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Negro e ativista

Renato Freitas, cassado por ser negro

Renato Freitas, vereador da cidade de Curitiba, teve seu mandato cassado por ser negro e ativista. O vereador foi um dos organizadores de um protesto pela morte do congolês Moïse Mungenyi Kabagambe.

por Aniello Olinto Guimarães Greco Junior em 02/07/22 08:07

Renato Freitas, vereador da cidade de Curitiba, teve seu mandato cassado no dia 22 de junho de 2022, por ser negro e ativista.

O vereador foi um dos organizadores de um protesto pela morte do congolês Moïse Mungenyi Kabagambe. Moïse Mungenyi Kabagambe, foi amarrado e espancado até a morte em praça pública em janeiro deste ano. Um negro africano amarrado e espancado até a morte em praça pública do Rio de Janeiro em 2022.

Renato Freitas, entre outros, escolheu a Igreja do Rosário de Curitiba para a realização do protesto. O local foi escolhido devido a seu simbolismo histórico. Originalmente naquele local ficava a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, construída ainda na época da escravidão. Naquela época negros não podiam frequentar a mesma Igreja que os homens livres. Em 1931 a Igreja erguida por escravos para escravos foi demolida, e substituída pelo prédio atual. Mas ficou o símbolo histórico de como tentamos, sem sucesso, apagar o histórico escravagista brasileiro.

O protesto iniciou-se nas escadarias da Igreja, durante a celebração de uma missa. Após o fim da missa, os manifestantes entraram por uma porta lateral, fizeram seus gritos de protesto, e sairam ordenadamente. Nenhum rito religioso foi interrompido, nenhuma porta foi forçada, nada foi quebrado. Apesar do claro incômodo gerado pelo protesto, tudo se resumiu a isto, um incômodo.

Mas nada é simples no Brasil após 2018. Imagens sem contexto de manifestantes com bandeiras vermelhas e gritos de guerra dentro de uma Igreja foram compartilhadas em tom de denúncia. Era uma clara mostra da tão falada cristofobia dos comunistas vermelhos.

Seja por conveniência política, por racismo ou por fanatismo religioso a Câmara de Vereadores viu neste protesto motivo suficiente para a cassação do mandato de Renato Freitas. Durante a votação que determinou a perda do mandato o Padre Luis Hass, sacerdote que estava na Igreja durante o protesto, esteve junto com Renato Freitas manifestando sua solidariedade com o vereador. Ou seja, sequer o suposto invadido considerou o protesto uma invasão.

Mas o estrago da rede do ódio já estava feito. Eram manifestantes negros de bandeiras vermelhas trazendo para dentro do templo cristão a política que na verdade sempre fez parte da história daquele templo.

Os mesmos grupos cristãos que aceitam que o presidente discurse em meio a seus cultos, e fazem orações em eventos políticos se sentiram insultados por que outros cristãos usem um espaço repleto de história para manifestar uma visão política diferente.

Os mesmos cristãos que aceitam um ministro que imprime Bíblias com sua foto como meio de propaganda política, e que pede orações como reação a sua prisão preventiva. Os mesmos cristãos que aceitam e aplaudem um presidente que afirma que se Jesus pudesse compraria uma pistola. Ou que igrejas promovam uma rifa de um rifle.

A arma, o discurso da violência, o uso da fé como cortina de fumaça de desmandos políticos, isto é liberdade religiosa. Já negros soltarem seu grito de revolta em um templo que historicamente era deles, isto é cristofobia.

Negros entrarem em uma Igreja protestando contra um espancamento seguido de morte é cristofobia. Já políticos usarem da glossolalia para sugerir que o Espírito Santo esta interferindo na escolha dos Ministros do STF é tolerado e aplaudido.

Renato Freitas, vereador da cidade de Curitiba, teve seu mandato cassado no dia 22 de junho de 2022, por ser negro e ativista. E porque alguns abusadores da fé querem se colocar como vítima de uma cristofobia inexistente para impor seu ódio e preconceito.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Aniello Olinto Guimarães Greco Junior?

Servidor público concursado do Tribunal Superior do Trabalho, Aniello Greco passou tempo demais na universidade, sem obter diploma. Já fingiu ser jogador de xadrez, de poker, crítico de cinema, sommelier de cerveja. Sabe de quase tudo um pouco, e quase tudo mal.

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