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2021: o ano das vacinas

Com a imunização de boa parte da população, os brasileiros salvaram milhões de vidas, deram algum alívio à economia e permitiram uma volta das atividades presenciais

por Luiz Vicente Rizzo em 06/01/22 13:29

Chegamos ao fim de 2021 com quase 80% da população brasileira vacinada contra a covid-19 e, mais importante ainda, quase 70% com ao menos duas doses. O brasileiro, felizmente, gosta de vacinas.

O resultado do mundo é bem pior, com quase 60% com uma dose e menos de 50% com as duas doses. Ao olharmos a taxa de mortalidade por grupo na Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, as pessoas não vacinadas — com sequer uma dose — morrem entre 5 a 12 vezes mais do que as vacinadas com pelo menos duas doses, dependendo do momento da pandemia nos dois países. Quanto maior for a mortalidade, maior será a disparidade entre os grupos e isto é fácil de entender: nos momentos mais críticos, o número de mortos entre indivíduos vulneráveis é diluído.

Muito se falou sobre estas vacinas, mas a maior parte veio de quem nada entende de vacinas, vacinação, saúde, história. Aliás, pessoas que não parecem entender de nada, mas que fazem de conta que entendem de tudo. O importante é que as vacinas salvaram milhões de vida, deram algum alívio para a economia e permitiram alguma volta das atividades presencias.

Vacina

Infelizmente, a velocidade de vacinação não foi a mesma em todos os países, seja por problemas de logística, como visto na África, ou a falta de “sei lá o quê” na Europa e nos Estados Unidos, onde sobram vacinas e cerca de 30% a 40% da população se recusa a receber os imunizantes disponíveis. Problemas de logística, e de lógica, estão permitindo que surjam as variantes — agora com a vacina como uma força evolutiva para o vírus. Se não resolvermos logo estas questões, é possível que apareçam variantes mais resistentes às vacinas. A Ômicron, por exemplo, parece ser o início de uma destas estirpes, embora, felizmente, tenha se mostrado mais benigna que as antecessoras.

O incrível sobre as vacinas é que elas são vítimas do próprio sucesso porque, ao serem extremamente eficientes contra doenças, como a poliomielite, e terem quase a erradicado, os pais de hoje não veem a importância em vacinar os filhos. Eles não veem pelas ruas crianças caminhando com dificuldade ou, ainda, as alas de hospitais com os “pulmões de aço” (ventilador de pressão negativa que permite a respiração de pessoas com paralisia dos músculos, sequelas da poliomielite). Eles não conseguem entender que foram as vacinas que alcançaram isto. Infelizmente, assim como vemos atualmente, a falta de percepção trará um futuro no qual estes cenários voltarão a ser realidade.

O mesmo acontece com o sarampo. O sucesso da vacina tirou da frente o exemplo da doença que induzia os pais à ação, e permitiu que surgisse um outro tipo de grupo: os anti-vaxxers (antivacinas). Muitos deles estão vivos por terem sido vacinados quando crianças, mas elas se apegam à exceção para defender o indefensável, ou por acharem que as vacinas são um “mal”. Por qualquer medida, número de eventos adversos, gravidade ou gravidade versus efetividade, as vacinas são a intervenção médica mais segura que conhecemos (obviamente, se não levarmos em conta os placebos que alguns propõe como intervenções médicas sem qualquer prova de que funcionam).

Tomemos por base a vacina de febre amarela: um evento adverso grave a cada 200 mil a dois milhões de doses. No pior número descrito — um problema a cada 200 mil doses —, o imunizante é mais de 20 vezes mais seguro que a aspirina. Essa mesma, a medicação que você toma quando está com dor de cabeça. Enquanto isso, a mortalidade da febre amarela está entre 30% a 90% dos infectados. De forma direta: algo que pode salvar a sua vida é vinte vezes mais seguro que aquilo que você toma quando está de ressaca. Falta inteligência no debate sobre as vacinas.

É claro que elas têm efeitos colaterais e podem causar eventos adversos graves, mas é certo também que elas são mais seguras que quase qualquer outra coisa que realmente funciona que você toma ou dá para os seus filhos.


Quem é Luiz Vicente Rizzo?

Luiz Vicente Rizzo é diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, Docente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e Pesquisador 1A do CNPq.

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