Cultura

DESPEDIDA

Jornalista e cineasta Arnaldo Jabor morre aos 81 anos

Carioca estava internado no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo desde dezembro de 2021, quando foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Causa da morte foi apontada como complicações do AVC.

por Suzana Souza em 15/02/22 11:57

Faleceu na madrugada desta terça-feira (15) o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor. Foto: Reprodução (Redes sociais).

Faleceu, na madrugada desta terça-feira (15), o jornalista, cineasta e escritor Arnaldo Jabor. O carioca de 81 anos estava internado no Hospital Sírio-Libanês, localizado na área central de São Paulo, desde dezembro de 2021, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). A causa da morte foi em decorrência das complicações do AVC. 

Jabor foi um dos grandes nomes da segunda fase do Cinema Novo, movimento cinematográfico das décadas de 60 e 70 que buscou expor as desigualdades sociais brasileiras. Ele esteve sob a direção de sete longas, dois curtas e dois documentários. Jabor também era cronista e jornalista e atuava desde 1991 como colunista dos telejornais da TV Globo. Ele foi, ainda, autor de oito livros.  

Entre suas principais obras no cinema estão os longas “Eu sei que vou te amar” (1986), indicado à Palma de Ouro de melhor filme do Festival de Cannes, e “Toda Nudez Será Castigada” (1973), uma adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim no mesmo ano.

No jornalismo, Jabor também foi colunista do jornal O Globo e comentarista na rádio CBN, além de ter feito parte de grandes telejornais da TV Globo como o Jornal Nacional, Jornal da Globo, Bom Dia Brasil e Jornal Hoje. Ex-colega de Jabor no programa Manhattan Connection, o jornalista Lucas Mendes comentou, por meio de nota, sobre o primeiro contato com o carioca.

“Quando Jabor foi escolhido pela direção do GNT para substituir o [Paulo] Francis em 1997 fiquei meio ressabiado, só conhecia de um encontro no escritório da Globo uns tempos antes. Ele se apresentou a nós, inclusive ao Francis, como Francis brasileiro. O próprio Francis ficou meio confuso. Ele tinha publicado Sanduíches de Realidade [livro] naquele ano e escrevia colunas indignadas com o Brasil e o mundo, mas em geral, no trato pessoal e no programa o descobrimos um homem mais conectado com a ficção, o humor e o amor”, escreveu.

Arnaldo Jabor (de camisa escura) ao lado de Bruno Barreto, Cacá Diegues e Glauber Rocha. Foto: Reprodução (WordPress)

Parceria com Nelson Rodrigues

Para o diretor, autor e ator de teatro Edson Bueno, Jabor foi um dos poucos que conseguiu traduzir com exímio talento a obra do escritor Nelson Rodrigues para as telas do cinema.  

“Jabor é dono de uma das maiores obras do cinema brasileiro, sem dúvida alguma. Ele criava a partir de uma consciência profunda, intensa, preocupada, reflexiva e muito artística. Soube como ninguém mais traduzir para o cinema a obra de Nelson Rodrigues. Na minha opinião, o ‘Toda Nudez será castigada’ é um dos 10 melhores filmes brasileiros de todos os tempos”, declarou o diretor. 

Ele lamentou, ainda, que o carioca não tenha se dedicado à produção de mais obras cinematográficas. “Uma pena que ele não tenha feito mais filmes, a contribuição dele para o cinema brasileiro, que já foi de suma importância, seria maior ainda. […]  Como eu dirigi muitas peças de Nelson Rodrigues eu sempre tive uma afinidade muito grande com a obra de Jabor. Eu acho que ele é uma influência artística muito grande e um artista muito potente, muito importante”, disse Bueno. 

Além dos dois longas já citados, Jabor foi diretor de “Pindorama” (1970) indicado à Palma de Ouro do festival de Cannes; “O Casamento” (1975), que rendeu a premiação da atriz Camila Amado com o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado; “Tudo Bem” (1978), vencedor o prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília; “Eu te amo” (1981), estrelado por Paulo César Pereio e Sônia Braga; e “A Suprema felicidade” (2010), com os atores Dan Stulbach e Marco Nanini.

Imagem do longa ‘Toda nudez será castigada’ (1973). Foto: Reprodução

De acordo com a Folha de São Paulo, Jabor deixou um filme inédito, baseado em uma crônica de Rubem Fonseca. “Meu Último Desejo” foi filmado em São Paulo e teve o ator Michel Melamed no elenco.

Para o jornalista e crítico cultural Bruno Cavalcanti, Jabor recebeu pouco reconhecimento em comparação à sua importância para o cinema brasileiro. “Com 81 anos o Jabor seguia produzindo e pensando intensamente. Para o cinema nacional a contribuição dele é maior do que ganhou o crédito. Ele fez no Brasil o mesmo que o Almodóvar fez na Espanha e, dada as mesmas proporções, o que o Woody Allen fez na América. Ele lançou um olhar para a hipocrisia da sociedade e a falência da burguesia, muito cáustico, muito sardônico”, explicou Cavalcanti. 

De acordo com ele, outro ponto essencial na leitura da obra de Jabor é a contribuição dele na consagração de grandes nomes do audiovisual. “Ele consagrou a Sônia Braga, a Fernanda Torres, a Darlene Glória, a Camila Amado… E ainda assim teve pouquíssimo crédito”, afirmou o jornalista. 

“Eu acredito que a importância dele foi ter deixado essas grandes estrelas, ter levado Nelson Rodrigues para o cinema com muita potência, com muita forca, e ter feito a gente começar a pensar melhor nessa nossa burguesia”, concluiu o crítico. 

Obra documental 

Além das obras de ficção, o cineasta esteve à frente de produções documentais de relevância para o cinema brasileiro. De acordo com a jornalista, curadora e pesquisadora de documentários Maria Mendes, “Opinião Pública” (1967), foi um marco para a vanguarda da produção documental no país.

Imagem do documentário ‘Opinião Pública’ (1967). Foto: Reprodução

“A produção cinematográfica de Arnaldo Jabor é fundamental para compreender o Brasil. Até o seu ‘Opinião Pública’, documentário realizado em plena ditadura, a classe média brasileira nunca tinha filmado a si mesma. É um trabalho único e essencial para entender o pensamento urbano de uma elite, não apenas por retratá-la, mas por construir um dispositivo de filmagem no qual o próprio documentarista aparece”, explicou a pesquisadora. 

O documentário, segundo ela, foi feito sob as ideias do Cinema Novo e concebido a partir de “uma maneira até então inédita de filmar país”. Para Mendes, a produção ficcional de Jabor também conseguiu apresentar alegorias das relações humanas. 

“Inclui aspectos profundamente brasileiros e um pensamento psicanalítico, ácido, irônico. Influenciado por Nelson Rodrigues, que tão bem o soube fazer na literatura, Jabor retrata o alheamento e a hipocrisia moral da classe média brasileira num período crítico da sua ainda curta história política”, declarou a pesquisadora.

Confira edição do Almoço do MyNews com comentários sobre a obra de Jabor

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