O retorno do ex-presidente à corrida eleitoral pode resultar em um novo embate entre o PT e Jair Bolsonaro. Esse imbróglio, independente do lado, aumenta a desconfiança do investidor em relação ao Brasil
por Cristiano Noronha em 16/03/21 18:18
Sem juízo de valor, mas o ex-presidente Lula é um dos políticos de maior expressão do país. Prova disso é que sua entrada no xadrez sucessório de 2022 – ainda que momentânea, pois isso pode mudar –, é um dos assuntos mais comentados em todo o território nacional. E com ampla repercussão internacional. Mas o que muda com a presença de Lula no jogo?
Primeiro, Lula se torna o candidato natural do PT à Presidência no ano que vem. Outros potenciais postulantes, como Fernando Haddad (candidato em 2018), Camilo Santana (governador do Ceará) e Rui Costa (governador da Bahia), ficam em segundo plano.
Segundo, sua presença polariza a disputa entre PT e o presidente Jair Bolsonaro. Lula, que pode ir para a sua sexta eleição presidencial, tem cerca de 30% de intenção de voto consolidada. O presidente Jair Bolsonaro tem outros 30%. Com esses percentuais, são os dois candidatos com maior chance de ir para um eventual segundo turno.
A oposição pode morrer de inanição. PSOL, PDT, PCdoB e PSB não têm, hoje, um nome capaz de retirar a preferência do eleitor de esquerda pelo PT. Mesmo após o desgaste sofrido pelo partido, essas legendas continuaram vivendo apenas das sobras de Lula. Até mesmo o PDT, embora Ciro Gomes, por ter um projeto pessoal, tenha sido um crítico ferrenho do ex-presidente.
As alternativas de centro também ficam com espaço limitado. Se não reduzir o número de candidatos nesse espectro e se não for encontrado um discurso convincente, o centro também pode ter enorme dificuldade de retirar Lula e Bolsonaro do segundo turno.
Outro fator que muda é a preocupação do investidor com relação ao restante do governo Bolsonaro e com um eventual retorno de Lula à Presidência. A preocupação de curto prazo é quanto ao andamento das reformas no Congresso Nacional, por conta da antecipação do debate sucessório, e com a possibilidade de Bolsonaro adotar um comportamento mais populista, para garantir a reeleição.
Com relação à primeira preocupação, a tendência é que não haja grande impacto sobre a agenda parlamentar. Vale lembrar que na semana em que a elegibilidade de Lula foi restabelecida, a Câmara aprovou a PEC Emergencial. Com relação ao risco de mudança para o populismo, isso também não deve acontecer de forma abrupta e profunda. É sabido que, em anos eleitorais, candidatos que tentam a reeleição costumam fazer acenos ao eleitorado. Com Bolsonaro não deverá ser diferente. Mas, pelo menos no front fiscal, ele não deverá cometer excessos. Não respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal é motivo para impeachment.
Já a preocupação do investidor por conta de um eventual retorno de Lula refere-se ao temor de mais intervencionismo estatal. A dúvida é se o ex-presidente teria um comportamento mais próximo dos seus mandatos (2003-2010) ou da gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016), marcada por intervenção na Petrobras, no setor elétrico e no Banco Central.
Por fim, todo esse imbróglio aumenta sobremaneira a desconfiança do investidor em relação ao Brasil, onde as regras são pouco claras, instáveis e com profunda insegurança jurídica.
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