O ano eleitoral da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro vai começar. Após as eleições de 2024, o xadrez eleitoral da casa mudou e terá novidades, entre elas Maíra, do MST, eleita com quase 15 mil votos pelo PT. Desse modo, a parlamentar e historiadora de 29 anos conversou exclusivamente com o MyNews sobre os desafios.
Inicialmente, Maíra revelou detalhes e falou sobre sua trajetória política até ser eleita na cidade maravilhosa.
R: Eu nunca pensei em ser candidata e, na verdade, nunca decidi ser candidata. A minha candidatura foi uma decisão coletiva do MST e dos movimentos sociais, que aceitei como mais uma responsabilidade entre tantas outras.
Nasci e cresci em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Meus pais se conheceram no fervor da fundação e consolidação do PT, e desde pequena acompanhei minha mãe, professora da rede pública e sindicalista, nas lutas pela educação pública e de qualidade. Na adolescência, me envolvi com lutas pelo direito à cidade na região, que enfrentava um período de acirramento das contradições sociais devido aos megaeventos.
Decidi cursar História e entrei na UERJ, universidade sendo a cara do povo carioca e brasileiro, onde atualmente faço doutorado. Foi lá que conheci o MST e a luta pela reforma agrária popular. Senti o chamado para os movimentos sociais e me organizei no Levante Popular da Juventude. No Levante, onde atuei na coordenação nacional, participei de muitas tarefas e me formei militante: as lutas do feminismo no Rio, o movimento estudantil, compondo centro acadêmico e sendo coordenadora do DCE, além das mobilizações contra Cunha, Temer e Bolsonaro. Durante a pandemia, realizamos campanhas de solidariedade nas periferias, distribuindo alimentos saudáveis e fortalecendo a organização popular, trabalho que continuamos desde então.
Em 2022, tivemos uma vitória política no Rio de Janeiro com a eleição da deputada estadual Marina do MST, a primeira mulher Sem-Terra da ALERJ, inserida em um contexto mais amplo. A atuação eleitoral do movimento não é inédita; pelo contrário, o MST sempre participou. Porém, nos últimos anos, os movimentos do “campo popular”, como MST e Movimento Brasil Popular, reforçaram a necessidade de disputar a institucionalidade organizadamente, dentro de nossa estratégia de construção do projeto popular.
Maíra, do MST, vereadora no Rio de Janeiro, pelo PT
O resultado de Marina e tantos outros pelo Brasil confirmou a eficácia dessa deliberação. Então, no final de 2023, iniciamos o debate sobre a necessidade de uma candidatura para levar esse projeto à Câmara Municipal. Meu nome foi indicado e aprovado por se entender que uma jovem negra, professora de história e vinda da zona oeste seria a melhor escolha para enfrentar os desafios do Rio de Janeiro.
Aliás, será o primeiro mandato da vereadora, e aqui ela comenta sobre os desafios e também destaca o que considera importante atualmente. Afinal, Maíra defende outras bandeiras e, por ser jovem, é uma voz que a nova geração quer ouvir. Como está se preparando para essa responsabilidade?
R: A luta por reforma agrária popular é uma luta do campo e da cidade. O povo do Rio de Janeiro merece e precisa de alimentos saudáveis em seu prato. Nesse sentido, acredito que a Câmara em 2025 deveria ter uma prioridade: o combate à fome. O I Inquérito de Insegurança Alimentar da cidade, publicado em junho do ano passado, revelou um quadro gravíssimo. Em 2023, quase meio milhão de cariocas vivenciou a fome e mais de dois milhões enfrentaram algum nível de insegurança alimentar. Não há nada mais urgente nesta cidade!
A bandeira da soberania alimentar, garantindo alimentação de qualidade para a população, será minha principal pauta na Câmara. A implementação de cozinhas solidárias, hortas comunitárias e a reabertura de restaurantes populares estão entre as principais propostas que levarei.
Sei da responsabilidade de ser uma jovem mulher negra na Câmara. Meu mandato, portanto, terá o compromisso de lutar por políticas públicas de emprego e renda para a juventude do Rio, que amarga trabalho precarizado e desemprego, atingindo um quarto dos jovens, muito acima da média nacional. Aposto na cultura e na educação como eixos importantes para criar um novo horizonte para a juventude.
Muitos torcem o nariz ao ver alguém como eu na Câmara, mas tenho a segurança de carregar o nome do maior movimento social e do maior partido de esquerda da América Latina. Além disso, conto com os movimentos populares, organizações territoriais e lideranças comunitárias de todo o Rio de Janeiro para fortalecer meu mandato.
No Rio de Janeiro, prefeito e vereadores costumam cuidar pouco da segurança pública. No entanto, o debate sobre armar a Guarda Municipal voltou à pauta. Maíra detalha como será seu posicionamento em relação ao tema.
R: Nosso mandato se posiciona frontalmente contra o armamento da guarda municipal, mesmo que por meio de um destacamento específico. A Lei Federal 13.022/2014, que dispõe sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais, estabelece a função de proteção municipal preventiva, regida por princípios como a proteção dos direitos humanos fundamentais. Ainda assim, historicamente, a guarda usa força indiscriminadamente contra camelôs, vendedores ambulantes e trabalhadores informais, em geral. Armar a guarda só aumentaria essa repressão cotidiana, desrespeitando sua função constitucional, e não há estudos que indiquem a diminuição da violência em municípios onde a GM é armada.
Defendo a valorização da guarda por meio de um novo Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), reformulando a Lei Complementar Municipal 135/2014. Essa demanda é antiga da categoria sendo reforçada pelos trabalhos da comissão especial nº 1603/2023 da Câmara do Rio, dedicada ao tema. Também vejo como fundamental uma política permanente de capacitação dos agentes, com um plano de formação voltado para a administração de conflitos.
Por fim, Maíra deixa um recado para quem a apoiou e também deseja saber mais sobre seus trabalhos, além de participar ativamente do seu mandato.
R: Convido cada um e cada uma que se indigna ao ver a fome assolando nossa população a se unir à nossa construção. Nosso mandato é popular e participativo, e a organização popular é a chave para nossa formulação política. Convido todas e todos a acompanharem minhas redes sociais e firmo o compromisso de que o gabinete estará sempre de portas abertas para quem quiser apresentar problemas, pensar soluções e organizar a luta.