Durante o caso, José Mentor (SP) e Josias Gomes (BA) procuraram um astrólogo e uma mãe de santo, respectivamente, que os aconselharam a não renunciar ao mandato. E não foram cassados
O escândalo do mensalão está completando vinte anos e o MyNews tem lembrado de algumas passagens desse escândalo que atingiu em cheio o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 a 2006. Se tratou de um esquema de distribuição de recursos para integrantes da base parlamentar do governo e que derrubou petistas importantes como José Dirceu e José Genoino.
Entre essas histórias, a ser contada agora envolve dois deputados petistas que, à época, recorreram a todos métodos possíveis para salvarem seus mandatos. Um buscou a ajuda dos astros, se trata de José Mentor (SP), e o outro consultou uma mãe de santo baiana, Josias Gomes (BA). E deu certo. Não foram cassados pela Câmara e nem condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Mentor, o mapa astral e Los Angeles
Em abril de 2006, o então deputado José Mentor (PT-SP) correu risco de perder seu mandato, cuja cassação chegou a ser aprovada pelo Conselho de Ética. No plenário, ele se livrou e também escapou de responder a ação no STF, no rumoroso julgamento. O parlamentar foi acusado de receber R$ 120 mil do esquema, dinheiro oriundo das contas do empresário Marcos Valério, figura central no escândalo.
Mas, antes, Mentor foi buscar na conjunção dos planetas e na disposição das estrelas uma saída para o inferno astral que vivia. Ele buscou os serviços de um astrólogo, Francisco Seabra, que fez seu mapa astral e o aconselhou a não renunciar ao mandato, decisão que tomou, a contrário de outros colegas.
O astrólogo o aconselhou até Mentor a passar seu aniversário de 2005 em Los Angeles, onde, naquele céu, no 30 de setembro, que o deputado encontraria um novo astral, local onde o Sol estava na casa 10, a do êxito.
“Mentor tem Júpiter em conjugação com o Sol. O que o trânsito planetário reserva é um 2006 de êxito para ele. Tenho uma convicção pessoal de que ele não será cassado, mas não garanti isso a ele. É muito arriscado, mas a situação para ele melhorou. Ninguém o trata mais como um cassado”, disse Seabra ao O Globo, em reportagem de março de 2006. O profissional atuava no Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais da Universidade de Brasília (UnB), à época.
Mentor faleceu em julho de 2020. Teve um infarto e contraiu Covid.
Gomes, a quase renúncia e o Candomblé
Também do PT, o deputado Josias Gomes (BA) viveu a mesma situação. Ele recebeu R$ 100 mil na agência do Banco Rural, em Brasília, instituição que foi envolvida no esquema, mas se defendeu afirmando ser recursos para pagar despesas do PT baiano, diretório que presidia.
Como Mentor, chegou a ter a recomendação da cassação de seu mandato no Conselho de Ética, mas foi salvo pelo plenário, que não confirmou a decisão. Dos 513 deputados, 228 votaram pela perda de seu mandato, mas eram necessários 257. Foi salvo por 29 votos.
Josias Gomes esteve muito próximo de renunciar ao mandato. Seu advogado, Márcio Silva, chegou a redigir os termos de sua renúncia, que seria protocolado na Mesa da Câmara. Momentos anos, Silva recebeu um telefonema de Gomes. A ordem era para desistir da renúncia, seguindo a orientação de uma mãe de santo baiana, que consultou.
“Ele me disse para não entregar a renúncia. O questionei, pois conversamos bastante sobre o risco de perder o mandato e os direitos políticos por oito anos. Mas, claro, atendi a seu pedido e ainda disse que ele deveria integrar a mãe de santo na nossa equipe de advogados e ajudar na defesa”, disse Márcio Silva ao MyNews.
O deputado baiano se livrou não só da cassação como de responder a ação no STF, como Mentor. Hoje, Josias Gomes segue deputado federal e cumpre seu quinto mandato na Câmara.
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