Boulos apostou no discurso da mudança e, perto do segundo turno, deixou de lado a estratégia 'paz e amor' para adotar postura mais agressiva; tática, no entanto, se mostrou insuficiente
Em 26/10/24 12:43
por Coluna do Prando
Rodrigo Augusto Prando é Mestre e Doutor em Sociologia, Professor universitário e pesquisador. Conselheiro do Instituto Não Aceito Corrupção, membro da Comissão Permanente de Estudos de Políticas e Mídias Sociais do Instituto dos Advogados de São Paulo e voluntário do Movimento Escoteiro.Textos essenciais de serem lidos para acompanhar e refletir sobre os movimentos da sociedade e do Poder.
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) falam à imprensa no debate da Globo, na noite de sexta-feira (25) | Foto: Globo/Bob Paulino
Estamos a poucos dias do segundo turno da eleição municipal. Em São Paulo, temos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) numa situação distinta do primeiro turno, na qual até o fim da apuração, havia, praticamente, um empate triplos entre Nunes, Boulos e Pablo Marçal (PRTB). Neste segundo turno, Nunes — atual prefeito, com a máquina nas mãos, coligação robusta e muitos vereadores nas ruas — tem situação bem mais confortável do que Boulos.
Boulos apostou no discurso assentado na mudança. Quis, em muitos momentos, reafirmar a polarização, trazendo à tona Lula (seu padrinho) e Bolsonaro (apoiador de Nunes), buscando rememorar a eleição presidencial de 2022. Uma chuva, nem tão forte, foi capaz de deixar milhares de paulistanos sem energia e, com isso, a campanha do psolista se empolgou e quis carimbar em Nunes a culpa pelo ocorrido. Não foi suficiente, e o prefeito conseguiu, no tempo certo, apresentar sua narrativa e direcionou parte das críticas à Enel e ao governo Lula.
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Nunes, por sua vez, buscou trazer a campanha para o campo da comparação entre as biografias: do prefeito, realizador de obras e moderado; contra Boulos, cuja imagem percebida por muitos é de um radical, dado sua atuação nos movimentos sociais pela luta por moradia. O prefeito não teve um Bolsonaro ativo no primeiro turno e, mesmo agora, foi assaz singela a participação do ex-presidente.
Todavia, a presença e entusiasmo do governo Tarcísio de Freitas fez, simbolicamente, a diferença a favor de Nunes. Se, no primeiro turno, o prefeito foi considerado, por alguns, como fraco ou moderado demais para o gosto do bolsonarismo, agora, é uma imagem que se distancia daquela construída a respeito de Boulos.
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Tendo ficado em terceiro lugar, Marçal tem um considerável número de votos e estes, segundo as pesquisas, foram direcionados majoritariamente para Nunes. Mesmo Tabata Amaral (PSD) e José Luís Datena (PSDB) tendo declarado apoio a Boulos, o deputado encontra-se em desvantagem em relação ao prefeito.
A pesquisa Quaest, divulgada na última quarta-feira (23), apresenta Nunes com 44% e Boulos com 35% das intenções de voto. Já a pesquisa Datafolha, da última quinta (24), coloca o prefeito com 49% e o candidato do PSOL com 35%. Houve variação positiva para Boulos e Nunes caiu alguns pontos se comparado com pesquisas anteriores. Contudo, isso se mostrou insuficiente, até o momento, para colocar em risco a virtual reeleição do prefeito.
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No universo das metáforas futebolísticas, Nunes joga parado, não se arriscando muito em sair para o jogo – inclusive participação em debates e sabatinas. Boulos, no caso, tem que se defender, construir o ataque, cruzar a bola e se apresentar na área para fazer o gol. Há quem assevere que o candidato do PSOL teve uma crise de identidade durante a campanha.
Começou paz e amor; perdeu a paciência com Marçal, no episódio da carteira de trabalho; teve que atacar Nunes de forma incisiva, mas não podia parecer radical para assustar o eleitor; e, agora, no final, além de buscar votos no eleitor do então candidato do PRTB, aceitou uma sabatina proposta por ele com os dois candidatos (que Nunes descartou peremptoriamente).
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Vale lembrar que, no debate Record/Estadão, Boulos, ao estilo de Marçal, anunciou que algo “grave” sobre Nunes seria apresentando durante a semana. Até a manhã deste sábado (26), nada nesse sentido havia sido divulgado.
Em três dias saberemos quem será o prefeito eleito de São Paulo. Os números e o cenário são francamente favoráveis a Nunes, contudo, fatos extraordinários podem ocorrer e uma virada de Boulos se apresentar. Política não é ciência exata e isso traz emoção até o final!
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