Mesmo mais próximo a Bolsonaro, generais não veem possibilidade de o novo ministro da Defesa embarcar em medidas autoritárias
por Juliana Braga em 30/03/21 11:48
De todas as seis trocas que o presidente Jair Bolsonaro promoveu na Esplanada na segunda-feira (29), a da Defesa foi certamente a analisada com mais atenção em Brasília. As informações tornadas públicas desde cedo, e que saíam tanto de interlocutores do ex-ministro Fernando Azevedo e Silva quanto do presidente Jair Bolsonaro, davam conta de que o motivo seria a recusa de um alinhamento mais explícito do Exército com o governo. No final da tarde veio a desconfiança: estado de sítio?
O jornalista Ricardo Kotscho publicou em sua coluna no UOL que o general Azevedo e Silva se recusou a pressionar o Congresso a adotar o estado de sítio. José Levi, ex-Advocacia-Geral da União, teria caído pelo mesmo motivo. Levi teria se recusado a assinar, inclusive, o pedido de Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal (STF) suspender restrições de circulação nos estados. O presidente assinou ele mesmo a peça, rejeitada pelo ministro Marco Aurélio.
Generais da ativa e da reserva e ex-ministros da Defesa ouvidos pelo MyNews avaliam que mesmo na possibilidade de essa ser a vontade de Bolsonaro, um estado de sítio é altamente improvável. A contenção partiria do próprio Braga Netto, escolhido para assumir a pasta. Por mais que seja mais próximo do presidente devido ao convívio no Palácio do Planalto, ele também não embarcaria em aventuras autoritárias levando as Forças junto.
As atenções estão voltadas hoje para a reação dos comandantes. Há a expectativa de que eles coloquem o cargo à disposição de Braga Netto nesta terça (30). O do Exército, Edson Pujol, está na mira. Para seu lugar, uma possibilidade é o general Arruda, hoje chefe do Departamento de Engenharia e Construção.
Fato é que nos últimos dias Bolsonaro viu o seu apoio entre os fardados diminuir na medida em que aumentavam suas menções ao uso do “seu” Exército para defender o seu governo. Há um descontentamento com esses episódios e a leitura de que o presidente vem esticando a corda. A análise, no entanto, não é uniforme: o Alto Comando hoje não tem uma figura, como foi o general Villas Bôas, que consiga aglutinar os verde-olivas em uma posição única.
De maneira pulverizada, eles vêm conversando com figuras envolvidas nas conversas pela construção de uma terceira via em 2022, capaz de romper a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Os ex-ministros da Defesa Nelson Jobim e Raul Jungmann seriam pontos de contato das forças com essas iniciativas. Outros generais da reserva como o Santos Cruz (ex-Secretaria de Governo de Bolsonaro) e Sérgio Etchegoyen (ex-Gabinete de Segurança Institucional de Michel Temer) seriam consultados por políticos que participam dessas conversas. O general Tomás Paiva, hoje no Departamento de Educação e Cultura do Exército e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também.
Por enquanto, no entanto, esses próprios generais classificam essas tratativas como mera torcida. Não há uma articulação hoje forte o suficiente para levar as Forças nem para um lado, nem para outro.
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