Cultura

LITERATURA

Hilda Hilst por sua amiga, Maria Luiza

Escritora e amiga de Hilda Hilst, Malu relembra momentos da carreira e analisa o cenário literário

por Vitor Hugo Gonçalves em 04/02/21 10:40

Hoje, dia 4 de fevereiro, se completa 17 anos da morte de uma das maiores escritoras brasileiras: Hilda Hilst. A vivacidade das palavras concebidas pela poetisa está eternizada em prosa e verso, plenamente capaz de traduzir a consciência e realidade humana.

Hilst nasceu em Jaú, em 1930, e morreu em Campinas, em fevereiro de 2004. Formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), determinou que dedicaria a vida à literatura após passar uma temporada na Europa. Estreou, aos 20 anos, com ‘Presságio’, um livro de poesia.

Com 35, decidiu morar numa chácara em Campinas, a Casa do Sol, arquitetada minuciosamente pela autora para ser um espaço de inspiração e desenvolvimento artístico. Acompanhada por cachorros, não parou de produzir, e viveu lá até o fim de sua vida.

Sob a atmosfera campestre, Hilst recebeu em sua casa grandes amigos, providenciando magníficos períodos de residência artística — entre elas, a jornalista e escritora Malu Fúria.

Hilda Hilst, poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira.
Hilda Hilst, poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. Foto: Reprodução Imagens Portal SESCSP.

Maria Luiza Mendes Fúria, jornalista, escritora, tradutora e poetisa, encarnou-se para a literatura.  

Introduziu-se ao mundo dos sentimentos ainda na inocência da infância. Pegou gosto pelas linhas, e a poética jamais a abandonou. “Uma vizinha, professora de português, leu meus versos, achou-os incríveis e, com treze anos, parei na antologia dos poetas de Caçapava. É daí que provém essa história de escrever”.

Aos dezesseis anos escreveu seu primeiro livro (Madrugada e Outros Poemas; edição particular) e aos dezoito foi cursar jornalismo em São Paulo. O meio universitário a levou ao encontro de concursos, coletivos e admiradores poéticos. Até Malu encontrar uma de suas grandes admirações, que viria a ser uma grande amiga: Hilda Hilst.

“Fui até à livraria Cultura, e lá encontrei um livro que reunia as poesias de Hilda, da década de cinquenta até o ano de setenta e nove. Arrebatadora; precisava conhecê-la, compreender seu ardor, seus encantos. Escrevi para a caixa postal dela, aproveitei e enviei alguns poemas meus. Não obtive respostas, é claro. Alguns, como Drummond, mais disciplinados, respondiam seus leitores, mas Hilda… Hilda não.”

Em 1985, a redemocratização literária elucidou-se no primeiro Congresso de Escritores, pós ditadura militar. Malu, à época jornalista do Jornal da Tarde (Estadão), cobria o evento e, sem alardes, encontrou Hilda no saguão de entrada do teatro.

“Batemos um bom papo no saguão e, por fim, ela me convidou para uma visita em sua casa. Passou o número de seu telefone particular e apenas disse que me explicaria como chegar à residência”.

Maria Luiza Mendes Fúria, jornalista, escritora, tradutora e poetisa.
Maria Luiza Mendes Fúria, jornalista, escritora, tradutora e poetisa. Foto: Reprodução Redes Sociais.

“Passei a frequentar o ambiente, e em uma das primeiras visitas, Hilda mencionou meus poemas. Disse que eram bons, porém muito diluídos. Ansiosa, rapidamente pedi desculpas pelo incômodo. Tempo depois, caminhando pelo entorno do terreno, perguntei a opinião dela acerca das poesias de Cecília Meireles: ‘Eu gosto de Cecília, mas apenas de Viagem Vaga Música, de resto, também a acho muito diluída’. Um alívio para mim. Se eu era diluída como Cecília, estava tudo ótimo.”

A amizade perseverou. Conversavam, argumentavam livros e textos. Uma proximidade inspiradora e influente para a escrita de Malu. Em 1990, a jornalista alcançou o segundo lugar do Concurso Nacional de Literatura, em Belo Horizonte, com o volume de poesias Inventário da Solidão (Editora Giordano), publicado em 1999. “Posterguei, mas nunca deixei de escrever. Tive poemas publicados em Portugal, ganhei alguns concursos e premiações, tendo composto, também, algumas antologias poéticas”.

Em 1998, Maria Luiza participou da criação da Órion – “Revista de Poesia do Mundo de Língua Portuguesa”. Em 2007, fez uma edição artesanal de apenas 30 exemplares de sua obra Vênus em Escorpião. Em 2013, lançou seu primeiro livro para crianças, O Travesseiro Mágico (Giostri Editora). Um comentário sobre seu trabalho consta do Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, de Nelly Novaes Coelho (Escrituras, 2002). Seu mais recente exemplar, Vênus em escorpião (Editora Patuá) exterioriza poemas que investigam sentimentos naturais, erotismo e sexo.

“Não há mais revelações e destaques dentro do cenário nacional, o espaço fica ainda menor para escritores brasileiros com o maquinado privilégio ao estrangeiro. Nossa literatura reflete o pesaroso momento político-econômico do país, onde o corte à cultura é deliberado como primário mediante uma crise”, analisa.

Apesar de desiludida com o atual cenário, Malu retoma Hilda: “tem que pegar bem aqui – sorriu e tocou o peito -. É isso que pega… a paixão é capaz de mover mais do que qualquer outra força.”

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