O depoimento de Jair Bolsonaro: novidade ou mais do mesmo? Bolsonaro durante julgamento / © Valter Campanato/Agência Brasil

O depoimento de Jair Bolsonaro: novidade ou mais do mesmo?

Rodrigo Augusto Prando analisa o depoimento do ex-presidente em acusação de golpe de estado

Hoje, 10/06/2025, assistimos um dos momentos mais esperados do julgamento que ocorre no Supremo Tribunal Federal (STF), em sua primeira turma, acerca dos crimes imputados ao núcleo central do bolsonarismo, que foi o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Provavelmente, o ponto alto será o final do julgamento com as condenações, absolvições e as respectivas penas.

Depois de Jair Bolsonaro

Bolsonaro, há dias, fez um chamamento à sua militância, para que assistissem seu depoimento e asseverou que não haveria lacração. De fato, pela gravidade dos fatos julgados – abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, para ficar nos mais representativos – a sessão no STF, presidida pelo Ministro Alexandre de Moraes transcorreu sem maiores sobressaltos. Ficou claro o porquê de o ex-presidente ter mobilizado sua base: em muitos momentos, ao invés de responder objetivamente as perguntas de Moraes, Bolsonaro fez política, defendendo seu governo, destacando suas dificuldades e suas realizações. O Ministro Moraes decidiu inquerir em ordem cronológica e, diferente, por exemplo, do General Heleno, que permaneceu em silêncio diante de Moraes e do Procurador Geral da República, Paulo Gonet, Bolsonaro respondeu e fez os esclarecimentos solicitados. Politicamente, houve uma clara estratégia de buscar amainar quase sempre ou negar, qualquer acusação que lhe é imputada pela Justiça.

Assim, Bolsonaro, quando questionado acerca de suas falas, mormente, dos ataques às urnas eletrônicas e à Justiça Eleitoral, fez questão de enfatizar que não foram ataques e sim críticas, inclusive, trazendo à tona as figuras de Flávio Dino e Carlo Lupi que, anteriormente, também haviam criticado o sistema de votação. Ademais, Bolsonaro afirmou que, não raro, ele usava de uma retórica inflamada, com palavrões, e que isso esteve presente em toda sua trajetória parlamentar, de vereador até deputado. Inclusive afirmou que, na condição de deputado, estava amparado pela imunidade parlamentar e que, talvez, tenha levado essa prática ao Executivo. Bolsonaro mostrou-se humilde, calmo, bem treinado, diferente de sua condição presidencial na qual as ofensas às instituições, autoridades, jornalistas e atores políticos eram constantes. Quando Moraes lhe perguntou quais indícios ele teria para afirmar que ministros do STF haviam ganhado milhões de dólares para distorcer as eleições, o ex-presidente pediu desculpas indicando que não tinha nenhum indício. Ou seja: era só uma retórica inflamada, segundo sua concepção.

No que tange às urnas eletrônicas, sabidamente, não foram apenas críticas e opiniões alicerçadas em especialistas, já que até mesmo o relatório com a participação do Exército apresentou um resultado (para desgosto dos bolsonaristas) que não havia fraude e, portanto, os resultados eleitorais eram legítimos. Bolsonaro insistiu e insistirá nessa tese: as urnas não são confiáveis e podem ser adulteradas. A questão, no bojo dessa concepção, é que se não bastasse o peso da fala do presidente, de uma liderança política da envergadura de Bolsonaro, houve um conjunto de fake news, pós-verdade e teorias da conspiração produzidas e disseminadas industrialmente, sob a lógica dos algoritmos das redes sociais e que criaram um ambiente propício à ideia de ruptura institucional.

Não tenho – e não pretendo ter – envergadura jurídica para analisar o julgamento. Fico, aqui, nos aspectos políticos. Politicamente, Bolsonaro foi muito habilidoso e, novamente, falou para sua bolha, que já acredita e o segue firmemente. A questão que fica é se seu depoimento trouxe novidades ou alguma contestação peremptória da acusação. Finalizando, creio que a fala de Bolsonaro é mais do mesmo e que a peça acusatória continua de pé e amplamente desfavorável, não pela retórica e sim pelos fatos elencados na investigação.

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