Estudo da IFI (Instituição Fiscal Independente), a ser divulgado terça, mostra que, já este ano, o governo terá limitações para manter a máquina, diz Marcus Pestana. Em breve, não haverá recursos sequer para pagar luz, internet ou gasolina dos órgãos públicos; em 2027, o colapso total
O Brasil já enfrenta um estrangulamento orçamentário em 2025. Em 2026, o cenário será ainda mais grave. E, a partir de 2027, o governo simplesmente perderá a capacidade de governar. Essas são as projeções alarmantes do novo relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI), que será divulgado na próxima terça-feira. O relatório diz ainda que para ter uma estabilidade na trajetória da dívida pública será necessário ter um superávit médio de 2,1% do PIB ao ano.
Segundo Pestana, o relatório vai trazer a projeção de crescimento da dívida. “A gente não tem a mesma curva do Ministério da Fazenda, onde a Secretaria de Política Econômica aponta que a partir de 2028 a curva se inverte e estabiliza, a gente não consegue enxergar isso”, diz ele.
Na primeira semana de julho, a IFI divulgará ainda um estudo específico sobre as necessidades de financiamento na saúde para os próximos 50 anos, face à transição demográfica, a mudança de base tecnológica, a incorporação de tecnologias e a necessidade de universalização, de ampliação. ‘A nossa ideia é fazer para a educação e previdência também, as três principais políticas públicas, para você ter uma perspectiva de longo prazo para subsidiar os tomadores de decisão”, diz Pestana.
“O Brasil caminha para ser ingovernável.”, diz IFI. Fim do governo operante
O ponto de ruptura já aparece nas projeções oficiais. A partir de 2027, segundo o relatório, as despesas discricionárias se tornam negativas, algo que, no papel, pode existir, mas na realidade significa o seguinte: não haverá recursos sequer para pagar luz, internet ou gasolina dos órgãos públicos.
“O presidente da República deixará de ter margem para governar. O orçamento brasileiro, que já é o mais engessado do mundo, se tornará completamente rígido. Tudo será despesa obrigatória”, explica Pestana.
Mas o sufoco começa antes
O alerta, no entanto, não se restringe ao futuro. Já em 2025, o governo terá grandes dificuldades para manter investimentos e serviços básicos. Em 2026, o cenário se agrava.
“É a crônica de uma morte anunciada”, diz Pestana. “O governo já está suando a camisa para zerar o déficit, mas mesmo isso não resolveria.”
Zerar o déficit, segundo a IFI, não estanca a trajetória da dívida pública. Para estabilizá-la, seria necessário um superávit primário de 2,1% do PIB ao ano por pelo menos uma década.
Presidente do IFI, Marcus Pestana/Foto: Pedro França/Agência Senado
O tamanho do ajuste: R$ 500 bilhões por ano
Com base em um crescimento médio do PIB de 2,2% e juros implícitos de 5% ao ano, a conta é clara: seria necessário um ajuste fiscal da ordem de R$ 500 bilhões anuais para estancar a dívida e recuperar a capacidade de investimento público.
Hoje, o orçamento de investimentos do PAC, um dos principais programas do governo Lula, é de apenas R$ 60 bilhões em uma receita líquida de R$ 2,3 trilhões. “É irrisório para um país continental como o Brasil”, diz Pestana. “E, ainda assim, pode não se concretizar.”
Cenário de paralisia: sem gasolina, sem internet, sem insumos
O relatório da IFI detalha o que significa o colapso das despesas discricionárias: o país paralisado. Sem verbas para custeio, não haverá investimentos em portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, moradia popular, ciência, tecnologia, nem mesmo para pagar despesas básicas de ministérios, universidades ou forças de segurança.
“O Brasil se tornaria ingovernável. O presidente da República se tornaria refém de um orçamento que ele não comanda”, afirma Pestana.
Parlamentares já perceberam a gravidade
Na avaliação do diretor da IFI, há um aspecto positivo no recente impasse entre Executivo e Congresso: a crise escancarou a realidade.
“Para resolver um problema, o primeiro passo é reconhecer que ele existe. A queda de vetos, a resistência à MP fiscal, o PDL do IOF tudo isso mostra que o alerta está sendo ouvido.”
Pestana diz manter diálogo constante com parlamentares, e muitos já têm clareza da gravidade.
“Não haverá ajuste fiscal indolor. Alguém terá que abrir mão de benefícios. Mas, no médio e longo prazo, todos ganham com a estabilidade.”
E recorre a uma frase emblemática do autor de “Grande sertão veredas”.
“O Guimarães Rosa dizia que o sapo não pula por boniteza, mas por precisão. Pois bem: o sapo vai pular. A realidade vai se impor. O problema é que, se pular só em 2026 ou 2027, pode ser tarde demais”, alerta Pestana.
A solução? Um pacto político corajoso, que envolva sociedade, Congresso e governo. “A crise está diagnosticada. Agora é preciso agir.”
O que é a IFI?
A Instituição Fiscal Independente (IFI) foi criada em 2016 pelo Senado Federal visando produzir análises técnicas, apartidárias e transparentes sobre as contas públicas brasileiras. Seu papel é acompanhar a política fiscal do país, projetar cenários para a dívida pública, avaliar metas fiscais e oferecer diagnósticos que contribuam para a qualidade do debate orçamentário e a responsabilidade na gestão dos recursos públicos. A IFI tem como diferencial a independência em relação ao governo e ao Congresso, sendo considerada hoje uma das fontes mais respeitadas para avaliação da saúde fiscal do Brasil.
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