MyNews conversa com Allan de Abreu, da Piauí, que revelou como essas duas instituições andam juntos por meio de pessoas importantes
No início do mês de abril, a Revista Piauí mexeu com o meio da comunicação e, principalmente, esportivo, com reportagens exclusivas sobre a CBF, a federação de futebol do Brasil. Em sua edição mensal, mostrava gastos da entidade, acusações de assédio do presidente Ednaldo Rodrigues. Além disso, falou sobre sua relação com a política em Brasília, principalmente de Gilmar Mendes, do STF.
O MyNews foi atrás de mais respostas e conversou com o jornalista da Piauí, Allan de Abreu, que revelou detalhes de relações que a federação mantém ao longo dos anos.
R: “A reportagem traz dados que demonstram haver pessoas politicamente poderosas ligadas direta ou indiretamente à CBF, entre elas o deputado Arthur Lira. Historicamente, a entidade sempre se esforçou para construir apoio político nos bastidores do Congresso Nacional – já na gestão Ricardo Teixeira havia a chamada ‘bancada da bola’. Ednaldo Rodrigues deu sequência a essa tradição”, revela Allan.
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Na reportagem de Allan, também são mencionados alguns episódios de aproximação entre Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, seu filho Francisco Mendes e a federação de futebol brasileira. Ele é responsável por gerenciar a CBF Academy.
R: “Desde agosto de 2003, o IDP, instituição acadêmica fundada pelo ministro Gilmar Mendes, que tem o filho, Francisco Mendes, como diretor, gerencia o CBF Academy, braço da entidade que oferece cursos ligados ao futebol. Atualmente, ao menos seis diretores da CBF são oriundos do IDP ou indicados pelo instituto. Conforme me foi dito por vários funcionários e ex-funcionários da CBF, hoje o grupo de Gilmar Mendes controla a instituição – não à toa, quando anunciou sua candidatura à presidência da entidade, Ronaldo Nazário foi buscar apoio da família Mendes”, destaca o comunicador.
Ronaldo Fenômeno, ex-jogador e também responsável por diversas ações no mundo esportivo após se aposentar dos gramados — entre elas, ex-administrador da SAF do Cruzeiro e, atualmente, do Valladolid, da Espanha — tentou ser presidente da CBF, mas não obteve nenhum apoio e desistiu.
R: “Basicamente dois fatores inviabilizaram a candidatura de Ronaldo: a falta de apoio dos Mendes e dos presidentes das federações. No caso desses últimos, a explicação está no bolso: Ednaldo reajustou o salário deles de 50 mil reais mensais para 215 mil reais”, analisa Allan.
O atacante Bruno Henrique, jogador do Flamengo, está sendo acusado por esquemas de apostas que favorecem seus amigos e aliados em um cartão amarelo levado em jogo diante do Santos, no Brasileirão. Allan destaca o silêncio da CBF para casos assim.
R: “O dinheiro dessas casas de apostas inundou o futebol brasileiro, desde a organização dos torneios até as transmissões. Por trás dessa opulência está o vício na jogatina que corrói o salário do brasileiro e arrasa a saúde mental. Para mitigar esse problema, a única saída, no meu ponto de vista, é proibir o patrocínio de bets, mais ou menos como ocorreu com a indústria tabagista na Fórmula 1, nos anos 90, com muito sucesso.”
Por sua vez, a ESPN, em seu programa Linha de Passe, sempre na parte da noite, teve os jornalistas Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares afastados, além do produtor do programa, Dimas Coppede, após repercutirem a divulgação da Piauí. A justificativa é que não houve aviso sobre a pauta. Allan finaliza falando disso.
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No entanto, entre as chamadas mídias tradicionais esportivas, somente a ESPN comentou sobre a publicação da Piauí, o que chamou bastante atenção.
R: “O jornalismo, de modo geral, vive uma crise de financiamento em decorrência da mudança de consumo da informação via redes sociais. No caso do jornalismo esportivo, há um fator adicional nessa equação: muitas empresas de mídia, sobretudo aquelas que possuem direitos de transmissão do futebol, sempre colocam o fator financeiro acima do jornalístico. Entre informar eticamente a opinião pública e lucrar com essa mesma opinião pública, os meios sempre preferem essa última, porque é isso o que, a curto e médio prazos, gera dinheiro. Por isso, há tempos, o jornalismo esportivo no Brasil, com exceções, resume-se ao entretenimento raso.” Concluiu ao MyNews, Allan de Abreu.