Se, porventura, o PT vencer agora é, sem dúvida, mais pela rejeição a Bolsonaro e o medo de ruptura institucional que o presidente plantou na sociedade do que pelas virtudes ou plano de governo de Lula.
Em 23/09/22 09:13
por Coluna do Prando
Rodrigo Augusto Prando é Mestre e Doutor em Sociologia, Professor universitário e pesquisador. Conselheiro do Instituto Não Aceito Corrupção, membro da Comissão Permanente de Estudos de Políticas e Mídias Sociais do Instituto dos Advogados de São Paulo e voluntário do Movimento Escoteiro.Textos essenciais de serem lidos para acompanhar e refletir sobre os movimentos da sociedade e do Poder.
Em pouco mais de uma semana teremos o primeiro turno das eleições. Com estabilidade nas pesquisas de intenção de voto, temos o ex-presidente Lula à frente – com chances matemáticas de vitória já no primeiro turno – seguido pelo presidente Bolsonaro e, praticamente, com chances reduzidíssimas de avançar, Ciro Gomes e Simone Tebet.
Até o momento, todos os esforços do governo não surtiram o efeito esperado, ou seja, a melhoria da intenção de voto em Bolsonaro e a diminuição de sua rejeição. Foram volumosos recursos para o Auxílio Brasil, subsídios para caminhoneiros, taxistas e sucessivas intervenções políticas na Petrobrás que levaram à diminuição do valor dos combustíveis. No geral, o cenário econômico é favorável ao governo, com nítidos sinais de melhora, contudo, mesmo assim, Bolsonaro segue estagnado e Lula consegue avançar. Ouvi, de um taxista, com atenção, que ele havia votado em Bolsonaro em 2018, mas que não votaria nesta eleição e me disse, sinteticamente: “Se o Bolsonaro tivesse comprado a vacina, não falasse tanta bobagem, tivesse ficado quieto, estaria eleito de novo”. E completou: “Minha esposa não pode nem ouvir falar o nome dele”. Escrevi, nos primórdios do governo, que o bolsonarismo substituía o “presidencialismo de coalização” por um presidencialismo de confrontação. Bolsonaro – na condição de presidente – não desceu do palanque e sua ação política foi o confronto, o tensionamento constante com a sociedade e as instituições, promovendo um esgarçamento do tecido democrático com seus arroubos autoritários. Tal fato revelou-se, de um lado, positivo, já que manteve sua base de apoio coesa, resiliente e constantemente inflamada; por outro, negativamente, conseguiu uma reprovação de seu governo, em muitos casos, acima de 50%.
Lula, por sua vez, diferente de Bolsonaro, fez um aceno ao centro político. Trouxe, como vice, Geraldo Alckmin, tucano histórico e seu adversário em eleições passadas, objetivando amainar sua imagem e sinalizar diálogo e moderação ao mercado e aos demais atores políticos. Lula disputa, direta ou indiretamente, todas as eleições desde 1989. Sua imagem construída e comunidade é marca forte na política brasileira. Foi eleito e reeleito, fez a sucessora, foi investigado, acusado, condenado e preso, mesmo preso levou, em 2018, Haddad para o segundo turno e, agora, tem posição consolidada na liderança desta disputa. Institutos de pesquisa apontam a probabilidade de uma vitória de Lula no primeiro turno e, por isso, o movimento do voto útil toma dimensão de uma pressão intensa, especialmente, sobre Ciro. As pesquisas indicam que os que decidiram votar em Lula e em Bolsonaro, 80% estão convictos de seus votos e não mudarão sua escolha; no que tange a Ciro e Tebet, cerca de 50% admitem mudar o voto já no primeiro turno. Assim, não apenas Lula verbaliza esse pedido de voto útil para finalizar a eleição rapidamente, como, também, artistas, intelectuais, jornalistas e políticos que ou insinuam o voto útil ou diretamente pedem que Ciro desista e apoie Lula.
Politicamente, o lulopetismo busca colocar-se como defensor da democracia contra uma postura beligerante e com ameaças de ruptura sinalizadas por Bolsonaro ao longo de seu mandato. O PT, no primeiro turno, nunca venceu, só foi derrotado. Se, porventura, o PT vencer agora é, sem dúvida, mais pela rejeição a Bolsonaro e o medo de ruptura institucional que o presidente plantou na sociedade do que pelas virtudes ou plano de governo de Lula. Novamente, uma eleição alicerçada sobre a rejeição, o medo e, infelizmente, episódios de violência, simbólica e física. O eleitor é o soberano e sua escolha deverá ser respeitada, política e juridicamente. Aguardemos!
*Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.
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