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TRADIÇÃO

No Massimo era o máximo: tempo em que prévias e convenções do PSDB eram num bom restaurante paulista

Felizes tempos aqueles em que Fernando Henrique Cardoso se reunia num restaurante de São Paulo (o Massimo, da Alameda Santos, era o preferido) com três ou quatro cartolas.

por Paulo Totti em 20/05/22 09:19

Salão do restaurante Massimo, em 1986. Foto: Luiz Aureliano

Felizes tempos aqueles em que Fernando Henrique se reunia num restaurante de São Paulo (o Massimo, da Alameda Santos, era o preferido) com três ou quatro cartolas. Ali se realizavam na prática e em poucas horas, a prévia e a convenção dos tucanos.

Quando José Serra estava ausente, falava-se mal dele (FHC não o poupava). Com Mário Covas presente, ninguém se queixava da teimosa resistência dele a entendimentos com antigos militantes da ditadura (por isso, FHC não foi ministro de Fernando Collor).

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Mas tudo acabava como o previsto, circulava o cachimbo da paz, tão recorrido e harmonioso quanto o cointreau do fim da noite. O menino Aécio Neves (que quase não falava durante o jantar) partia feliz para Belo Horizonte e o promissor político nordestino Tasso Jereissati chegava a Fortaleza a tempo de impedir que o afilhado Ciro Gomes, um calouro, se atrevesse a ter ideias próprias sobre a sucessão no Planalto.

E assim se elegeram e reelegeram os governadores de São Paulo, Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, e foram candidatos pelo PSDB à presidência Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves. O país todo votava neles, ou, pelo menos, não deixava o partido ausentar-se de um segundo turno.

O partido que se iniciou de esquerda, foi aos poucos se adaptando à hegemonia financeira, não só brasileira, mas mundial, o rigor fiscal sufocou todas as outras prioridades – o discurso sobre desenvolvimento econômico e social foi abandonado.

Tantas foram as movimentações para o centro e daí para a direita, que a crise hodierna do PSDB tem muito a ver com isso: a agremiação de Mário Covas em nada difere hoje do União Brasil (UB), que veio da ditadura, da Arena, passou pelo PFL, pelo PSL e hoje, com o PSDB, também não consegue sequer apontar um dos seus para concorrer à presidência.

PSDB, seu federado Cidadania, e UB, não diferem na essência. Com o agravante de que a raposice, o mau-caratismo, a traição, parecem tão ou mais presentes no tucanismo do que na rotina do carlismo ou do caiadismo.

Do UB não se ouvirão veementes alertas sobre a ameaça que Bolsonaro representa à continuidade do processo democrático brasileiro. O mesmo ocorre com o PSDB. O pior é que também não se ouve um só corrupio tucano em defesa da urna eletrônica, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do Supremo.

O PSDB não aproveita o prestígio que ainda tem entre os empresários, para estimulá-los a também se pronunciarem contra a preparação do golpe. Os bancos, por exemplo, que têm tantos executivos com passagem pelos governos tucanos, estão tão calados quanto Paulo Skaf, o arauto da indústria desindustrializada. De indiferentes passarão a cúmplices.

Enquanto o eleitor brasileiro se coloca já ao lado de Lula ou de Bolsonaro, a polaridade cada vez mais se cristaliza e o pleito se transforma em plebiscito, cristianiza-se o candidato que o PSDB escolheu em prévia que custou R$ 12 milhões. Os donos do partido não aceitaram o resultado da consulta, o PSDB debate-se numa crise interna que o condena ao definhamento. Fritado o ex-governador de São Paulo, prepara o PSDB para aderir a Simone Tebet e a evitar que Doria vá à justiça reclamar seus direitos.

Espera-se para segunda-feira, 23, a reunião em que a executiva tucana ouvirá de Doria novamente a afirmação de que não retira a candidatura e, na terça-feira, a reunião em que o partido mais o MDB e o que resta do Cidadania anunciarão o apoio à candidatura da senadora pelo Mato Grosso do Sul.

O pretexto para a tremenda puxada do tapete de Doria é de que a simpática ex-prefeita de Três Lagoas e competente senadora tem mais condições objetivas de disputar a eleição do que o ex-governador de São Paulo.

Duvido que em minha terra, Veranópolis, RS, com pouco mais de 25 mil habitantes, existam 50 eleitores que possam dizer duas frases sobre Simone Tebet. Aliás, também não saberiam em relação a João Doria.

E o Massimo fechou.

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