DCE Unigranrio: entenda sua atuação e os desafios enfrentados na faculdade Foto: Arquivo pessoal DCE Unigranrio

DCE Unigranrio: entenda sua atuação e os desafios enfrentados na faculdade

MyNews abre série de reportagens sobre a atuação atual dos DCEs, suas cobranças e exigências na educação do ensino superior

O DCE (Diretório Central dos Estudantes) é um órgão estudantil que representa os alunos de faculdades em todo o Brasil, sejam públicas ou particulares. Dessa forma, o MyNews conversou com Allysson Souza, presidente do DCE Unigranrio, no Rio de Janeiro, há dois anos e estudante de psicologia do local.

Aqui, ele explica sua atuação no movimento chamado Correnteza e a entrada no DCE da faculdade:

R: “Sou estudante de Psicologia da Unigranrio. Iniciei no DCE como estudante de Serviço Social no EAD, mas precisei mudar de curso e de modalidade porque a universidade dava um péssimo acompanhamento para quem era do EAD. Psicologia era o curso que mais se aproximava do que quero para minha vida: defender e trabalhar com direitos humanos, questões infantis, saúde mental, etc. Entrei no DCE em 2023, quando entrei no Movimento Correnteza, que hoje já faz parte do DCE. É um movimento universitário que existe em todo o país”

“Ao mesmo tempo, em que conheci o Movimento Correnteza, conheci o DCE e comecei a participar. Atualmente, sou presidente. A gestão do DCE da Unigranrio dura dois anos. Inclusive, em novembro deste ano, teremos eleição para mudar a diretoria. Mas, com certeza, quero continuar com o pessoal do DCE. Hoje minha atuação é mais como presidente: participo dos debates, acompanho cada pasta, como a dos campi, e o trabalho na universidade”.

Atuações dos movimentos pelo Brasil

O DCE já exerceu maior papel de destaque. Hoje, segue ativo, mas com atuação mais discreta. Allysson analisa essa mudança e cita como é diretório de sua faculdade.

R: “Hoje o DCE da Unigranrio sofre perseguição séria por parte da reitoria. A Unigranrio existe desde 1970. Era comandada por um grupo de professores, entre eles José de Souza Herdy, que dá nome à universidade. Ele já foi secretário de Saúde do município e teve papel importante na história da Baixada Fluminense. Mas, em 2021, a rede Unigranrio foi vendida Grupo AFYA um conglomerado brasileiro de educação que investe principalmente na área da saúde”.

“Desde essa venda, vemos o desmonte da Unigranrio. A universidade já estava em crise, com muitas dívidas, mas a compra piorou tudo. Eles tiraram cursos como Pedagogia e Serviço Social da modalidade presencial, fechando esses cursos para transformar a faculdade em uma instituição voltada quase exclusivamente à área da saúde. Os cursos fora dessa área, como Direito e Administração, têm ensino ruim, e a evasão de alunos só aumenta”.

Proibições aos alunos na Unigranrio

“Antes, não havia repressão política. Hoje, vivemos quase uma ditadura na universidade. Eles proíbem os estudantes de se organizarem, sujam a imagem do DCE com os professores, e barram nossas iniciativas, alegando que não somos um DCE legalizado porque não temos CNPJ. Mas a nossa luta é mostrar que o DCE não é uma empresa. Não é o CNPJ que define nossa existência. Os estudantes confiam no DCE para muitas questões”.

Protestos dos alunos contra a direção da faculdade – Foto: Arquivo pessoal DCE Unigranrio

“Nos organizamos quase clandestinamente. Somos expulsos de sala de aula por tentar divulgar eleições ou reuniões. Tudo que tentamos fazer na universidade é impedido. O caráter político que o DCE tinha antigamente desapareceu, infelizmente, por conta da gestão da Ânima, que só pensa em lucro. A evasão é enorme. Uma turma começa com 60 alunos e, no segundo semestre, já tem 40; no terceiro, 30; poucos conseguem se formar. A pressão sobre o DCE, sobre os CAs e qualquer projeto fora da área da saúde é gigantesca”.

