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FINANCIAMENTO ELEITORAL

O grande vencedor das eleições: o dinheiro

Dados do Congresso em Foco mostram que, embora estejam em minoria, candidatos à reeleição abocanharam mais de 20% do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas

por Tiago Mitraud em 10/10/24 16:13

Urna eletrônica | Foto: Reprodução/TRE-RN

Passado o primeiro turno das eleições municipais, é hora do tradicional balanço a respeito dos resultados. Neste ano, um número que salta aos olhos é a impressionante taxa de prefeitos reeleitos em primeiro turno.

Um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) revela que mais de 80% dos 3.006 prefeitos que buscaram a reeleição conseguiram sucesso no primeiro turno. Esse número não só é bem maior que a média histórica, mas também supera por larga margem o recorde anterior, de 2008, quando 63% dos prefeitos candidatos à reeleição garantiram um novo mandato.

Muitas explicações podem ser dadas para esse fenômeno. Pode-se argumentar, por exemplo, que a onda de renovação política, iniciada nas eleições de 2016 no calor da Lava-Jato e do impeachment de Dilma, já perdeu força. Naquela época, menos da metade dos prefeitos que tentaram a reeleição se mantiveram no cargo.

Hoje, ainda que o brasileiro não esteja completamente satisfeito com seus políticos, é fato que a indignação já não é a mesma. A busca por outsiders caiu e a manutenção do status quo parece ter voltado a prevalecer.

Porém, a explicação mais plausível é outra: prefeitos em exercício nunca tiveram tanto dinheiro à disposição para tocar seus mandatos e financiar suas campanhas.

Primeiro, nunca houve tanto recurso público nas campanhas. O Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC), o famoso “Fundão”, mais que dobrou de valor de 2020 para cá, alcançando quase R$5 bilhões. Naturalmente, boa parte desse dinheiro foi direcionada aos candidatos à reeleição. Dados do Congresso em Foco mostram que, embora os candidatos em busca de um novo mandato representem menos de 10% do total, eles abocanharam mais de 20% do Fundão nas eleições deste ano. Ou seja, quem já está no poder, leva mais.

Mas o Fundão não foi o único combustível dessas reeleições. As emendas parlamentares – que, como mostrei em minha coluna de 21 de agosto, são largamente usadas com fins eleitoreiros – também dispararam. De 2020 para 2024, o valor das emendas mais que dobrou, chegando a R$53 bilhões, com parte delas caindo diretamente nas contas das prefeituras através das “emendas PIX”, aquelas que dão aos prefeitos liberdade total para gastar o dinheiro, sem prestar contas detalhadas.

Estudo de O Globo revelou que a taxa de reeleição entre os prefeitos que mais receberam dessas emendas foi de inacreditáveis 94%.

Com tanto dinheiro público nas mãos dos candidatos à reeleição, não é difícil imaginar que uma parte foi desviada para práticas corruptas. A Polícia Federal apreendeu, nessas eleições, mais de R$21 milhões em espécie que seriam usados para compra de votos – um valor 14 vezes maior que o apreendido em 2020.

Diante desse cenário, o recorde de reeleição em 2024 não é surpreendente. O Brasil segue assolado pela corrupção, e cada vez destinando mais dinheiro público apenas para manter os mesmos no poder.

Mas felizmente, há exceções. Entre os prefeitos reeleitos, muitos de fato venceram por exercerem boas gestões, obtendo índices altos de aprovação e sem se valer da enxurrada de dinheiro público nas campanhas. Trago dois exemplos notáveis:

Adriano Silva, de Joinville/SC, se reelegeu com 78,69% dos votos, em uma campanha que custou R$1,3 milhão, financiada exclusivamente por doações privadas. Seu principal oponente, que ficou com 11,49% dos votos, gastou R$4 milhões do Fundão e obteve sete vezes menos eleitores.

Já em Divinópolis/MG, Gleidson Azevedo venceu com 71,54% dos votos, gastando míseros R$70 mil de doações privadas, enquanto sua adversária, com R$950 mil do Fundão, fez apenas 28,46%.

Infelizmente, exemplos como os de Adriano e Gleidson, de prefeitos com alta aprovação devido a suas boas gestões e que não dependem de dinheiro público para vencer, ainda são raros. Mas existem. E são esses os casos que precisamos promover no Brasil.

Caso contrário, a máquina da política tradicional continuará sugando cada vez mais dinheiro da população para se perpetuar no poder, sempre em benefício próprio.

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