Se o Canadá se tornasse o 51º estado norte-americano, Trump não ficaria nada satisfeito com os seus resultados eleitorais: certamente esse novo estado votaria nos democratas
Como um verdadeiro showman, Donald Trump sabe capitanear os holofotes na sua direção. Desde que iniciou seu segundo mandato, há cerca de 100 dias, o presidente norte-americano não saiu das manchetes dos principais jornais do mundo. Ame-o ou odeie-o, a verdade é que Trump vem influenciando e chacoalhando as estruturas do quebra cabeça da geopolítica.
Obviamente que esse tipo de influência não iria ficar de fora das eleições de um dos seus principais parceiros econômicos, o Canadá.
Antes da era Trump 2.0, o Canadá passava por uma crise de identidade política ocasionada pelo desgaste do Partido Liberal. Os Liberais governam o país há uma década, e nos últimos 4 anos, a qualidade de vida dos canadenses vem se deteriorando gradualmente, com o aumento no preço dos imóveis e dos insumos básicos, um desaquecimento no mercado de trabalho, e, adivinhem? crise imigratória.
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Diante desse diagnóstico problemático de país desenvolvido, já era de se esperar que alguém com um discurso populista e nacionalista, e com uma mensagem a là “Vamos Fazer o Canadá Grande de Novo” iria ganhar espaço no espectro político. E foi isso o que aconteceu com o surgimento da figura de Pierre Poilievre, líder do partido conservador e apelidado de mini-Trump, tido inicialmente como potencial vencedor das eleições de 2025.
Porém tudo virou de cabeça para baixo por conta da conduta de Trump em relação ao Canadá. Trump trouxe sal e pimenta a uma eleição que seria insossa e quase certa! Sua conduta gerou imensa revolta aos canadenses.
Trump trata o país com desprezo, aumenta tarifas, gera instabilidades diplomáticas, e ainda humilha os canadenses ao mencionar que gostaria de transformar o Canadá no 51º estado norte-americano, passando a chamar seus primeiros-ministros de governadores. Isso pode parecer engraçado e absurdo, mas foi levado muito a sério pelos canadenses que demonstraram sua insatisfação nas urnas.
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Involuntariamente, o presidente norte-americano fez florescer um nacionalismo diferente do nacionalismo que ele prega. O nacionalismo canadense é “globalista” e possui outra identificação – pois os Liberais ganharam, e levaram a maioria das cadeiras do parlamento, e seu líder, Mark Carney, será o novo primeiro-ministro.
Carney representa tudo que o trumpista clássico condena: formado em Harvard e Oxford, possui extensa carreira no setor financeiro e foi dirigente dos bancos centrais do Reino Unido e do Canadá. É um político mais técnico e burocrata – oposto do que Trump e sua panelinha representam.
Carney venceu essas eleições pois ele era justamente o oposto de Donald. O então candidato buscou resgatar o sentimento de orgulho canadense, porém, agora precisará se provar o líder que essa nação precisa num momento de crise.
O novo primeiro-ministro disse que vai fomentar o comércio entre as províncias canadenses, repensar o mercado energético, e buscar uma maior independência econômica dos EUA – seu principal parceiro econômico.
Carney precisará provar que ele é o adulto da sala. Será que ele conseguirá patentear um novo tipo de nacionalismo, de cunho mais liberal e com apelo para outras nações?