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Podemos usou imagem de Sergio Moro em propaganda partidária de 2019, quando Moro ainda era ministro

Partido usou e patrocinou uma foto de Moro com o senador Marcos Do Val. Assessoria do ex-juiz nega ter expedido autorização para o uso da imagem em 2019.

por Julia Melo em 09/05/22 11:47

Ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao lado do senador Marcos do Val. Foto: Reprodução (Site do Cidadania)

De novembro de 2019 a janeiro de 2020, época em que Sergio Moro era ministro da Justiça, o Podemos pagou pelo impulsionamento de publicações que usavam a imagem do ex-juiz da Lava Jato. Segundo um especialista em Direito Eleitoral ouvido pelo MyNews, tratou-se de uma propaganda partidária. 

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O impulsionamento aconteceu no Facebook, o que significa dizer que o partido pagou para que a publicação chegasse a um determinado público. Segundo estimativa da Meta, dona do Facebook e do Instagram, a foto que fazia um convite para o seguidor “acabar com a impunidade”, junto com o partido, atingiu mais de 55 mil pessoas entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, o que custou ao podemos R$ 400. 

Publicação patrocinada do Podemos, realizada em 20219. Imagem: Reprodução (Relatório da Biblioteca de Anúncios da Meta)

Na foto, Sergio Moro está acompanhado do senador Marcos Do Val (Podemos-ES). O registro se assemelha a outra foto dos dois publicada em abril de 2019 pelo Cidadania, então partido de Do Val – sua filiação ao Podemos só aconteceu em agosto.

Marcos Do Val é ex-militar do Exército e já trabalhou com treinamento policial. Dialoga diretamente com o setor de segurança pública e coloca o combate à corrupção como uma de suas principais bandeiras. Na CPI da Pandemia, protagonizou embates com senadores que fizeram oposição ao governo e chegou a empurrar numa sessão o deputado federal Luís Miranda (Republicanos-DF), que acusou Bolsonaro de prevaricação no caso Covaxin. 

O capixaba foi o relator no Senado do ‘Pacote Anticrime’, Projeto de Lei proposto por Sergio Moro em 2019, quando ocupava o cargo de ministro da Justiça. Para a produção do relatório, Marcos Do Val teve reuniões com Moro. Uma delas foi em abril de 2019, momento registrado no site do Cidadania. É desse encontro a foto impulsionada pelo Podemos – é possível ver que ambos estão no mesmo lugar e usam a mesma roupa. 

Ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao lado do senador Marcos Do Val (Podemos-ES) em postagem publicada no site do Cidadania. Imagem: Reprodução (Podemos)

O período em que a foto foi anunciada bate com a época em que o Pacote Anticrime foi pautado para votação no Senado. A aprovação do texto aconteceu em 11 de dezembro daquele ano. No dia 25 do mesmo mês foi anunciada a sanção presidencial com 25 vetos do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o advogado especialista em Direito Eleitoral José Paes Neto se trata de uma propaganda partidária com o uso da imagem de Moro, mas de acordo com a lei, não há irregularidade.

“Não vejo no caso a existência de propaganda partidária irregular. A legislação não impede o impulsionamento de postagens de partidos políticos na internet. A foto em questão retrata ato público em que houve a presença de senador filiado ao partido e do então Ministro Moro. Além disso, a participação de pessoas não filiadas ao partido político na propaganda partidária é vedada apenas nas hipóteses de propaganda partidária gratuita no rádio e na tv”, explicou Paes Neto.

Para conteúdos publicados na internet, segundo o especialista, não há proibição. A foto patrocinada faz parte de um conjunto de outros anúncios do Podemos que exaltavam o combate à corrupção e a Operação Lava Jato. 

A assessoria de Sergio Moro afirmou que o ex-juiz não teve qualquer contato com o Podemos até o ano passado, quando se filiou ao partido em novembro, e que o uso da imagem dele não foi autorizado ou informado ao então ministro.

