Foram avolumados ataques que apequenam as eleições e a democracia. E personagem postiço que opera no nível da pós-verdade e das fake news
Em 30/09/22 18:28
por Coluna do Prando
Rodrigo Augusto Prando é Mestre e Doutor em Sociologia, Professor universitário e pesquisador. Conselheiro do Instituto Não Aceito Corrupção, membro da Comissão Permanente de Estudos de Políticas e Mídias Sociais do Instituto dos Advogados de São Paulo e voluntário do Movimento Escoteiro.Textos essenciais de serem lidos para acompanhar e refletir sobre os movimentos da sociedade e do Poder.
Último debate antes do primeiro turno encerrado, há pouco. De um lado, os que consideraram um show de horrores, degradando a nossa democracia; doutro lado, os que avaliam como positivo, pois sempre é importante ver e ouvir, ainda que minimamente, as propostas dos candidatos. Estiveram presentes: Luís Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luiz Felipe D’Ávila, Soraya Thronicke e Padre Kelmon.
Na dianteira das pesquisa, com chances matemáticas de vencer no primeiro turno, Lula seria, como não poderia deixar de ser, alvo de todos ali presentes, especialmente, de Bolsonaro. Já no primeiro bloco, confronto direto de Ciro e Lula e o petista ao tratar de economia faz, novamente, referências ao passado, aos seus governos, aos resultados que considera importantes voltarem à tona e à memória do eleitor. Ciro assaz incomodado com a campanha pelo voto útil desencadeado pelo PT quer, ao mesmo tempo, antagonizar com Lula e Bolsonaro. Lula, debatendo com Ciro, questiona: “você parece nervoso”. De fato, o pedetista naquele momento chegou a gaguejar levemente. Na sequência, a dobradinha da noite: Bolsonaro e Padre Kelmon.
Ao tratar do Auxílio Brasil, Kelmon teceu elogios a Bolsonaro e este abriu sua caixa de ferramentas e deu o tom do que teríamos: ataques à esquerda e a Lula, valorização da família, contra a ideologia de gênero, contra a liberação das drogas, armamentista e com críticas à Rede Globo e à mídia. Ali, também, começou a saga dos direitos de resposta. Lula foi chamado de chefe de quadrilha ao tratarem da corrupção em seu governo. Bolsonaro e Lula, usando o direito de resposta, se atacam e protagonizam o momento mais tenso naquele bloco Ciro continuou a centrar suas críticas em Lula ao responder a D’Ávila. Bolsonaro questiona Tebet acerca do assassinato de Celso Daniel e indica que foi Lula o mentor intelectual do crime. Tebet afirma que o presidente é covarde e que esta pergunta poderia ser feita diretamente a Lula que estava presente. Tebet, assim, preferiu tratar da fome e faz críticas a Bolsonaro, aliás, como foi neste e nos demais debates.
Bolsonaro tinha a intenção de confrontar Lula de forma direta e quando teve a oportunidade preferiu chamar outros adversários, terceirizando seus ataques. Neste quesito, Padre Kelmon foi, como dito por Thronicke, um grande cabo eleitoral de Bolsonaro. Aliás, Thronicke foi quem confrontou Kelmon com mais intensidade até gerando momentos cômicos que, certamente, renderão centenas de memes. Lula, preparado para responder a Bolsonaro, acabou escorregando e perdeu a calma com Kelmon que, como dito, estava, claramente, a serviço de Bolsonaro. Ambos – Kelmon e Lula – foram responsáveis por outro momento de tensão e partiram para um bate-boca e tiveram os microfones cortados. Bonner, o mediador do debate, perdeu a paciência em vários momentos e, mais ainda, com Kelmon. D’Ávila, por sua vez, dada sua agenda liberal, acabou servindo de escada para Bolsonaro e foi instado a criticar a esquerda e, consequentemente, Lula.
Foi, no geral, um debate de poucas propostas e avolumados ataques que apequenam as eleições e a democracia. Um debate gerador de memes com muita lacração para as campanhas. Tebet, novamente, destaca-se buscando elevar o nível do debate; Ciro, ainda que nervoso, buscou deslindar seu projeto nacional; D’Ávila e Thronicke têm dificuldades de avançar num campo polarizado; Bolsonaro segue seu caminho já conhecido de conjugar pautas conversadoras, um certo liberalismo, as liberdades individuais e os ataques à esquerda no geral e a Lula em particular; por fim, Padre Kelmon personagem postiço presta desserviço ao debate, opera no nível da pós-verdade e das fake news e avilta o processo democrático.
*Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.
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