Para Deysi Cioccari, a continuação do bolsonarismo acontece através dos ministros mais próximos do presidente, que devem deixar o governo nos próximos dias para disputar as eleições.
por Julia Melo em 18/03/22 15:22
Presidente Jair Bolsonaro e ministros de estado em cerimônia de realizada em março deste ano. Foto: Marcelo Camargo (Agência Brasil)
Bolsonarismo: “‘Ministérios ‘tampões'”. É assim que o presidente Jair Bolsonaro (PL) define como vai ficar pelo menos nove pastas do seu governo após a saída de seus ministros e aliados, que entram no período de pré-campanha eleitoral. Eles têm até dois de abril para a desincompatibilização, a saída do governo para concorrer a algum cargo.
“Por mais que alguns desses nomes [de ministros] não se elejam, a tendência é de que o bolsonarismo continue sim […] A gente ainda vai falar de bolsonarismo nos próximos quatro anos, mesmo que mude o presidente ou algum desses governantes”, afirmou a cientista política Deysi Cioccari. Especialista nos discursos de estratégias do presidente da República, Cioccari deu entrevista ao Café do MyNews nesta sexta (18) sobre as candidaturas dos ministros e como o governo fica com as mudanças.
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Em fevereiro, Bolsonaro afirmou que a busca pelos novos ocupantes não envolve grande “negociação política”. “Tampão” é a expressão usada para falar que substitutos vão assumir os ministérios temporariamente.
Se falta negociação política na busca por substitutos, sobra para acertar o futuro dos ministros que estão de saída. Veja o que é esperado para cada um deles:
Ministros de Bolsonaro nas eleições
Não são ministros, mas representam a ala ideológica do bolsonarismo:
A oposição está unida pelo “Fora Bolsonaro” mas o bolsonarismo e sua agenda de comportamento e costumes devem seguir, seja através dos ministros que podem se distribuir no Congresso, seja por outros candidatos apoiados pelo presidente.
Na lista dos ministros que devem se desincompatibilizar, estão alguns dos mais populares. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, é personagem importante para a ala ideológica e evangélica, assim como Onyx Lorenzoni, do Trabalho e Previdência. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, é bem avaliada pelo Congresso, em especial pela bancada ruralista – da qual já foi líder antes de entrar para o governo.
A saída desses nomes da Esplanada dos Ministérios, segundo Cioccari, não enfraquece o governo e fortalece o presidente em outras frentes. “Tem uma prerrogativa do presidente, que acaba favorecendo quem está no poder. A gente tem visto isso com Bolsonaro, liberando emendas e o Auxílio [Brasil] de R$ 400, ele usa dessas prerrogativas. Então a pauta de costumes dele, a pauta do bolsonarismo, vai ser difundida muito mais com esses pré-candidatos na tentativa de ocupar o Senado, os governos dos estados, Câmara dos Deputados”, afirmou a cientista política.
E apesar do desgaste político sofrido pelo presidente ao longo da pandemia, seus ministros não saem em desvantagem – mesmo nos casos em que não são favoritos nas disputas em que devem entrar.
“O populismo – que é o bolsonarismo – é enraizado num movimento de massa que está descontente com uma elite partidária. E existe uma grande parte da população que está descontente com a antiga elite partidária que era a esquerda então esse bolsonarismo deve continuar”, comentou Deysi.
Nesse momento pré-eleitoral, o nome que mais desponta é o de Tarcísio de Freitas, ministro carioca e pré-candidato ao governo de São Paulo. Ele já tem 9% de intenção de voto na pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira (17), sobre as eleições na capital paulista. Só está atrás de Fernando Haddad (PT), que pontua com 24% e de Márcio França (PSB), com 18%. Em quarto lugar está Guilherme Boulos (Psol), 7%.
Para Cioccari, outro ministro que chega forte à disputa estadual é Onyx Lorenzoni. Ele tenta ocupar o cargo de governador do Rio Grande do Sul.
Deysi Cioccari explicou que o Brasil sempre teve traços fortes de conservadorismo, o que é possível ver no Congresso, mas Bolsonaro fez esse cenário mudar: “até então a gente não tinha um representante desse conservadorismo que fosse tão forte como é hoje o presidente. […] Vale lembrar que mesmo quando tivemos um presidente de direita, o Fernando Henrique Cardoso, não tínhamos uma pauta de costumes tão forte”.
De acordo com a análise de Cioccari, que estudou os discursos que Bolsonaro fez nos 27 anos em que foi deputado federal, ele não vê um cenário em que não será reeleito. A distribuição dos ministros para outros cargos não seria, então, um sintoma de que o presidente se sente ameaçado. Para a cientista política, é parte de um movimento natural de final de mandato.
Não é que ele pense que não haverá um segundo mandato e por isso tenta “salvar” seus aliados, ao contrário. Ele acredita que encontra facilmente outros nomes para compor ministérios para os possíveis próximos quatro anos.
Assista a análise completa de Deysi Cioccari no Café do MyNews desta sexta (18):
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