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A crise de identidade europeia

União Europeia nunca mais foi a mesma desde o Brexit, evento que marcou e consolidou a crise identitária, econômica e política da Europa Moderna

por Maria Antonia De'Carli em 04/02/25 17:04

Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu | Foto: Reproução/Wikimedia Commons

Num recente painel do Fórum Econômico Mundial, Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu, reconheceu que a União Europeia se encontra diante de uma crise de identidade. Na sua fala, ela reiterou que sua visão era realista e que não dava para negar o momento que a Europa está vivendo.

De fato, madame Lagarde tem razão, a União Europeia nunca mais foi a mesma desde o Brexit, evento que marcou e consolidou a crise identitária, econômica e política da Europa Moderna. O Brexit foi fruto do populismo europeu que surgiu no início da década de 2010, movimento que cresceu simultaneamente nas principais economias europeias e soube capitanear, com muita eficiência, uma fração importante da população deste continente que estava insatisfeita com o modelo de integração europeu, pois não se identificavam nem com a ideologia do “progressismo liberal” e nem estavam inseridas economicamente no modelo “capitalista global”, ou seja, essas pessoas eram excluídas sumariamente do sistema.

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O Brexit vai completar uma década, e desde então nada mudou, na verdade, só piorou, principalmente para os entusiastas do modelo pró-europeísta. Um novo modelo de governança vem ganhando tração e se concretizando no tabuleiro político europeu, me refiro aqui ao modelo do nacionalismo populista que teve seu ponto de partido com o Movimento 5 Estrelas da Itália e com as sucessivas eleições de Viktor Orbán na Húngria.

O nacionalismo populista europeu do século 21 possui diferentes formatos, pois ele se flexibiliza para caber no contexto específico de cada nação. Ele pode surgir no formato da extrema direita, ou ultra-direita, ou direita ideológica (caracterize como quiser, mas todos dizem o mesmo no seu âmago). As mensagens desses movimentos e partidos são claras: possuem um discurso divisivo de nós-contra-eles (típico do populismo clássico); enfatizam os valores nacionalistas de suas respectivas nações; criticam a ordem multilateral de uniões comerciais e sistemas como a ONU e a OMC; e principalmente, são extremamente eficientes nas suas mensagens de convencimento ao público, pois sabem jogar o jogo emocional como ninguém, e convencem eficientemente os eleitores revoltados e insatisfeitos.

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O emocional foi um grande parceiro no crescimento deste nacionalismo populista, seus líderes souberam encapsular o que eleitores frustrados precisavam ouvir. Seus discursos são inflamados e muitas vezes raivosos, exaltam emoções saudosistas, e, principalmente, fazem uma combinação entre os sentimentos de medo e esperança, que gera um match bastante eficiente. O jogo do medo prevalece no discurso divisório populista, onde o nós-contra-eles exalta a nação europeia imaculada que precisa se libertar da ameaça cultural e econômica provocada pela imigração sem freio que foi abraçada pela elite política de décadas anteriores.

Os “nacionalismos europeus” estão sendo variáveis cruciais para o cenário da crise de identidade que Madame Lagarde disse em sua fala, e aqui, vou além, pois a crise se alastrou, e a Europa vive uma crise econômica ocasionada por uma crise de falta de renovação econômica. Sua principal economia está em crise, me refiro a Alemanha, que era a maior economia europeia e impulsionava o continente.
A Alemanha não registrou crescimento desde o final de 2019, suas projeções para 2025 são de 0,3%, com exportações em queda. Sua indústria automobilística vem perdendo espaço para outros players globais e seu alto custo energético e dependência da Rússia também não ajudam.

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A Alemanha terá eleições parlamentares no final deste mês, e pela primeira vez depois da segunda-guerra, um partido reconhecidamente de extrema-direita, o AfD, se mostra competitivo o bastante para estar em 2º lugar nas pesquisas. Num marco recente no Parlamento deste país, o futuro Primeiro-Ministro (do partido da Angela Merkel, o CDU) votou com o AfD numa moção anti-imigração, quebrando o “cordão sanitário” que impedia partidos políticos de se aliarem a partidos extremistas em votações. Em resposta, mais de 160 mil pessoas foram às ruas em protesto.

Porém, engana-se quem acha que, na Alemanha, é só a direita que entrou na moda dos “extremos”, neste país, um fenômeno novo surge, o primeiro partido competitivo de extrema esquerda vem ganhando adeptos na popular figura de Sahra Wagenknecht, o BSW. Assim como os extremos da direita, esse partido é contra a imigração, mas se diferencia com relação às políticas de bem-estar social.

A Alemanha concretiza a nova era Europeia, uma era com pouco espaço para o discurso de cooperação econômica e mais espaço para o salve-se quem puder. Acompanhamos com excitação o que será das eleições da principal economia europeia e o que os seus líderes irão deliberar para o futuro da principal união econômica e política do mundo.

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