Tem livro novo de Gabriel García Márquez chegando!

Ana Magdalena Bach, una mujer de 52 anos, muito bonita, casada, e que leva uma vida normal na cidade, há mais de 20 anos, com o marido, viaja a uma ilha no Caribe onde está enterrada sua mãe. Faz isso com regularidade anual. Todo dia 16 de agosto, há 28 anos.

O ritual é cumprido de modo solitário, com um cronograma que não muda desde o princípio, pelo menos até aqui. Toma o mesmo taxista, se instala no mesmo hotel, leva as mesmas roupas frugais, compra as flores da mesma florista. Quase não conversa com ninguém, e lá vai fazer sua homenagem.

Em 28 anos, viu o pequeno povoado crescer, ganhar turistas e um outro ritmo diferente do Caribe de sua adolescência.

No 16 de agosto em que ocorrem os fatos de “Em Agosto nos Vemos”, livro póstumo de Gabriel García Márquez (1927-2014) que terá lançamento mundial em 6 de março de 2024 (Penguin Random House), as coisas saem um pouco da programação normal.

Era pouco comum que Ana Magdalena descesse ao restaurante do hotel à noite, algo que fazia às vezes para comer algo antes de dormir. Porém, reparava que eram mais ou menos sempre as caras. Homens, com pinta de que viajavam a negócios.

Neste agosto, resolve pedir um gin tonic na noite anterior a seu retorno, olha em volta mais detidamente, e vê que um homem a mira de modo insistente. Ele lhe oferece um drink, eles dançam, e rapidamente ela se solta como nunca. Sobem para um dos quartos do hotel.

O livro não é exatamente uma novidade para os conhecedores de Gabo, prêmio Nobel de Literatura em 1982. Ele foi apresentado em 1999 pelo próprio escritor, quando já dava sinais de sua enfermidade, na Casa de las Américas, en Madri.

Se esperava dele um discurso quando subiu ao palco. Mas, em vez disso, abriu uma pasta azul, tirou dela páginas datilografadas e anunciou que leria integralmente os primeiro capítulo de seu mais novo livro. E avisou: “Como é algo um pouco longo, espero que os que se cansem saiam da sala para não acordar aos que já tenham dormido”, disse, com seu típico humor caribenho.

Depois de anos de debate entre família e editores, decidiu-se por publicá-lo. Embora Gabo ainda quisesse, como expôs à sua mulher, Mercedes, mexer e melhorar mais o livro, esse projeto ficou em suspense. Muito porque, em seus anos finais e consciente deles, Gabo preferiu terminar o primeiro volume de suas memórias, “Viver para Contar (2002) e “Memórias de Minhas Putas Tristes” (2004).

A história de Ana Magdalena Bach teve que esperar, e já não houve mais tempo. É um livro interminado, com 150 páginas, divididas em 5 capítulos em que a história da protagonista se constrói. Obviamente teria sido um livro diferente se Gabo o trabalhasse mais.

Por outro lado, mostra que, mesmo naqueles tempos em que a engenhosidade e a vida de Gabo iam encontrando seu ocaso, seu velho modo de escolher as palavras certas e narrar com seu estilo único ainda estavam latentes.

Na Universidade de Austin, nos EUA, onde está todo seu acervo, estão também as 10 versões do texto em construção até que um deles, o final veja a luz. Também uma carta do autor a sua agente literária, Carmen Balcells, de 2004, com instruções para a edição.
Espera-se um grande lançamento, no ano em que se completam 10 anos de sua partida.