O mistério do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em assumir candidatura ao Palácio do Planalto em 2022 faz parte da estratégia para a construção do seu perfil conciliador. Ele não quer se antecipar e, dessa maneira, entrar na linha de tiro do presidente Jair Bolsonaro. Seus aliados apostam no perfil de diálogo e na capacidade de construir consensos como atributos necessários para furar a polarização no ano que vem.
O grande entusiasta da candidatura de Pacheco é o presidente do PSD, Gilberto Kassab. A interlocutores, ele dá a entrada do senador na disputa como certa. Mas ressalta que, para continuar tendo trânsito entre as lideranças do país, ele precisa se colocar como alguém disposto a criar soluções, não como candidato. Como adversário de Bolsonaro, no entanto, ele perderia o papel de “ponte” entre as instituições, que tem tentado exercer nos últimos meses.
No dia 18, por exemplo, Pacheco teve uma reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, para pedir a retomada de diálogo com o Palácio do Planalto. No início de agosto, Fux havia cancelado uma reunião prevista entre os chefes dos três Poderes após a escalada dos ataques de Bolsonaro aos ministros do Supremo e ao sistema de votação eletrônico. “A democracia não pode ser questionada da forma como vem sendo questionada no país. Neste instante, o mais importante é o diálogo entre todos os presidentes de Poderes. E é isso que vim sugerir ao ministro Fux, que possamos restabelecer aquela ideia original de sentarmos todos para debater os problemas nacionais”, afirmou Pacheco na ocasião.
Os aliados de Pacheco que apostam na sua candidatura avaliam que esse perfil conciliador será fundamental para tornar viável a sua participação na disputa. Em seu entorno, a avaliação é de que sua atuação no comando do Senado poderá dar a ele condições para se destacar entre os demais nomes da terceira via, hoje embolados entre 5% e 10% de intenções de votos nas principais pesquisas.
Foi nesse cenário que Pacheco rejeitou, no último dia 25, o pedido de impeachment protocolado por Bolsonaro contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes. O pedido foi o ápice de mais um episódio que se iniciou, na semana anterior, com a operação autorizada por Moraes que prendeu o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
A rejeição do pedido se baseou em um parecer da Advocacia-Geral do Senado, que concluiu não haver embasamento jurídico para a deposição do ministro. Mas Pacheco fez questão de se posicionar, posteriormente, sobre o que a decisão representava. “Há também um aspecto importante que é a preservação de algo fundamental ao estado de direito e à democracia, que é a separação dos Poderes e a necessidade de que esta independência de cada um seja garantida e que haja convivência mais harmoniosa possível. Quero crer que esta decisão possa constituir um marco de restabelecimento das relações entre os Poderes, da pacificação e da união nacional que tanto nós reclamamos, que tanto nós pedimos, porque é fundamental para o bem-estar da população brasileira e para a possibilidade de progresso e de ordem do nosso país”, completou.
Bolsonaro reagiu em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco. “Lamento a posição do senhor Rodrigo Pacheco no dia de ontem [25], mas nós continuaremos aqui no limite, dentro das quatro linhas, [para] buscar garantir a liberdade do nosso povo”, justificou. Na ocasião, também voltou a criticar Moraes, afirmando que ele ignora a Constituição.