Sarney foi armado para convenção do PDS Foto: Arte MyNews SARNEY ARMADO?

Sarney foi armado para convenção do PDS

Numa conversa emocionante com o ex-senador Heráclito Fortes, ele conta os duros momentos vividos antes e depois da morte de Tancredo

Em uma revelação surpreendente, o ex-presidente José Sarney contou que chegou a portar uma arma ao participar de uma reunião do diretório do partido durante a definição da candidatura que culminaria na eleição indireta de 1985. O episódio ocorreu em meio às tensões dentro do PDS, partido governista da época, quando o grupo de Sarney tentava evitar que a legenda lançasse Paulo Maluf como candidato.

“Convoquei imediatamente a reunião do diretório do partido e fui disposto a reagir. Se eles usassem de violência, eu também usaria, porque eu não sairia desmoralizado de nenhuma maneira. E isso me levou a uma coisa que não é do meu feitio, mas coloquei uma pistola e fui armado para a reunião do diretório.”

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Sarney, aliás, explicou que essa disputa interna antecedeu em muito a morte de Tancredo Neves, pois dizia respeito à composição da chapa que representaria a Aliança Democrática – união entre a oposição e uma dissidência do PDS liderada por Aureliano Chaves.

“Tomei a decisão de que íamos encontrar uma maneira de que o Maluf não concorresse à convenção sem que tivéssemos um mecanismo que nos permitisse ter outro candidato.
Para viabilizar essa estratégia, Sarney levou a ideia ao então chefe da Casa Civil, Leitão de Abreu. “Cheguei e fui ao ministro Leitão de Abreu e expus a ele que ia fazer as prévias do partido.

Segundo Sarney, Leitão de Abreu também não via com bons olhos a candidatura de Maluf. “Devo dizer que o doutor Leitão de Abreu era um homem de grande espírito público e, no fundo, ele também não desejava a candidatura do Paulo Maluf.”
E por que não Maluf? “O Maluf seria um desastre para o país e para o povo brasileiro. Não sabemos o que poderia acontecer se ele fosse o presidente”.

Engenharia política

O ex-presidente diz que todo esse movimento que resultou na Aliança Democrática foi um projeto de engenharia política. “Um projeto de engenharia política construído graças a classe política brasileira, os homens públicos que nós tínhamos e que realmente nunca abandonaram o País”.

Na conversa, Sarney também falou sobre os atos golpistas do  governo passado: ˜Acho lamentável, falta de liderança que se conjuguem com aquele espírito que nós tínhamos. A democracia que construímos foi tão forte que resistiu a tudo isso. Resistiu aos impeachments, resistiu a essa tentativa. Isso tudo mostra como nossa geração conseguiu construir para o país um regime dessa natureza. Isso não foi obra do acaso, isso foi construído por políticos que faziam política”.

Sarney conta também sobre suas conversas com Tancredo e conselhos:
“dr Tancredo o senhor tem que compor a parte de comunicação e nessa parte de comunicação o dr Roberto Marinho é uma pessoa importante, o senhor não pensa que pode ser presidente sem que tenha um apoio grande da área de imprensa nacional. E em segundo lugar os militares, que os militares vão deixar o senhor assumir sem nenhuma resistência”.

Sarney no MyNews

Essa história está contada em detalhes em uma conversa registrada pelo MyNews entre Sarney e o ex-senador Heráclito Fortes que você pode conferir no canal do MyNews. A gravação, feita na casa de Sarney, em São Luís, faz parte do documentário A Casa, que o MyNews vai estrear no final de abril. O filme apresenta os bastidores da redemocratização brasileira narrados por muitos de seus protagonistas.

O documentário será exibido no lançamento do livro A Casa, de Heráclito Fortes, que inaugura a coleção Legado, produzida pelo canal MyNews.

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