Ex-ministro dos governos petistas e primeiro líder de Lula na Câmara, Aldo conta ao MyNews que o presidente perdeu uma de suas melhores qualidades, que era escutar e seu entorno, virou plateia
Se 2026 fosse hoje, Lula estaria diante de um Congresso hostil, um ministro da Fazenda ferido em praça pública, uma base esfarelada e uma oposição que cresce mesmo sem um candidato viável. E, o que é ainda mais grave: um governo sem caixa. As crises política e econômica deixaram de ser uma previsão elas chegaram. E o mais preocupante, segundo Aldo Rebelo, ex-ministro e ex-líder na Câmara do primeiro governo petista, em 2003, e hoje porta-voz itinerante do MDB, é que o presidente Lula perdeu sua principal qualidade: a escuta.
Nesta semana, o governo aceitou expor Fernando Haddad à humilhação de uma derrota previsível. E agora, ao judicializar o episódio, pode colher o coice: reacender a guerra com o Congresso em um momento em que já perdeu a narrativa econômica, avalia Rebelo. É o retrato de um governo sem bússola e sem ninguém com coragem suficiente para dizer ao presidente que ele está perdido.
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Aldo Rebelo conhece Lula. Conviveu com ele por anos. “Lula sempre soube ouvir. Sabia quem tinha autoridade para contestá-lo e escutava. Hoje, ninguém mais tem coragem de dizer o que está acontecendo. E isso é o caminho do desastre.”
Segundo o ex-ministro, o entorno do presidente deixou de aconselhar e virou plateia. “Antes havia quem discordasse, quem o contestasse e ele ouvia. Agora, ninguém mais fala. O presidente perdeu esse canal. O entorno se calou.”
Para Rebelo, isso criou uma ilusão perigosa: a de que está tudo bem. “Não há hoje um grupo de ministros com autoridade para advertir Lula”.
Por que o governo permitiu que o ministro da Fazenda fosse exposto a uma derrota tão contundente? E mais: por que insiste em judicializar a crise, arriscando uma nova derrota, ou, mesmo em caso de vitória, agravando o conflito com o Congresso?
“Depois da queda, pode vir o coice”, diz Rebelo. “Judicializar só acirra a guerra. Romper com o Congresso é o caminho do desastre para qualquer governo.”
Sem contraponto interno, Lula se tornou, segundo Aldo, uma figura atormentada, impaciente. “Deixou de olhar para o horizonte, como fazia no passado, e passou a mirar apenas o casco, atolado em disputas menores e numa agenda que não une o país”.
Para ele, a combinação entre identitarismo e aumento de impostos não gera maioria social. “Essa agenda só interessa a dois entes: aos bancos, que querem receber os juros dos títulos do governo, e a um governo que quer gastar mais.”
A fala tem alvo. Rebelo sabe que parte da frustração com o governo vem da sensação de que o país está sendo conduzido por um projeto sem dimensão nacional ou pior: sem projeto algum.
“Lula perdeu a capacidade de usar suas melhores qualidades. Antes, ele discordava, mas escutava. Hoje, ninguém mais tem coragem de dizer que o caminho está errado. E isso só aprofunda a crise.”
A temperatura política subiu. Há rumores de substituição na Fazenda. E, segundo Rebelo, “como se deixa queimar um ministro da Economia assim?”
Mas nem tudo é análise de ruína. Aldo Rebelo está em movimento. Em fóruns, encontros, debates, atravessa o país com a bandeira do MDB nas mãos. E lança a pergunta: por que não o MDB em 2026?
Ele cita nomes que poderiam representar o partido na disputa, a começar pela ministra Simone Tebet. Enquanto a esquerda permanece paralisada em torno de Lula e a direita ainda é refém da figura de Bolsonaro, mesmo inelegível, o MDB poderia ocupar uma janela de oportunidade.
E Lula? “Conheço Lula. Se for para a derrota, ele vai terceirizá-la. Vai entregar para outro.”
Assiste no Youtube a entrevista de Mara Luquet, do MyNews com Aldo Rebelo
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