Política

Mudanças climáticas

O Brasil está acuado na COP26, diz deputado

Rodrigo Agostinho avalia que mudanças de ministro no Itamaraty e Meio Ambiente ajudam na COP26, mas não são suficientes para mudar imagem do Brasil

por Juliana Braga em 08/11/21 22:56

O deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), integrante da bancada ambientalista, avaliou em entrevista ao MyNews que o Brasil está acuado diante das pressões no mundo inteiro na COP26 (a Conferência do Clima da ONU) e ressaltou que, para reverter o cenário, serão necessárias mudanças mais profundas na prática.

Em março deste ano, Ernesto Araújo pediu demissão do Ministério de Relações Exteriores, depois de se envolver em uma polêmica com os senadores. Em junho, foi a vez de Ricardo Salles se afastar do comando do Ministério do Meio Ambiente. Ambos eram integrantes da ala chamada ideológica do governo, negavam a necessidade de o Brasil ceder na pauta ambiental e insistiam que, para mudar os rumos da política climática, era necessário o financiamento por parte das economias ricas. Seus substitutos, Carlos França e Joaquim Leite, respectivamente, são tidos como mais técnicos.

Demissão de Ernesto Araújo e Ricardo Salles facilita diálogo na COP26, mas não é suficiente, avalia deputado. Foto: Arthur Max/AIG-MRE
Demissão de Ernesto Araújo e Ricardo Salles facilita diálogo na COP26, mas não é suficiente, avalia deputado. Foto: Arthur Max/AIG-MRE

“Essa troca [dos ministros] de certa forma ajuda nas discussões. Na conferência passada, o governo ficou passando o pires o tempo todo e atrapalhando muito as negociações. Nessa conferência, o Brasil está acuado. O mundo inteiro está cobrando uma atitude mais forte”, avaliou.

Para o deputado, a mudança de postura reflete uma preocupação do governo com a presença em fóruns internacionais e com a ameaça a acordos comerciais. O mundo está de olho nas ações do Brasil e sabe o que está acontecendo, para além das promessas.

“Nós perdemos nos três anos desse governo uma área de floresta do tamanho da Bélgica. […] O Brasil quer ocupar espaços internacionais importantes, quer concluir o acordo com o Mercosul, quer entrar pra OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), quer poder sentar à mesa com os países grandes. Para que isso aconteça, o Brasil vai precisar assumir compromissos e de certa forma mostrar que está fazendo alguma coisa”, pontua.

Obama cobra compromissos do Brasil na COP26

Em passagem pela COP26 nesta segunda-feira (8), o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama cobrou que o Brasil e países como Índia e Rússia liderem o combate à crise climática. 

Barack Obama na COP26
O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama cobrou compromisso de países em desenvolvimento com as metas ambientais/Foto: Fotos Públicas/Kiara Worth

“Foi particularmente desanimador ver os líderes de dois dos maiores emissores do mundo, China e Rússia, se recusarem a comparecer ao evento, e seus planos nacionais refletem o que parece ser uma perigosa falta de urgência, uma vontade de manter o status quo, da parte de ambos os países”, afirmou Obama. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também não compareceu ao encontro da cúpula.

“Isso é uma vergonha. Precisamos de economias avançadas como os EUA e a Europa liderando essa questão. Mas também precisamos de China e Índia, Rússia e Indonésia, África do Sul e Brasil. Não podemos permitir ninguém à margem”, completou o ex-presidente americano.

O Brasil firmou, na COP26, compromisso de reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, um dos gases que geram o efeito estufa. Para o deputado federal Rodrigo Agostinho, trata-se de um objetivo factível, desde que haja investimento em tecnologia.

De acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Remoções de Gases de Efeitos Estufa, 71,85% dessas emissões vêm da pecuária. E economias desenvolvidas já fazem a rastreabilidade da carne brasileira para garantir, por exemplo, que seja cultivada apenas em áreas já desmatadas anteriormente.

O parlamentar comentou ainda o negacionismo climático. Segundo ele, há o negacionismo por estupidez, por ignorância, e o negacionismo por interesse. “A maior parte da delegação aqui é de representantes da indústria do petróleo. A gente também tem um negacionismo por interesses, não apenas por estupidez e, claro, atrapalha. Tanto que a gente está na 26ª COP e até agora a gente não conseguiu criar ferramentas para enfrentar o problema da mudança climática”, declarou.

* A cobertura do Canal MyNews sobre a COP26 é realizada em parceria com a Vale

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