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CONFLITO

Mundo perigoso: a guerra distante e a nossa, onde a violência mata quase 50 mil por ano

Com a vista embaçada e dificuldades para ler e escrever, passei a semana ligado nos canais de TV

Em 15/10/23 11:35
por Balaio do Kotscho

Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano

Foto: Divulgação

Para quem estranhou minha ausência no Balaio nos últimos dias, algo raro de acontecer, justamente em meio a mais uma guerra no Oriente Médio, informo que estou de quarentena, derrubado pela covid pela primeira vez, quando a pandemia já tinha saído de moda.

Com a vista embaçada e dificuldades para ler e escrever, passei a semana ligado nos canais de TV, vez mais aflito com o que está acontecendo, e não podendo atualizar a coluna.

Hoje, no 9º dia dos conflitos, acordei um pouco melhor. A contabilidade do morticínio até agora registra 1.300 mortos do lado de Israel e 2.300 do lado palestino, o que já é uma enormidade, mas bem menos do que a violência fora de controle mata a cada ano na nossa guerra interna.

Não podemos esquecer dos nosso mortos _ entre eles, também grande número de crianças e mulheres, como estamos vendo no Oriente Médio, um massacre covarde contra inocentes, que nada têm a ver com o confronto entre forças israelenses de Netanyahu e palestinas do Hamas.

As nossas faixas de Gaza se espalham pelo país, dos morros cariocas aos confins da Amazônia, onde as milícias e o crime organizado ocuparam o lugar do Estado.

Segundo os últimos dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em julho, o Brasil registrou 47,5 mil mortes violentas em 2022, uma queda de 2,4% em relação ao ano anterior. E esse número já chegou a passar de 60 mil na década passada.

Enquanto a TV mostra os horrores da guerra lá fora em tempo real, 24 horas por dia, assustando o mundo, na guerra aqui dentro só ficamos sabendo depois o que aconteceu, pelos frios boletins de ocorrência das estatísticas policiais. Ninguém se choca mais com esses números da grande tragédia social brasileira que já faz parte da paisagem. O que os olhos não veem, o coração não sente. Não dá ibope.

Nos últimos quatro anos, com o liberou geral de armas e munições para a população civil e a licença para matar das forças de segurança, passamos a andar com medo nas ruas das grandes e pequenas cidades, sem saber se as balas perdidas são da polícia ou da bandidagem, que cada vez mais se confundem em seu modus-operandi.

É tão difícil reconquistar a paz aqui como no milenar conflito entre palestinos e israelenses, que disputam o mesmo pequeno espaço de terra, com a diferença de que no Brasil temos imensos latifúndios ociosos ou ocupados apenas por bois e plantações de soja, que agora avançam pela Amazônia.

Ao massacre humano desses últimos dias, some-se o massacre informativo, com comentaristas e especialistas em geral se revezando nos estúdios para defender suas teses sobre quem está certo ou errado nesta guerra que só tem derrotados, dos dois lados. Ou alguém imagina que a vida vai melhorar depois, seja qual for o resultado, para os povos envolvidos neste morticínio alucinado sem dia marcado para acabar?

A única boa notícia é que agora temos um governo para tirar e repatriar os brasileiros que estão na zona de conflito, mas levou vários dias para o noticiário reconhecer os esforços do presidente Lula e seus ministros em busca de uma solução negociada de paz, agora que o país preside o Conselho de Segurança da ONU, um cargo rotativo.

A covid uma hora passa, a guerra um dia acaba, só a luta pela vida é permanente num mundo cada vez mais perigoso.

Bom domingo.

Vida que segue.

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