O 8 de janeiro que o Brasil não viu Bolsonaristas pregam golpe de Estado no 8 de janeiro de 2023 | Foto: Evandro Éboli/MyNews BASTIDORES EM LIVRO

O 8 de janeiro que o Brasil não viu

Interventor na segurança do DF, Ricardo Capelli conta pormenores daquele episódio, que ameaçou a democracia e levou generais ao banco dos réus

Estava tudo lá. Tom por tom, passo por passo, como numa partitura macabra sendo executada em praça pública — mas quase ninguém viu. Ou não quis ver. Em O 8 de Janeiro que o Brasil Não Viu, Ricardo Cappelli monta, peça por peça, o quebra-cabeça de uma tentativa de golpe anunciada. O livro não trata apenas do dia em que os prédios dos Três Poderes foram invadidos por vândalos vestidos de patriotas; ele volta no tempo, rastreia as pegadas, revela as digitais, acende o farol sobre os muitos “focos de incêndio” que arderam durante o governo de Jair Bolsonaro.

É uma leitura emocionante por vários motivos, o maior deles, sem dúvida, é a consciência do risco real que tivemos de perder o Estado Democrático de Direito, essa democracia brasileira tão duramente conquistada. Mas também é literatura de ação. Quase impossível desgrudar os olhos.

O atrito com o general

O ritmo é vertiginoso, e esse sentimento de urgência e tensão está presente desde as primeiras linhas. Logo no prólogo, Cappelli narra um embate cara a cara com o general Arruda na sala do Alto Comando do Exército, no momento mais crítico da crise. O clima é de confronto:

“O general Arruda me cumprimenta e me convida a subir. Na sala do Alto-Comando, nos sentamos ao redor de uma mesa, com Arruda ao meu lado e o coronel Fábio Augusto à nossa frente. Assim que me sento, o general se volta para mim e pergunta:
– O senhor ia entrar aqui com tropas sem a minha autorização?”

Esse tipo de tensão atravessa o livro como uma corrente elétrica. Cappelli, que assumiu a intervenção federal na segurança do DF logo após os ataques, narra os bastidores como quem esteve dentro do olho do furacão, mas sem perder a visão panorâmica do processo.

Relato jornalístico

Como ele mesmo compara, assim como foi possível prever a seca de 2024 a partir de dados ignorados, também era possível enxergar os contornos do 8 de janeiro antes que eles se tornassem fumaça e caos. Os sinais estavam por toda parte: nos acampamentos, nas redes sociais, nos discursos ambíguos e nas omissões calculadas de quem deveria proteger a Constituição.

O 8 de janeiro que o Brasil Não Viu não é só uma reconstrução jornalística precisa. É também um testemunho com força de denúncia e senso de urgência. Um aviso necessário: o golpe não nasceu de um dia, foi cultivado, alimentado, tolerado. E, como o livro mostra com clareza, ainda não foi inteiramente derrotado.

Assista aqui a entrevista completa

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