Questionado pelo MyNews, o Podemos afirmou que “o partido faz postagens em apoio à Lava Jato há alguns anos, sendo que fez parte dos que defenderam o ideal daqueles personagens que estavam à frente da operação, como é o caso do ex-juiz Sergio Moro”.

Podemos já falava em 2019 sobre filiação de Moro 

Enquanto a equipe de Moro diz que o contato de Sergio Moro com o Podemos não começou antes de 2021, os acenos do Podemos ao ex-juiz remetem a anos atrás.  Em 2018, o então candidato à presidência da República pelo Podemos Álvaro Dias rasgava elogios a Moro, conterrâneo paranaense, e à Operação Lava Jato.

Álvaro Dias ao lado de Sergio Moro em vídeo publicado em novembro de 2021. Foto: Reprodução (Redes Sociais)

Além de usar a imagem de Moro em materiais da campanha, Dias afirmou que chamaria o então juiz para ser ministro da Justiça caso fosse eleito presidente. Álvaro Dias alcançou 0,80% dos votos no primeiro turno de 2018, contra 46% de Jair Bolsonaro, que venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno.  

Se um paranaense perdeu, outro saiu ganhando: Sergio Moro recebeu outro convite e partiu para o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro. No primeiro ano como ministro, o paranaense lidou com uma série de problemas, como a perda do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência que pertencia ao Ministério da Economia e que ficou por pouquíssimo tempo sob o comando da pasta da Justiça.

O Coaf produz relatórios em caso de suspeita de irregularidades com dinheiro, como desvios, lavagem de dinheiro. Moro defendia que, com o órgão dentro da pasta que comandava, a estrutura de combate à corrupção ficaria mais completa.

Foi o Coaf que encontrou movimentações estranhas nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o que logo gerou uma investigação. Hoje, o conselho faz parte do Banco Central. 

Além desse escândalo de denúncia de corrupção do filho do presidente e a perda do órgão desejado por Moro, o ex-ministro ainda viu mensagens da época da Lava Jato serem divulgadas pelo The Intercept. Enquanto tudo isso acontecia, ele tocava o “pacote anticrime”, projeto de lei que propôs a alteração de 13 leis e decretos relacionados à segurança pública.

Em 2019, enquanto Moro era ministro, o perfil do Podemos no Facebook enaltecia o seu trabalho, o Pacote Anticrime e o combate à corrupção. Em setembro, já se falava de desgaste entre o ex-juiz e Bolsonaro por supostas interferências do presidente nas investigações relacionadas ao filho. Na época, a presidente do Podemos, Renata Abreu, já comentava em entrevistas sobre um sonho: ter Sérgio Moro no partido para as eleições de 2022 e dizia que vários convites tinham sido feitos a ele. 

No mesmo mês, Ancelmo Gois, colunista do O Globo, chegou a noticiar que recém-filiados da sigla só tinham ido para o partido após ouvir de um conterrâneo de Moro que ele seria candidato à presidência pelo Podemos em 2022.

Até setembro de 2019, o Podemos ganhou seis senadores, pulando de cinco para 11 cadeiras no Senado. Um deles foi Marcos do Val, saído do Cidadania, que aparece na foto impulsionada pelo partido. 

Somente em novembro de 2021, o sonho do Podemos se concretizou: Sergio Moro entrou para o partido, após deixar o governo em abril de 2020 e trabalhar na consultoria política Alvarez & Marsal, nos Estados Unidos. 

Em março deste ano, Moro deixou a pré-candidatura à presidência da República pelo partido que o cortejou nos últimos anos e se filiou ao União Brasil. A presidente do Podemos, Renata Abreu, afirmou que soube da saída pela imprensa. Segundo ela, o partido ofereceu toda a estrutura necessária para Moro. Já Álvaro Dias declarou que entendeu a decisão do ex-juiz.

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