O que realmente move Trump contra o Brasil (Osaka - Japão, 28/06/2019) Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, durante Reunião bilateral com o então presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Alan Santos / PR CHANTAGEM REGRESSIVA

O que realmente move Trump contra o Brasil

Ao exigir concessões em troca de tarifas mais baixas, Trump faz do comércio internacional um jogo de pressão política e de afirmação de poder

Na próxima sexta-feira, o governo brasileiro terá mais clareza sobre até onde o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está disposto a ir em sua ameaça de impor tarifas pesadas contra o Brasil, punição que, nos bastidores, parece mais ligada à exigência de submissão política do que a razões comerciais concretas.

Trump quer mandar e não negociar

A retórica de Trump é clara: ou o Brasil aceita seguir a cartilha de Washington, ou pagará o preço. No entanto, a narrativa de que essa pressão seja uma defesa de Jair Bolsonaro soa cada vez mais como pretexto. A relação entre os dois parece, na prática, menos próxima do que o discurso do deputado Eduardo Bolsonaro sugere.

Leia Mais: O Brasil não é pária do mundo, como querem alguns “patriotas”

Nem Michele Bolsonaro nem o deputado, que se apresenta como figura influente no cenário internacional, foram sequer vistos na área reservada aos aliados mais próximos de Trump durante sua posse.

Para analistas, o chamado “tarifaço” tem pouco fundamento econômico. no Brasil. Do ponto de vista comercial, nem devia ter começado e por isso é imprevisível como terminará.

Com outros países Trump já exibe acordos.

“Trump está desesperadamente tentando fechar qualquer acordo antes de 1º de agosto. Se ele chegar a essa data e disser que precisa de mais tempo, ninguém mais vai acreditar na seriedade dessas tarifas.”, diz o economista André Perfeito.

Enquanto ameaça parceiros comerciais, Trump tenta posar de negociador global. Neste domingo, ele anunciou um novo acordo com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que prevê uma tarifa geral de 15% entre as partes. A medida foi celebrada como um avanço, embora faltem detalhes sobre sua implementação.

Segundo Perfeito, o Brasil está definitivamente isolado e as tarifas ganham ares de sanção que buscam restabelecer a América como quintal dos EUA.

“Seremos taxados na perspectiva que os EUA não permitirão que o Brasil se alie de maneira individual a blocos ou projetos que não sejam do interesse de Washington e isso cria uma novidade politica que há muito tempo não se via”, diz ele.

A revista The Economist apontou corretamente que o que ocorre com o Brasil pode ser só comparado ao período da Guerra Fria.

Na semana passada, o presidente americano também divulgou com estardalhaço um acordo com o Japão: tarifas reduzidas para 15%, e um ambicioso pacote de investimentos. Segundo Trump, Tóquio se comprometeu a investir USD 500 bilhões nos EUA, com o curioso detalhe de que os japoneses ficariam com apenas 10% dos lucros, e Washington determinaria onde o dinheiro seria aplicado.

O pano de fundo das ameaças americanas revela que o Brasil está sendo usado como peça num tabuleiro político que vai muito além da relação bilateral. Ao exigir concessões em troca de não impor tarifas altíssimas, Trump transforma o comércio internacional em um jogo de pressão política e de afirmação de poder.

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