A disputa por território tem gerado uma série de consequências graves, incluindo sequestros, extorsões e homicídios, afetando a segurança da população em geral.
Em 27/07/23 07:31
por Coluna da Sylvia
Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam
Ter um país instável e violento na região não é uma boa notícia para nenhum vizinho. É por isso que as autoridades sul-americanas, e brasileiras especialmente, deveriam ter oferecido apoio há tempos, garantindo que o Equador pudesse realizar eleições realmente limpas e, sobretudo, pacíficas neste próximo dia 20 de agosto.
Vamos lembrar que o mandato do atual presidente, Guillermo Lasso, foi interrompido pelo mecanismo conhecido como “morte cruzada”, quando as relações entre o Congresso e o Executivo atingiram um limite crítico, levando Lasso a decretar o fechamento do Congresso e a renunciar ao poder, convocando novas eleições gerais.
Uma das principais razões para o desgaste de Lasso foi a crise nas prisões, um problema que já vinha aumentando antes de que tomasse posse e que se agravou durante o seu período no governo.
A violência tanto dentro como fora das grades tem sua origem na internacionalização do narcotráfico equatoriano, com a entrada de cartéis estrangeiros fortalecendo os já existentes no país. Hoje em dia, atuam no Equador cartéis mexicanos, colombianos, ex-guerrilhas, dissidentes, facções venezuelanas e outras organizações ligadas ao tráfico de drogas, como a Máfia Balcânica, organização albanesa instalada no país há mais de uma década.
O narcotráfico aproveitou-se da crise econômica e social que o Equador enfrenta, e que ficou evidente com a revolta dos indígenas contra o empréstimo do FMI em 2019. Essa crise apenas se agravou no cenário pós-pandemia, proporcionando um ambiente favorável para o crescimento das atividades ilícitas relacionadas ao tráfico de drogas.
Nos últimos meses, entre os imigrantes clandestinos que buscam chegar aos EUA, a população de equatorianos é a que mais tem crescido, ao lado dos haitianos, de acordo com dados das Nações Unidas.
A disputa por território tem gerado uma série de consequências graves, incluindo sequestros, extorsões e homicídios, afetando a segurança da população em geral. Nas prisões superlotadas, há massacres entre gangues e confrontos promovidos pelas forças de segurança.
Lasso, sem apoio no Congresso, não teve poder político nem pessoal para enfrentar esse desafio, desde o primeiro dia. Ele diz, em sua defesa, que esses distúrbios seriam causados por forças relacionadas a seu rival, o ex-presidente Rafael Correa, condenado por corrupção e fora do país.
Nesta semana, o mandatário decretou estado de emergência nas prisões e impôs um toque de recolher noturno em três províncias da costa, após um fim de semana marcado pela morte de oito pessoas, incluindo um prefeito.
Com o Estado de Emergência, Lasso tem como objetivo libertar dezenas de agentes penitenciários que estão sendo mantidos como reféns. Por outro lado, organismos de direitos humanos alertam para abusos que estariam sendo cometidos contra os detentos.
Impossível não temer distúrbios no próximo dia 20 e nas semanas seguintes à eleição. A comunidade internacional deveria estar mais alerta.
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