Andrei Rodrigues: “Hoje não tem mais herói na PF, um Japonês da Federal” Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, afirmou que operações hoje não expõem os alvos e nem dá publicidade a agentes | Foto: Reprodução/PF DIRETOR DA PF

Andrei Rodrigues: “Hoje não tem mais herói na PF, um Japonês da Federal”

Diretor-geral da PF diz que “hoje, ninguém vê preso algemado exposto à imprensa. Ninguém sabe o nome de um policial federal em evidência”; nesta manhã, um deputado federal foi alvo

A nova cultura de enfrentamento ao crime organizado e esquemas de corrupção, envolvendo também políticos e outras autoridades, tem menos espetáculo e mais estratégia. Como a Polícia Federal executou na manhã desta terça-feira, no gabinete do deputado federal Júnior Mano (PSB-CE). Mais um parlamentar investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por acusação de desvios envolvendo emendas parlamentares.

Quem explica essa atuação silenciosa da instituição é próprio diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. E faz uma comparação que remete a outros tempos da PF, quando os agentes ganhavam um protagonismo nessas operações, algo não mais visto nesse tipo de trabalho E Rodrigues lembra, num tom crítico,  de um agente que se notabilizou alguns anos atrás: o Japonês da Federal.

“Hoje não há mais um herói da PF, um Japonês da Federal. Não se faz segurança pública com achincalhamento de investigados, mas com tecnologia, integração e respeito aos direitos fundamentais”, afirmou Meirelles, que apresentou no XIII Fórum Jurídico de Lisboa, que se encerrou na última sexta-feira, um balanço das ações da corporação sob sua gestão.

Quem é o japonês

O Japonês da Federal é o agente Newton Ishii , que se aposentou em 2018, e ficou conhecido por sempre aparecer nas operações que prendiam políticos em escândalos recentes da política. Ele mesmo chegou a ser preso uma vez. E contou essa sua história com gente importante no livro “O Carcereiro”.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando foi alvo de uma operação de uma condução coercitiva, perguntou aos agentes: “Cadê o japonês?”. Três anos depois, em 2019, já preso em Curitiba, Lula se recusou a receber Ishii na sua cela, na Superintendência da PF em Curitiba, onde ele trabalhou.

Para Andrei Rodrigues, segurança pública é um desafio coletivo que exige coordenação entre os entes federativos, entre o setor público e privado, e entre países.

“Ou vencemos juntos ou perderemos sozinhos. Não há nenhuma instituição brasileira, por mais eficiente que seja, capaz de enfrentar sozinha o crime organizado, que já é transnacional há muito tempo”, disse.

O combate ao crime organizado

Ele citou como exemplo a atuação da PF no entorno do Aeroporto de Guarulhos (SP), onde o crescimento desordenado trouxe consequências para a segurança e a economia, como atrasos de voos e perda de conexões.

“Não era originalmente um problema de segurança pública, mas se tornou. E estamos atuando em parceria com as forças estaduais para reverter esse quadro”, explicou.

Três eixos, 300 milhões e mais de 300 operações

O modelo de combate ao crime da PF hoje se estrutura em três pilares: integração nacional e cooperação internacional; descapitalização de organizações criminosas, mirando o poder econômico e logístico das facções; e prisão de lideranças, inclusive as que continuam operando de dentro do sistema prisional.

Em 2024, a PF realizou mais de 300 operações nas 27 unidades da federação, com milhares de prisões e denúncias apresentadas. No Rio de Janeiro, foram 16 grandes operações; no Amazonas, 15; e em São Paulo, quatro.

“A repressão pontual não resolve. Precisamos de estruturas permanentes. E é isso que estamos fazendo”, afirmou o diretor.

Ele também destacou a inauguração recente do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, em Manaus. O espaço reúne representantes dos nove estados da Amazônia Legal e dos nove países amazônicos, para coordenar o enfrentamento ao crime ambiental e ao narcotráfico. O projeto foi viabilizado com apoio do Projeto AMAS – Amazônia, Segurança e Soberania, financiado pelo BNDES e pelo Fundo Amazônia, com investimento superior a R$ 300 milhões.

Interpol, Europol e além: o Brasil no centro da segurança global

No campo internacional, o diretor celebrou a eleição de um brasileiro para comandar a Interpol, “uma vitória histórica” e lembrou que hoje a PF tem representações permanentes em 34 países, nos cinco continentes. “Estamos presentes na Ameripol, na Europol e lideramos a Interpol. A PF brasileira se tornou uma referência global em cooperação policial”, disse.

Ele rebateu reportagens recentes sobre o suposto avanço de facções brasileiras no exterior, especialmente em Portugal, e defendeu uma leitura menos alarmista e mais técnica do fenômeno.

“Facção criminosa precisa ser tratada como tal. Mas é preciso evitar simplificações e importações legislativas que não se adequam à realidade brasileira. A chamada ‘lei anti-máfia’ pode ser uma oportunidade, desde que pensada para nosso contexto”, alertou.

Sem holofotes, com resultados

Rodrigues reforçou que sua gestão está comprometida com uma atuação técnica, sem pirotecnia.

“Hoje, ninguém vê preso algemado exposto à imprensa. Ninguém sabe o nome de um policial federal em evidência. Isso é política pública séria de segurança”, disse e foi muito aplaudido neste momento.

O diretor fez questão de saudar os mais de 15 mil servidores da Polícia Federal e também o setor privado, cuja colaboração ele considera essencial. “A segurança é um dever do Estado, mas é responsabilidade de todos. Só com cooperação e trabalho conjunto vamos avançar. Não é uma luta fácil, mas estamos no caminho certo”, concluiu.

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