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DEBATE PÚBLICO

Corrupção não é um tema político

Assunto virou tema central nas discussões políticas, mas é só isso que importa? A partir de quais discussões devemos pautar nosso debate público?

por Aniello Olinto Guimarães Greco Junior em 13/04/22 09:48

Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: Antonio Cruz (Agência Brasil)

Apesar de ser um assunto frequente, e atualmente quase dominante nas manchetes e nos debates políticos, é importante perceber que corrupção não é um tema político. A política é o processo de debate e tomada de decisões sobre os assuntos da Pólis. É a análise do que a sociedade deseja e como se atingir estes objetivos.

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Por isto quando falamos em política estamos falando de posições ideológicas diversas, muitas vezes conflitantes, do confronto de ideias e de acordos de como atender os diversos interesses e vontades.

Já a corrupção não tem ideologia, não tem conflito, não tem debate ou negociação. É simplesmente o aproveitamento do acesso temporário a recursos que não são particulares para se atingir interesses pessoais. Tipicamente, mas não exclusivamente, é se apropriar da coisa pública para si próprio. Mas cabe lembrar que corrupção também ocorre na esfera privada.

Não há um discurso, uma defesa ou uma tese da corrupção. É tão somente um desvio de conduta, indefensável e inadmissível. Mas não é um tema político, e sim administrativo. Não precisamos de análise social, de grandes filosofias ou de análise de direitos e deveres para perceber que a corrupção é um problema. Até mesmo os meios de evitar a corrupção também não são políticos. É preciso apenas transparência na gestão, fiscalização independente e punição célere e eficiente.

Então porque o assunto se torna cada vez mais fulcral no debate político? A quais interesses a monomania pelos escândalos de corrupção atende?

A bem da verdade o discurso moralista de combate a corrupção nunca foi novidade no debate político. De Lacerda a Jânio Quadros, dos marajás de Collor aos 300 picaretas com anel de doutor de Lula, o combate a corrupção sempre foi uma forma de demonizar os adversários e, muitas vezes, criar uma identificação populista de “povo honesto contra elite sem caráter”.

Mas após o Mensalão e Petrolão a dimensão do discurso vazio anticorrupção ganha outras proporções. Ao invés de ser tratada como um sintoma da falta de compromisso com a coisa pública, a corrupção se torna a explicação simples de como o Brasil seria rico, mas é pobre. Bastaria os políticos pararem de roubar, e todos os problemas brasileiros estariam resolvidos. Desigualdade social, baixa escolaridade, baixa industrialização, exclusão social dos centros de decisão, direitos humanos, etc, tudo isto seriam secundários diante da roubalheira.

Não adiantava apontar fatos simples como a sonegação de impostos gerar mais prejuízo aos cofres públicos que os desvios de verbas. O Brasil não vai para frente por causa da corrupção.

Qual foi o contexto que transformou a corrupção na Caixa de Pandora para a opinião pública? Foi o contexto em que multidões iam as ruas “contra tudo o que está aí”, e gritavam “sem partido” quando alguém levantava alguma bandeira que lembrasse a política. Era não um pedido de honestidade, mas sim um pedido pelo fim da política. Se todo político é ladrão e corrupto, então queremos não políticos gerenciando o país.

Palácio do Planalto.

E com isto tivemos uma ascensão de figuras “não políticas” eleitos, de pastores a policiais, delegados, juízes, procuradores, etc. E tudo o que importava é que fossem “cidadãos do bem”. Questões políticas ou econômicas perderam a importância diante de uma furiosa vociferação contra a política.

E, como esperado, a corrupção não diminui, e sim foi institucionalizada. Ao enfraquecer as estruturas políticas a base dos mecanismos de fiscalização da ética na administração ficou comprometida.

Mas o pior efeito foi o falecimento do debate político. Vemos coisas como o MBL defender a lamentável declaração de Arthur do Val com o brilhante argumento de “ele não estava roubando, p*”. A não corrupção justificando a crueldade ideológica e o preconceito criminoso.

Um desvio administrativo se tornou o único crime possível na política, e passou a ser aceitável todo os outros desvios e excessos. E curiosamente os símbolos anticorrupção acabaram por fracassar em conseguir efetivamente punir os seus acusados devido a seus inúmeros atropelos ao devido processo legal.

Agora, com a eleição se aproximando, com certeza teremos dúzias de escândalos de corrupção por semana. Agora é o Ministro da Educação que privilegiava os amigos pastores.

Isto é claro que precisa ser divulgado e investigado. Mas por favor, lembremos dos outros temas. Neste caso, por exemplo, mais grave que a propina e o quilo de ouro pedido está a violação do Estado Laico.

Por favor, não esqueçamos a corrupção. Mas basta de reduzir a política a um desvio administrativo.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Aniello Olinto Guimarães Greco Junior?

Servidor público concursado do Tribunal Superior do Trabalho, Aniello Greco passou tempo demais na universidade, sem obter diploma. Já fingiu ser jogador de xadrez, de poker, crítico de cinema, sommelier de cerveja. Sabe de quase tudo um pouco, e quase tudo mal.


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