Política

Descontrole

“O Brasil é hoje uma ameaça global”, diz ex-ministro da Saúde

José Gomes Temporão comenta a transição de ministros na pasta da Saúde e diz que seria possível evitar milhares de mortes

por Luciana Tortorello em 23/03/21 17:26

Ministro da Saúde de 2007 até 2011, o médico José Gomes Temporão faz duras críticas ao “trágico” desempenho do general Eduardo Pazuello frente à pasta. Em entrevista ao Almoço do MyNews, o ex-ministro afirmou que o Brasil perderá milhares de vidas por seu atrasa na vacinação.

“Pazuello sai porque ele foi um coadjuvante de luxo do script redigido pelo Presidente da República. Nós temos que dar os créditos adequadamente. Foi trágico o desempenho dele e da equipe que ele levou ao Ministério da Saúde, um monte de gente sem qualificação que não conhece nada de política social, sem experiência nenhuma em saúde pública e o resultado nós estamos vendo aí”, avalia Temporão.

Nesta terça-feira (23), Marcelo Queiroga tomou posse como novo ministro da Saúde. Temporão acredita que existe uma “expectativa” com o novo nome da pasta e que alguma mudança poderá ser tentada.

Ainda de acordo com Temporão, o Brasil é hoje uma “ameaça global” e um “pária internacional” após já ter sido líder em saúde. Dados da Universidade Johns Hopkins mostram que o Brasil perde em número de óbitos apenas para os Estados Unidos, que já registrou mais de 543 mil mortes causadas pela pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou relatório em que o Brasil aparece como o país que mais registrou mortes por covid-19 em todo o mundo na segunda semana de março.

“O Brasil tinha um sistema de saúde pública respeitado, a saúde pública brasileira admirada, respeitada e de grande qualidade E nós perdemos tudo que temos, a liderança, a coordenação, a coesão, a inteligência epidemiológica que é fundamental neste momento. Abrimos mão da liderança, nunca tivemos um plano de ação estruturado, nunca tivemos uma estratégia de comunicação, embarcamos na prescrição de medicamentos que não funcionam”, critica o médico sanitarista.

Sobre a situação da vacinação no país, Temporão lembra do Plano Nacional de Imunizações (PNI). “O PNI vacinou 16 milhões de crianças em um único dia no passado contra a paralisia infantil. Na minha gestão, nós vacinamos 90 milhões de pessoas contra H1N1 em três meses, 30 milhões de pessoas por mês. Nós sabemos desde fevereiro do ano passado que para sair dessa situação tão grave só com uma ou mais vacinas. E onde é que o Brasil errou? Errou em não buscar ativamente fechar acordos de compra em abril, maio e junho do ano passado, junto às empresas que estavam desenvolvendo as suas vacinas. O governo apostou apenas na vacina da Fiocruz. Sabíamos que nós teríamos um problema aí, porque os princípios ativos são importados, então o cronograma de entrega pode ser mais lento; e o Butantã por conta própria e contraposição ao presidente, desenvolveu sua vacina em parceria com os chineses”.

O ex-ministro destaca que o Brasil deveria estar vacinando de um a dois milhões de pessoas por dia. Ele também destaca um estudo da Universidade de São Paulo (USP) que estima que se essa velocidade, de um a dois milhões de doses por dia, estivesse sendo aplicada desde janeiro, cerca de 175 mil vidas poderiam ser salvas apenas em 2021.

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