Em relatório encaminhado ao STF, delegada da Polícia Federal afirma que live em agosto teve o nítido propósito de promover fake news sobre a urna eletrônica
por Redação em 17/12/21 13:14
A Polícia Federal concluiu que o presidente Jair Bolsonaro teve atuação “direta e relevante” na disseminação de fake news sobre o sistema eleitoral brasileiro. A conclusão consta do relatório da delegada Denisse Ribeiro no inquérito que apura se Bolsonaro espalhou fake news em uma live transmitida em agosto, na qual prometia provar ter havido fraude na eleição em 2018. Na ocasião, ele mesmo admitiu ter apenas fortes indícios.
O relatório foi enviado ao ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em 13 de setembro, mas só veio à tona nesta quinta-feira (16).
De acordo com o parecer da PF, a live teve o nítido propósito de desinformar e levar a população ao erro com relação à lisura do sistema eletrônico de votação. Denisse Ribeiro afirma que, ao mesmo tempo em que promove a desinformação, Bolsonaro alimenta teorias que promovem o fortalecimento de laços com “seguidores de determinada ideologia”.
A PF colheu depoimento de autoridades envolvidas na preparação da live como os ministros da Justiça, Anderson Torres, e da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos.
“[Os depoimentos] permitiram verificar que o processo de preparação e realização da live foi feita de maneira enviesada, isto é, procedeu-se a uma busca consciente por dados que reforçassem um discurso previamente tendente a apontar vulnerabilidades e/ou possíveis fraudes no sistema eleitoral, ignorando deliberadamente a existência de dados que se contrapunham a narrativa desejada, quase todos disponíveis em fontes abertas ou de domínio de órgãos públicos”.
Denisse diz ainda que Bolsonaro adotou um padrão de desinformação usado em outros países e cita a estratégia de comunicação de Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, nas eleições americanas de 2016.
O TSE abriu um inquérito administrativo em 2 de agosto para investigar o presidente Jair Bolsonaro por disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro. A ação teve como base a live transmitida pelas redes sociais e também utilizando a estrutura da TV Brasil, na qual o presidente admitiu não ter provas de que houve fraude nas eleições de 2014 e 2018, mas manteve as insinuações de que a urna eletrônica não é confiável. A Corte também aprovou, por unanimidade, pedido para incluir Bolsonaro como investigado no inquérito das Fake News, aberto no Supremo Tribunal Federal.
A investigação pretende analisar se o presidente cometeu “abuso de poder político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos e propaganda extemporânea (antecipada), em relação aos ataques contra o sistema eletrônico de votação e à legitimidade das Eleições Gerais de 2022”.
A transmissão durou pouco mais de duas horas. Nos primeiros quarenta minutos, Bolsonaro se dedicou a desferir ataques ao Judiciário, a adversários e a repetir diversos argumentos que já vem usando. Em um dado momento, ele disse o seguinte: “É justo quem tirou o Lula da cadeia, o que o tornou elegível, ser quem vai contar os votos dele?”. O ministro Edson Fachin, que revisou a prisão do Lula, é o próximo presidente do TSE.
Bolsonaro resgatou vídeos caseiros de pessoas citadas como voluntárias, que filmaram possíveis problemas com as urnas no momento da votação, nas eleições de 2018. Também foram expostos trechos de análises de comentaristas da Rede Globo e da Globo News, em que eles comparam o resultado da pesquisa eleitoral antes das últimas eleições com o resultado após o fim do primeiro turno – dando a entender que Bolsonaro teria ganhado no primeiro turno.
A equipe do presidente, que acompanhou a live, também recuperou um vídeo de um astrólogo – que já foi rebatido por especialistas – em que ele aponta que houve fraude nas eleições de 2014. Na publicação, Alexandre Chut diz ter encontrado um padrão nos dados divulgados minuto a minuto e que indicariam que houve fraude, pois tal padrão só poderia ser possível por meio do uso de um algoritmo.
O TSE contestou as alegações feitas durante a transmissão, e em tempo real, publicou diversos posts no twitter desmentindo vídeos e boatos que circulam nas redes sociais.
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