Crime organizado desce para Balneário Camboriú FOTO: DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ DESCEU PARA BC

Crime organizado desce para Balneário Camboriú

Balneário Camboriú é paraíso para lavagem de dinheiro, recurso obtido de forma ilegal por acesso a contas a partir do roubo de celulares, em especial em São Paulo

O dinheiro roubado de celulares em São Paulo, via acesso de contas bancárias, é lavado em restaurantes, cervejarias, casas de show e no setor imobiliário em Balneário Camboriú, cidade destacada do litoral de Santa Catarina, que vive um boom turístico. Este é um crime que se espalhou como uma pandemia, sendo difícil encontrar alguém que nunca tenha sido vítima do roubo de um aparelho celular. Não é para menos. Trata-se de um “negócio com margens de lucros” cada vez maiores.

Assim que o roubo acontece, o celular é retirado das mãos da vítima, com maior ou menor violência, e imediatamente o criminoso leva o aparelho para um centro de negócios especializado, bem próximo ao famoso e inspirador cruzamento da Ipiranga e São João, na capital paulista, onde o roubo de celulares é uma febre. Nestes locais, há um processo sistemático de vasculhar contas, realizar saques, transferências e, por fim, vender o aparelho em mercados secundários de celulares. O instrumento utilizado para transferir os recursos roubados é o PIX.

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Os operadores do crime são extremamente ágeis e eficientes. O aparelho é levado para um escritório localizado no centro histórico de São Paulo, em um prédio já conhecido por ser cenário de antigas operações policiais. A partir desse ponto, qualquer proteção, como reconhecimento facial, não impede que os criminosos acessem as contas bancárias das vítimas. É, a tecnologia de ponta também chegou ao crime organizado. Com habilidades impressionantes, eles destravam as contas e realizam transferências rápidas, encaminhando os valores para contas em criptomoedas de empresas registradas com CNPJ em Balneário Camboriú, que são clientes de bancos digitais.

O mercado imobiliário como alvo em Balneário

Uma das maiores operações de combate a lavagem de dinheiro capitaneada pelo Ministério da Justiça, há pouco mais de dois anos, indicou que, além disso, as empresas ligadas ao crime organizado têm utilizado o setor imobiliário do litoral catarinense como um dos principais destinos para a lavagem de dinheiro. Um relatório das autoridades aponta que essas empresas realizam transações fraudulentas ou não declaradas, financiadas com recursos oriundos do tráfico internacional de drogas.

Há fortes indícios de que os representantes dessas empresas tinham pleno conhecimento da origem ilícita dos valores usados nas transações. Além disso, essa operação do Ministério da Justiça revelou o pagamento de imóveis de luxo com grandes quantias em espécie, sem a devida comunicação aos órgãos competentes, e o uso de “laranjas” para ocultar a identidade dos verdadeiros compradores.

Lavagem de recursos do PCC

Esse esquema de lavagem de dinheiro está vinculado a uma das maiores operações do Ministério da Justiça nos últimos anos, que desmantelou uma rede de lavagem de recursos do PCC (Primeiro Comando da Capital). O crime organizado tem expandido suas operações e avançado para além das fronteiras de São Paulo, alcançando o Rio de Janeiro e outros estados. A segurança pública, atualmente, é a principal preocupação da sociedade, abrangendo todas as camadas da população. No entanto, o governo federal parece ter deixado essa responsabilidade para os estados, que, por sua vez, agem isoladamente. Não existe uma força-tarefa com coordenação única para enfrentar esse problema.

Expansão até Balneário Camboriú

Em dezembro do ano passado, a Polícia Federal desarticulou organizações criminosas envolvidas com crimes contra o sistema financeiro em Santa Catarina. Os crimes investigados incluem organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro, com penas máximas previstas de até 30 anos de reclusão para os envolvidos nas operações. Entre as cidades que foram alvos estavam Balneário Camboriú, Camboriú e Itapema. Na Operação Kryptos, ocorreram quatro mandados de busca e apreensão, suspensão de passaporte dos indiciados e sequestro e bloqueio de bens em nome de 29 pessoas físicas e jurídicas.

Além disso, há desconfiança generalizada entre as forças policiais. A Polícia Militar desconfia da Polícia Civil, as polícias de São Paulo desconfiam das do Rio, e de outros estados, e vice-versa. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) também desconfia de todos. Essa fragmentação impede um enfrentamento eficaz do crime organizado.

Crime organizado no mercado do álcool

A realidade é que o crime organizado está se espalhando por toda a estrutura do Estado brasileiro. As operações criminosas já atingem setores como a compra de usinas de álcool em crise ou falidas, que são adquiridas por agentes do crime organizado. Esses grupos passam a ditar o preço do álcool, interferindo diretamente no mercado, que antes era regido pela oferta e demanda, agora controlado pelos chefões do crime.

O grande desafio é que essas organizações criminosas são bilionárias e seus tentáculos estão se infiltrando em todas as esferas da sociedade. Para o crime organizado, não há barreiras ideológicas. Seus negócios prosperam tanto à esquerda quanto à direita, corroendo as instituições e colocando em risco a segurança e a ordem pública no país.

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