Discurso dos líderes mundiais durante a COP26 não reflete a realidade e urgência do problema representado pela emissão de carbono. Promessas do passado repetem-se hoje sem grandes avanços.
por Thiago Fidelix em 03/11/21 19:13
O governo brasileiro se comprometeu a cortar 50% das emissões de carbono, gás que contribui para o efeito estufa. O anúncio, feito nesta segunda-feira (01) durante o painel do país na COP26, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, em Glasgow, pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, prevê a neutralização das emissões de carbono até 2050.
Este direcionamento atualiza a contestada posição pré firmada pelo governo antes da Cúpula do Clima, em que se comprometia a cortar 43% da emissão de gases. O novo anúncio foi criticado por ser o mesmo corte anteriormente firmado por Dilma Rousseff em 2015, no Acordo de Paris. A diferença agora é o uso de uma nova base de cálculo.
Em 2015, o cálculo foi feito em relação ao padrão de 2005, que era de 2,1 gigatoneladas anuais de CO2e (dióxido de carbono equivalente). Já o governo atual, em dezembro de 2020, realizou uma nova estimativa do nível de emissão de 2005. Agora a referência é de 2,8 gigatoneladas de CO2e.
“Me parece mais uma fala para encontro internacional, para tentar mais recursos neste campo do que um compromisso sério do governo brasileiro”, afirma Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unifesp, em entrevista ao Almoço do MyNews.
Para a professora, o governo brasileiro realiza um projeto de destruição ambiental que vem vigorando desde 2019 com mudanças de regras, desmonte dos órgãos ambientais, de fiscalização, de formalização de políticas públicas e, também, um desmonte no setor de ciência e tecnologia.
“Não existem políticas públicas reais que estejam trabalhando no sentido de mostrar ao mundo e trazer para sociedade brasileira a sensação que algo vai ser feito para mudar aquilo que vem sendo aplicado desde 2019”, acrescenta Pecequilo.
O Brasil é um dos mais de 100 países que se comprometeram a realizar reduções drásticas nas emissões de gases do efeito estufa até 2030. Essa diminuição é vista como uma realidade que não pode ser deixada em segundo plano, com riscos de refletir em mudanças climáticas irreversíveis sentidas por esta geração nos próximos anos. Se as medidas forem cumpridas, ainda sim, o planeta vai registrar 1,5ºC de aumento na temperatura média da Terra.
Para a professora, os discursos na COP26 não impressionam: “A gente vem acompanhando as manifestações desde a Rio 92, e veja, nós estamos hoje em 2021, e lá já se falava de aquecimento global, preservação das florestas e oceanos, extinção das espécies. Tudo aqui que está na mesa, em Glasgow, é uma agenda que vem desde aquele momento. Para a gente, que vem cobrindo há muitos anos, causa um certo desamparo. Toda vez que vamos ter uma COP ou uma conferência ambiental de grande porte, os assuntos são os mesmos, os problemas são os mesmos e as questões vêm se agravando. Pelo que me parece existe um descolamento do que os líderes falam, o que eles praticam e o que eles passam para a população. Existe negacionismo sobre o meio ambiente desde a Rio 92”.
A temperatura média do planeta subiu 1,1 graus desde a Revolução Industrial, no século 19. O aumento da temperatura é irreversível e, no melhor dos casos, podemos chegar a 1,5°C nas próximas duas décadas. Com base nestes fatos, os cientistas afirmam que o nível dos oceanos vai se elevar.
* A Cobertura da COP26 do Canal MyNews está sendo realizada em parceria com a Vale.
Comentários ( 0 )
ComentarMyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.
Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74
Entre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR