Decisão unilateral do presidente Paulo Skaf não mudou posição da Febraban, que segue assinando o documento que pede a harmonia entre os Poderes
por Sara Goldschmidt em 31/08/21 12:57
Após o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, anunciar o adiamento da publicação do manifesto em que entidades empresariais pediam a harmonia entre os três Poderes da República, entidades do agronegócio brasileiro se posicionaram em nome do setor. O texto, divulgado nesta segunda-feira (30), pede “estabilidade, segurança jurídica e harmonia para poder trabalhar”.
Segundo apurou o jornal ‘O Estado de S. Paulo’, a nota foi produzida ao longo das duas últimas semanas, e a decisão de torná-la pública teve relação direta com o recuo da Fiesp em publicar o documento do setor empresarial. Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), disse que “diante da decisão da Fiesp, essas entidades acharam melhor se manifestarem de forma conjunta e independente”. E complementou: “Entendemos que se manifestar faz parte do espírito republicano.”
Assinaram o documento a Abag, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), a Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma), a Croplife Brasil (que representa empresas de defensivos químicos, biológicos, mudas, sementes e biotecnologia), a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
O manifesto aborda a preocupação do setor do agronegócio com os atuais desafios à harmonia político-institucional e à estabilidade econômica e social do País. “Em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes, num chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história”, diz o documento.
O texto ainda defende que o País “não pode se apresentar como uma sociedade permanentemente em crises intermináveis ou em risco de retrocesso ou rupturas institucionais”. E ressalta que a liberdade empreendedora de que precisam é “o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais”. “É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista”, complementam as entidades.
Assim como o manifesto assinado por entidades empresarias, o do agronegócio também não faz nenhuma referência direta ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) – leia na íntegra logo abaixo.
A decisão unilateral de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, de adiar a publicação do manifesto “A Praça é dos Três Poderes” repercutiu de forma negativa entre os signatários do documento, assinado por cerca de 200 entidades. Eles ficaram sabendo pela imprensa que, após uma conversa por telefone entre Skaf e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a Fiesp suspendera a publicação.
Paulo Skaf é aliado do presidente Jair Bolsonaro, e segundo a avaliação de empresários que aderiram ao movimento, o recuo pode ter sido provocado pela reação negativa de Bolsonaro ao teor da carta pacificadora.
Em seu posicionamento oficial, a Fiesp disse que quer aumentar as adesões ao documento e por isso teria decidido postergar o manifesto.
Mas antes mesmo da conversa entre Lira e Skaf, o anúncio de que o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal iriam deixar a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) por discordarem que a instituição – que é privada – se manifestasse politicamente em apoio ao documento, já havia provocado mal-estar entre os bancos públicos, as entidades e o governo federal.
A decisão da Fiesp de suspender a publicação do texto, portanto, viria para amenizar essa crise institucional e o ambiente de tensionamento político que tem piorado e contaminado as expectativas do mercado e dos agentes econômicos. E veio a calhar para Paulo Skaf, que está na reta final de seu mandato à frente da Fiesp, e não quer desgastar a sua relação com o presidente Jair Bolsonaro.
A Febraban disse que mantém o manifesto – mesmo com as ameaças do BB e da Caixa – e que a decisão de adiar o lançamento é exclusiva da Fiesp.
As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso País. Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência.
A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também pela repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.
O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.
As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos – para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará.
Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.
A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.
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