Presidente está criando uma trincheira com nomes de sua confiança, diz ex-ministro ao Segunda Chamada
por Thales Schmidt em 29/03/21 21:05
O ex-ministro Celso Amorim acredita que o comandante do Exército, Edson Pujol, pode perder o cargo por ter mostrado independência frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), embora a ligação das Forças Armadas com o Palácio do Planalto não possa ser ignorada.
Com as seis trocas ministeriais desta segunda-feira (29), há especulação na imprensa de que os comandantes das Forças Armadas podem entregar seus cargos ou Bolsonaro pode substituir Pujol.
Amorim relembrou que Pujol ofereceu o cotovelo quando Bolsonaro tentou cumprimentá-lo em cerimônia militar em Porto Alegre, em abril de 2020. Quando o discurso de Bolsonaro era de que pandemia de covid-19 era uma “gripezinha”, o comandante das Forças Armadas disse, também em abril de 2020, que o novo coronavírus era “uma das maiores crises vividas pelo Brasil nos últimos tempos”.
“Eu tenho minhas ressalvas em dizer que as Forças Armadas mantiveram-se independentes [do Governo Federal] porque eu acho que há uma contaminação evidente com personagens como [Eduardo] Pazuello, o número de ministros que são militares”, avalia Amorim em entrevista ao vivo para o Segunda Chamada.
Amorim foi professor da Universidade de Brasília (UnB), ministro das Relações Exteriores em duas ocasiões, entre 1993 e 1995 e depois de 2003 a 2011. Seu último cargo ministerial foi na pasta da Defesa, de 2011 a 2015.
O ex-chanceler relembra que algumas trocas de comando no Exército tiveram sucesso, como quando o então presidente Ernesto Geisel removeu o representante da linha dura Sylvio Frota, em 1977. Já com Henrique Teixeira Lott, o desfecho não foi tão positivo.
“Eu acho que é uma coisa muito mais grave do que simplesmente colocar um aqui e ali para agradar esse e agradar aquele. Eu acho que isso tudo tem a ver com o impeachment e tem a ver, também, com o ressurgimento do Lula no cenário político”, afirma Amorim.
O ex-ministro acredita que Bolsonaro está criando uma trincheira com pessoas em quem confia e que o novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, é uma figura que o presidente acredita poder contar em um momento de “necessidade”.
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