Debate nas redes sociais

Nas redes sociais e fora delas, circulam debates e fake news sobre as universidades, sobre principalmente a atuação dos alunos. Allysson comenta como enfrentar isso:

R: “Essa questão dos grupos radicais, principalmente da direita, atacarem as universidades são porque sabem que a universidade é um espaço de debate onde se pode mudar a conjuntura do mundo. Grandes transformações vieram da academia: historiadores, filósofos, cientistas. A universidade é um lugar onde a direita não tem vez, porque é um lugar de debate real”.

VEJA: Trabalho em excesso: estudo mostra os prejuízos da escala 6×1 no Brasil

“Os estudantes aprendem a história e escolhem o lado certo da história, que não é o lado do preconceito e do autoritarismo. Como o Estado não controla diretamente o que é ensinado, eles tentam aplicar uma narrativa de doutrinação, mas para o errado. DCEs de universidades federais, como UFRJ e Unirio, funcionam bem e se organizam tranquilamente. Já os DCEs das privadas enfrentam muitas dificuldades. O sistema dessas instituições foi criado para excluir o movimento estudantil, ao ser ele que dá voz ao aluno para debater e entender o que é justo”.

A Unigranrio fica na Baixada Fluminense, mas recebe alunos de todo o estado. Allysson fala sobre como o local é visto por outras regiões e pelo mercado de trabalho:

R: “Temos que falar sobre quem está nas universidades privadas. Quem está nas universidades federais e estaduais, em sua maioria, são pessoas com condição financeira melhor, que tiveram educação de qualidade desde cedo, muitas vezes paga pelos pais. Moram em locais tranquilos, com espaço para estudar”.

“Já nas universidades da Baixada Fluminense, a maioria dos alunos vem de comunidades. Moro em Malforros e estudo em Caxias. Às vezes não posso ir à faculdade devido a tiroteios perto de casa. Acordar todos os dias é uma luta para sobreviver. Essas pessoas foram excluídas e agora tentam mudar de vida por meio da educação”.

Duque de Caxias poderia auxiliar a Unigranrio e também os alunos

Sobre Duque de Caxias, município que abriga a Unigranrio, Allysson acredita que o crescimento local pode fortalecer a instituição:

R: “Investir em políticas públicas na Baixada Fluminense, na Zona Norte e na Zona Oeste — regiões mais proletárias — seria essencial. Isso geraria empregos próximos às casas dos trabalhadores. Hoje, vemos jovens em trabalhos informais: mulheres vendendo quentinhas ou sendo manicures, homens no Uber ou mototáxi. Não que esses trabalhos não sejam dignos, mas a juventude merece mais. Merece direitos garantidos pela sociedade. Seria um ótimo debate discutir esse investimento no crescimento do município, para as pessoas trabalharem e participem da construção de seu próprio território”.

Cenário da educação no Brasil

Por fim, Allysson analisa o cenário da educação no Brasil, com foco nas instituições privadas, e aponta caminhos para a mudança:

R: “Quando falamos de educação no Brasil, principalmente privada, precisamos considerar que essas universidades só pensam em lucro. O capitalismo pensa no lucro primeiro, segundo, terceiro, sempre. O EAD foi criado com a ideia de atender quem não tem tempo para ir à universidade. Mas por que essas pessoas não têm tempo? Vivemos sob a lógica do 6×1. Acordamos às 7h para trabalhar às 9h, saímos às 18h, chegamos às 20h em casa. Mal sobra tempo para comer e dormir. Em vez de garantir o direito de estudar em uma universidade pública e gratuita, o sistema empurra essas pessoas para o EAD. Tanto no setor privado quanto no CEDERJ (plataforma das universidades públicas do RJ), isso é reflexo de um modelo de sociedade injusto”.

“Esse debate não é só sobre EAD, é sobre como as pessoas não têm tempo nem para viver. Lutar contra a escala 6×1 também é uma luta dos estudantes. Muita gente paga caro pelo EAD, mas não consegue espaço no mercado de trabalho. É comum entrar num Uber e o motorista dizer que é formado em Engenharia ou Direito, mas trabalha com transporte por falta de oportunidade. Precisamos mudar esse modelo. Se abolirmos a lógica do 6×1, podemos dobrar o número de vagas nos espaços de trabalho e garantir mais direitos à população”, concluiu ao MyNews, o estudante e presidente do DCE, Allyson Souza.

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