Insinuação do presidente casa com movimentação digital de seus apoiadores em redes sociais, que suscitam ideia de que ele contribuiu para suposta retirada das tropas russas da fronteira com Ucrânia.
por Julia Melo em 17/02/22 11:00
Em entrevista coletiva realizada na quarta-feira (16), feita de Moscou, o presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou sobre o anúncio de recuo das tropas russas no mesmo dia em que ele chegou à capital do país.
“Mantivemos a nossa agenda [de visitar a Rússia]. Por coincidência, ou não, parte das tropas deixaram a fronteira e, pelo o que tudo indica, uma grande sinalização de que o caminho da solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia”, afirmou Bolsonaro.
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A insinuação presente na fala do presidente embarca numa tendência “irônica” de sua base de apoio. O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicou na terça-feira (15) uma montagem da capa da revista norte-americana Time.
Parabéns, Presidente! pic.twitter.com/lKyJIoQsVY
— Ricardo Salles (@rsallesmma) February 15, 2022
Em outra publicação, Salles simulou uma postagem da CNN, com o texto “Putin sinaliza recuo na Ucrânia, presidente Bolsonaro evita 3ª guerra mundial”. Em entrevista ao Painel da Folha de S. Paulo, Salles disse que foi um meme e que “qualquer pessoa com dois neurônios” viu que era uma brincadeira.
A hashtag “Bolsonaro evitou a guerra” tem sido usada pelos apoiadores para tratar da situação como uma grande brincadeira, conforme dito por Salles. A base bolsonarista afirmou que a imprensa, a qual eles atacam fortemente, caiu na brincadeira e não soube interpretar.
Independente de ter sido um meme, ou não, o fato é que o encontro do líder brasileiro com o russo não teve o objetivo de tratar sobre as tensões na Europa. Segundo Bolsonaro, a reunião – que foi privada – abordou temas como tecnologia, agricultura e segurança. À CNN, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que um dos tópicos da conversa entre Bolsonaro e Putin deveria ser a garantia de que a Rússia manterá o fornecimento de fertilizantes ao Brasil.
Apesar do anúncio feito pela Rússia na terça (15) de que algumas tropas posicionadas na fronteira estariam de retirada e voltando para as bases, a Otan informou na quarta (16) que não identificou uma diminuição no contingente militar. O secretário-geral do grupo, Jens Stoltenberg, afirmou que imagens de satélite mostram o oposto. Segundo ele, a Rússia estaria intensificando a presença na região – mas as representações dos satélites não foram compartilhadas.
As polêmicas da viagem
O presidente embarcou na segunda-feira (14) para a Rússia em meio à crise entre o país europeu e a Ucrânia. Desde o final do ano passado, forças militares russas se posicionam na fronteira do território vizinho, o que seria uma retaliação à possibilidade da Ucrânia integrar a Organização do Atlântico Norte (Otan). Diante das chances do início de um conflito, a ida de Bolsonaro – marcada desde o ano passado após convite do presidente da Rússia, Vladimir Putin, dividiu opiniões.
Os Estados Unidos, que anunciaram sanções em caso de invasão russa, não gostaram da confirmação de que a viagem aconteceria. O Departamento de Estado dos EUA falou da liberdade que os países têm nas relações internacionais, mas reforçou: “o Brasil tem a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades”.
O diplomata Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores do governo Lula e ministro da Defesa no governo Dilma, se colocou a favor da viagem de Bolsonaro. Para ele, não fazer a viagem que estava agendada desde o ano passado seria um sinal de submissão à agenda americana. Segundo a jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, Bolsonaro manteve a viagem por esse motivo: o de não querer parecer submisso aos Estados Unidos.
Em entrevista à RedeTV, o ex-chanceler Ernesto Araújo, que fez parte do governo Bolsonaro, criticou a viagem. Segundo ele, o presidente mostra uma preferência pela Rússia: “neutralidade é você visitar ou os dois que estão em conflito ou nenhum”, afirmou Araújo.
Já em solo russo, Bolsonaro continuou defendendo a viagem e atacando a postura de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Rússia foi citada, na terça, pelo ministro do STF Edson Fachin. Ele assume o TSE no dia 22 de fevereiro e participou de uma reunião de transição com o ministro Luís Barroso, atual presidente da corte eleitoral.
Fachin afirmou que distorções da realidade somadas ao extremismo querem atingir o reconhecimento histórico que o TSE tem. O ministro ainda ressaltou que a principal preocupação para 2022 é a segurança cibernética e que muitos ataques cibernéticos vêm da Rússia.
Em entrevista à Jovem Pan, na noite da quarta, Bolsonaro chamou os ministros do STF de “adolescentes”, e disse que seria constrangedor se tivesse que se encontrar com Putin novamente após a fala de Fachin.
O presidente desembarcou nesta quinta-feira (17) em Budapeste, Hungria, onde deve se encontrar com o primeiro-ministro Victor Orbán, líder político da extrema-direita. Também está marcada uma reunião com o presidente húngaro, János Árder. A volta para o Brasil está prevista para acontecer ainda nesta quinta e um sobrevoo na região de Petrópolis foi agendado para sexta-feira (18).
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