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Pequeno Glossário Político: Anarquismo, Socialismo, Comunismo e Social-Democracia

Conheça as ideologias políticas que surgiram em resposta as democracias liberais.

por Aniello Olinto Guimarães Greco Junior em 15/08/22 11:30

Esta é a quarta parte do meu Pequeno Glossário Político. Apesar de não ser necessária a leitura das partes anteriores para entender esta parte, sem dúvida elas darão um contexto mais amplo. Então sugiro a leitura da primeira, segunda e terceira partes.

Aqui analisaremos as ideologias políticas que surgiram em resposta as democracias liberais. Após a Revolução Gloriosa, a Independência Americana e a Revolução Francesa tivemos a propagação dos ideias de República, Democracia, Direitos Humanos Universais e do liberalismo. Mas isto também se traduziu no colonialismo, no imperialismo, no tráfico internacional de escravos, e na criação de uma enorme desigualdade econômica e social entre trabalhadores e capitalistas. Estas incoerências e desigualdades acabaram por criar uma série de movimentos contestatórios.

Provavelmente o primeiro deles é uma espécie de irmão radical do liberalismo. O anarquismo pega como base a ideia liberal de que o Estado tem a tendência de controlar e reprimir as liberdades individuais e leva para o extremo. O anarquista defende que toda hierarquia é uma forma de dominação, e por isto defende o fim das relações hierárquicas, sejam elas econômicas, sociais, religiosas ou culturais. Em especial o anarquista vê o Estado como a dominação do homem pelo homem. Em lugar das organizações hierárquicas o anarquismo propõe a autogestão, a livre associação e o trabalho comunitário. O objetivo final do anarquismo é a construção de uma sociedade libertária,  sem estado, classes econômicas, castas sociais ou outras formas de dominação.

Junto ao anarquismo surge também o socialismo. Para o socialista as desigualdades e incoerências da sociedade capitalista se deve a propriedade privada dos meios de produção. A solução para as contradições capitalistas seria a socialização dos meios de produção, ou seja, o controle comunitário destes. Importante destacar que não se trata do fim de toda e qualquer propriedade individual, mas sim a propriedade privada dos meios de produção. Em uma sociedade socialista você pode, por exemplo, ter o seu apartamento e a sua televisão, mas ninguém seria dono das indústrias que produzem estes bens materiais.

Junto ao socialismo temos também o comunismo. Durante muito tempo os dois termos foram usados quase como sinônimos, mas há algumas diferenças. O comunismo, assim como o socialismo, considera que a exploração do trabalho pelo capital é a causa das desigualdades sociais atuais. E como solução para isto propõe o fim da propriedade privada, o fim do estado, e o fim das classes econômicas. No comunismo não há propriedade privada, apenas bens coletivos. E não há governo ou classes econômicas. A sociedade obteria de cada um o que eles podem produzir, e ofereceriam para cada um o que eles necessitassem.

Estes três movimentos trabalhistas se organizam de forma relativamente colaborativa, apesar das divergências, durante o século XIX. O auge desta movimentação anarquista, socialista e comunista aconteceu no ano de 1848, com uma série de revoluções ao redor da Europa. Podemos destacar ainda a Comuna de Paris, em 1871, tida por muitos como o primeiro governo popular da história.

Mas nenhuma destas revoluções durou o suficiente para criar uma nova forma de sociedade. Isto só vem a acontecer em 1917, com a Revolução Russa. Promovida pelo Partido Comunista Soviético, a Revolução Russa muda completamente o cenário destes movimentos de trabalhadores.

O modelo construído por Lênin e seus bolcheviques acabam por sedimentar uma série de conceitos pelos quais entendemos o que é socialismo e comunismo hoje. Em especial é somente em Lênin que temos a definição do socialismo como uma etapa para se atingir o comunismo.

Na visão de Lênin o comunismo só poderia ser implantado através de uma revolução armada do trabalhador, derrubando o governo burguês. Mas para se atingir o comunismo, era necessária uma etapa de adaptação social, onde o estado socializaria os meios de produção e anularia as diferenças econômicas e trabalhistas.

