Fundador da Abraji e referência de ética e rigor, formou gerações de repórteres e mostrou a força do jornalismo para a democracia.
Morreu neste 28 de julho um dos jornalistas brasileiros mais celebrados e reconhecidos: Marcelo Beraba, aos 74 anos. Repórter, editor, ombudsman, mestre de redações e criador da Abraji, ele deixa um legado no jornalismo brasileiro, formado não apenas por grandes reportagens, mas, sobretudo, pela formação de gerações inteiras de jornalistas que aprenderam com ele o valor da ética, da independência e da verdade.
Beraba começou a carreira muito jovem, no O Globo, e logo se destacou pela seriedade e pela paixão pela notícia. Nos anos seguintes, passou por algumas das redações mais importantes do país. Na Folha de S.Paulo, dirigiu a sucursal do Rio, foi secretário de Redação, repórter especial e ombudsman. Esteve também no Jornal do Brasil, na TV Globo e, mais tarde, no Estado de S. Paulo.
Mas talvez seu maior feito tenha sido em 2002, quando, após um seminário no Rio, reuniu colegas e propôs a criação de uma entidade dedicada a fortalecer o jornalismo investigativo no Brasil. Assim nasceu a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), formalizada no ano seguinte e da qual foi o primeiro presidente. Sob sua liderança, a Abraji se tornou uma referência internacional, promovendo congressos, treinamentos e defendendo a liberdade de imprensa e o acesso à informação.
Quem conviveu com Beraba lembra não apenas do jornalista, mas do colega generoso, sempre disposto a ensinar e a dividir conhecimento. Tinha o hábito de chamar os colegas de “mestres”, um gesto que dizia muito sobre sua visão: no jornalismo, todos têm algo a ensinar.
Marcelo Beraba partiu deixando a mulher, a também jornalista Elvira Lobato, filhas, netos e um círculo imenso de amigos e admiradores. Mais do que a memória de um profissional brilhante, ele deixa um farol para o jornalismo brasileiro: a convicção de que ética, rigor e compromisso democrático são indispensáveis para a imprensa cumprir seu papel.