Estudo indica que o cultivo de árvores de eucalipto ao redor de fragmentos florestais pode ajudar a conservá-los. Mudança na estrutura da floresta pode reestabelecer condições e relações ecológicas, contribuindo à conservação.
por Agência Bori em 16/06/22 10:02
O cultivo de eucalipto ao redor de fragmentos florestais pode ajudar a preservá-los e a retardar os efeitos nocivos do efeito de borda (alteração de estrutura/composição/quantidade da espécie), indica um estudo publicado na “Revista do Instituto Florestal” da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) e do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os pesquisadores compararam efeitos de plantações de eucalipto, pastagem e cana-de-açúcar que circundavam áreas de fragmentos de floresta semidecidual no município de Piracicaba, no interior de São Paulo. Regiões próximas ao eucalipto apresentaram maior biodiversidade, indicando maior nível de proteção fornecido pelas árvores.
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O estudo foi realizado em dezoito fragmentos da floresta estacional semidecidual de diferentes tamanhos em Piracicaba (SP), utilizando amostragem de campo e imagens de satélite. Foi comparado o nível de degradação desses remanescentes florestais circundados por plantações de eucalipto, pastagem e cana-de-açúcar, que dominam a paisagem do interior paulista. Estas largas plantações em monocultura se assemelham a oceanos, onde estariam inseridas as ilhas de mata remanescente. As espécies na periferia destas regiões sofrem com o chamado efeito de borda: antes cercadas por outras, em um contínuo com uma estrutura florestal, agora estão expostas a diferentes condições de sol, vento e umidade, levando a uma alteração dos padrões e das relações ecológicas do ecossistema. O trabalho aponta que cultivos no entorno desses fragmentos, quando bem planejados, podem retardar tais mudanças e mesmo ajudar a preservá-los. Os autores identificaram que fragmentos circundados por eucalipto apresentaram uma redução do efeito de borda, o que resultou na maior diversidade de espécies encontradas.
A proposta foi verificar os efeitos do entorno em regiões florestais restantes após o desmatamento, comparando plantações de eucalipto, de pastagem e de cana-de-açúcar. “A ideia é que se você fizer um cinturão protetor ao redor do fragmento florestal em que haja interesse econômico, como de eucalipto, nós podemos estabelecer condições parecidas com a da floresta, diminuindo o efeito de borda. Em vez de plantações como a de soja irem até a beirada da floresta, você teria uma área que ameniza esta transição – o eucalipto é a borda agora”, afirma Ciro Abbud Righi, coautor do estudo e professor na ESALQ/USP.
A presença de árvores pode formar barreiras que ajudam a preservar integridade e proteger contra o efeito de borda, mantendo a estabilidade do ambiente e a biodiversidade. Righi explica: “A estrutura da floresta tem uma função. Quando você reestabelece a estrutura, mesmo que seja com plantas exóticas como o eucalipto, você começa a reestabelecer processos: ciclagem de nutrientes, barrar vento, barrar energia solar e facilitar o deslocamento de animais. É o ambiente que determina os seres que ali habitarão”. Assim, as árvores, dado seu porte e longa permanência, possuem papel crucial na preservação dos remanescentes e da biodiversidade, que agora se encontra separada em diversos pequenos fragmentos.
A autora principal do estudo, a gestora ambiental Mariane Martins Rodrigues, ressalta que são necessários mais estudos, já que a amostragem analisada foi específica à região analisada, mas que há indicativos claros de que, trabalhando o entorno, é possível preservar a floresta: “A melhora mais significativa foi da diversidade de espécies nos fragmentos próximos ao eucalipto, o que se deve à proteção que parece imitar a estrutura de uma floresta. Mas é necessário avançar nos estudos de sistemas florestais em larga escala, que poderiam modificar toda a relação do entorno com os remanescentes”. Assim, estes pedaços de biodiversidade poderiam ser unidos, permitindo o trânsito de insetos e outros animais responsáveis pela polinização e dispersão de sementes. “É possível pensar as áreas agrícolas de produção como fator de preservação – o que estende o potencial de intervenção com efeitos potencialmente benéficos” concluem os autores.
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