Pesquisas já mostram Lula à frente de Bolsonaro em alguns estados e colocam políticos do Centrão em sinuca de bico
por Juliana Braga em 19/10/21 17:04
Agora que o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que a poeira começa a assentar, políticos passam a avaliar os impactos da decisão em suas regiões e desenhar seus próximos passos. Em estados do Norte e Nordeste, pesquisas de intenção de votos já mostram Lula à frente do presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno impondo uma situação delicada principalmente para líderes do Centrão: como conciliar o apoio ao presidente em Brasília com o crescimento do petista em alguns municípios?
Esse é o cenário no Amazonas, por exemplo, uma das unidades da federação mais castigadas pela pandemia do coronavírus. Levantamento do Instituto Perspectiva mostra Lula, já no primeiro turno, com 38,3% das intenções de voto e Bolsonaro com 27,8%, uma diferença de mais de 10%. Em Manaus a distância ainda é pequena, fica próxima à margem de erro, mas em alguns municípios Lula chega a quase 50%.
A ascensão de Lula apresenta dois problemas para Bolsonaro. O primeiro, mais distante, é a dificuldade para montar palanques estaduais. É verdade que o presidente se elegeu em um cenário completamente atípico, fora dos moldes da política tradicional, e não precisou de alianças locais para conquistar o Planalto. Mas em 2018, Bolsonaro ainda tinha o benefício da dúvida. Em 2022 ele terá um governo para apresentar, para o bem e para o mal. Essa capilaridade nos estados ganha outro peso, ainda mais levando em consideração que o PT já é um veterano em disputas eleitorais e vai colocar a sua máquina para trabalhar.
O segundo problema é a recém conquistada base aliada do Centrão começar a não ser mais tão fiel assim, principalmente nas pautas mais indigestas. Dirigentes do bloco afirmam que o afastamento não ocorrerá de forma explícita em um primeiro momento. Mas pautas indigestas, como a reforma administrativa, ficam ainda mais difíceis de serem aprovadas.
Essa vantagem local de Lula não significa um desembarque imediato porque essa decisão não precisa ser tomada agora, as eleições são só no ano que vem. E esses parlamentares vão tentar aproveitar pelo maior tempo possível aquilo que só o apoio ao governo pode oferecer: cargos e emendas.
Os políticos do Centrão entraram nessa sinuca de bico ao apostar em Bolsonaro lá atrás, prevendo uma migração do eleitor do Lula, principalmente das classes D e E, com o auxílio emergencial. Eles contavam que, como parte desse eleitorado é conservador e evangélico, teria mais facilidade em se conectar com Bolsonaro do que com o ex-ministro Fernando Haddad, mais liberal e paulista. O plano, no entanto, não contava com o fator Fachin e o retorno do petista ao jogo. Com Lula no cenário, o eleitor não precisa migrar para candidato algum.
O novo cenário exigirá muito jogo de cintura de Bolsonaro. A carta que usou em 2018, ser um outsider da política tradicional, pode não ser suficiente para conquistar a reeleição. Com Lula jogando “by the book”, o presidente precisará fazer o dever de casa se não quiser ver o apoio ao seu nome se esvair nos estados.
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