Infelizmente as experiências deste socialismo real como meio de atingir o comunismo se traduziram em regimes de partido único, censura, totalitarismo, fim das liberdades civis, etc. E não poucas vezes levou a tragédias humanas do pior tipo, com prisões políticas, extermínio da oposição, desestruturação econômica, fome, miséria, etc. E nenhum país atingiu o estágio do comunismo, mesmo após décadas governados por comunistas.

Do outro lado surgiram movimentos anticomunistas. Mesmo antes da Revolução Russa, antes dos governos socialistas do bloco soviético a resistência aos comunistas foi radical e violenta. E com os horrores vindos da época da Guerra Fria se tornou cada vez mais comum confundir as ideologias libertárias ou revolucionárias com os horrores realizados pelos países do bloco socialista. Contudo nem todo anarquista, nem todo socialista e nem todo comunista defendem a revolução armada, regimes de partido único e o combate violento a toda forma de oposição.

E cabe ainda lembrarmos que horrores similares acontecem também no lado capitalista da polêmica. Em especial temos o fascismo histórico, o nazismo, os regimes militares de direita. Assim como o passado escravocrata e o presente imperialista das nossas economias de mercado. Mas este é o assunto para meu último texto deste glossário.

Contudo antes de falar do fascismo e seus irmãos políticos, preciso ainda comentar da social-democracia. Especialmente após a Segunda Guerra Mundial começa a se formar uma tentativa de terceira via, um meio termo entre o Capitalismo Liberal e o Socialismo. A ideia central é a criação de um Estado de Bem Estar Social, onde a função do estado iria além da preservação das liberdades individuais. Caberia também ao estado criar uma estrutura de suporte social com a intenção de diminuir as desigualdades. A propriedade privada seria preservada, desde que atendesse a sua função social. O capitalismo seria o sistema econômico, mas com intervenção estatal nas relações econômicas.

A Social Democracia foi implantada com relativo sucesso na Europa, em especial nos países escandinavos, mas demandando alta carga tributária e com uma sustentabilidade econômica muitas vezes instável. E mesmo assim não atendeu aos anseios daqueles que consideram a relação entre capital e trabalho como uma forma de exploração. A Social Democracia acaba sendo vista como uma forma branda de comunismo para uns, e para outros como um capitalismo com caridade e hipocrisia.

E antes que me acusem de ter esquecido deles, temos ainda um quase movimento que vem crescendo na internet recentemente: o anarco-capitalismo. Apesar do nome, o anarco-capitalismo quase nada tem de anarquismo. Defende o fim do Estado, mas acredita que as relações econômicas e mercadológicas não precisam de controle ou gestão comunitária. Bastaria um acordo de não agressão entre os indivíduos, e deixar a sociedade ser regulado pela economia. As demais formas de hierarquia e dominação que os anarquistas combatem não são problemas para o anarcocapitalista.

Neste ponto os anarcocapitalistas se assemelham aos “liberais na economia, conservadores no costume”. Pegam a parte da ideologia que lhes convém, ignorando o princípio original do anarquismo para estes e do liberalismo para aqueles.

No próximo e último texto falarei dos movimentos de características ditatoriais que ocorreram e ocorrem dentro das economias capitalistas. O fascismo, o nazismo, os regimes militares. E um pouco dos instrumentos de construção destes, como o populismo e o caudilhismo.

E peço a gentileza dos comunistas e anticomunistas a não me fuzilarem por meus erros de análise. Estou aberto a críticas e correções. Tenho certeza que devo ter cometido alguma heresia.

*Aniello Olinto Guimarães Greco Junior é servidor público concursado do Tribunal Superior do Trabalho, Aniello Greco passou tempo demais na universidade, sem obter diploma. Já fingiu ser jogador de xadrez, de poker, crítico de cinema, sommelier de cerveja. Sabe de quase tudo um pouco, e quase tudo mal.

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