Neurocientista Steven Rehen destaca que efeitos são causados pela capacidade do Covid-19 alterar genes que fazem corpo responder a neuroinflamações e por provocar lesões microvasculares no cérebro
por Juliana Cavalcanti em 17/09/21 23:11
Uma pesquisa da University College of London mostrou que além dos sintomas neurológicos mais comuns da Covid-19 – como perda de olfato e paladar, fadiga dor muscular e dor de cabeça, pelo menos 23% das pessoas que tiveram Covid-19 desenvolveram depressão e 16% tiveram quadros de ansiedade. Outra pesquisa feita numa parceria entre o Imperial College e o Kings College mostraram que pacientes recuperados apresentaram problemas cognitivos que prejudicaram a memória e o raciocínio. Essas pesquisas apontam para efeitos da doença que permanecem mesmo depois que a pessoa é considerada “recuperada” da doença, refletindo em traumas e numa necessidade de focar na reabilitação dessas pessoas.
O neurocientista Steven Rehen destaca que esses efeitos são causados pela capacidade do novo coronavírus de alterar genes que fazem o corpo responder a neuroinflamações e também por provocar lesões microvasculares no cérebro. Para o pesquisador, é interessante abordar esses aspectos num momento em que o Ministério da Saúde tem divulgado informações comemorando 20 milhões de pessoas recuperadas da doença.
“Quando a gente sabe que tem sequelas graves em boa parte dessa população. Essas alterações podem ter impacto no médio e no longo prazo. Há casos de Parkinson que foram gerados por conta do Covid-19 e há também uma expectativa ruim de aumento dos casos de demência e Alzheimer também por conta da infecção”, explicou o neurocientista, em entrevista ao Quinta Chamada Ciência.
Além dessas sequelas, a Covid-19 também pode provocar situações como pensamento sem clareza, perda de atenção e de memória provocados pela falta de oxigenação, já que a doença afeta especialmente os pulmões, ou pela inflamação no cérebro. “Infelizmente há uma série de sequelas possíveis que são causadas pela infecção direta sobre o cérebro, ou pela infecção sistêmica. São consequências preocupantes”, avaliou Steven Rehen.
Outro reflexo da pandemia do novo coronavírus evidenciado através de uma pesquisa realizada pelo Datafolha são os efeitos emocionais e psicológicos da pandemia na população. No levantamento, 44% das pessoas entrevistadas relataram problemas psicológicos durante a pandemia, especialmente mulheres, jovens, pessoas com alta escolaridade e pessoas sem filhos.
Para a bióloga Ana Bottalo, esse percentual pode até ser maior do que o apontado pela pesquisa Datafolha, pois existe uma estigmatização das doenças mentais que pode fazer as pessoas terem receio de revelarem o que estão enfrentando.
“Ainda é um tabu dizer que você está sofrendo de ansiedade ou depressão. Que você não está conseguindo manter um ritmo que seria esperado. É preciso falar sobre isso, num momento que todo mundo ficou parado nas suas casas. É normal você falar que não está aguentando, que a pressão está muito forte, que dentro de casa há uma sobrecarga de trabalho, que você é pago para fazer (home office), aliado às tarefas domésticas e aos cuidados dos filhos. Ao mesmo tempo que foi uma forma de estar mais presente, a gente está mais ausente também, pois está o tempo todo conectado, com a necessidade de fazer mil tarefas ao mesmo tempo. É possível ter havido uma subnotificação porque as doenças são autodeclaradas”, ponderou a bióloga.
O jornalista Salvador Nogueira lembrou que a ansiedade e o stress afetaram também as pessoas que precisaram sair para trabalhar, que também enfrentaram situações dramáticas de ter que se proteger e do medo de infectarem pessoas próximas.
Steven Rehen citou que após a gripe espanhola, no início do Século XX, uma pesquisa na Noruega mostrou aumento de até sete vezes nos casos de depressão, ansiedade e distúrbios do sono – no que se pode chamar de uma epidemia de tristeza – e que uma situação de pandemia pode ser comparada a situações de guerra e desastres naturais.
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