Segurança pública do Rio de Janeiro é “samba de uma nota só”, diz especialista

“A violência policial é uma tônica pela cidade do Rio de Janeiro, talvez do Brasil”. É assim que Rafael Alcadipani, professor de gestão pública da FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, vê a situação da segurança pública no país. Em entrevista ao MyNews, ele comentou a operação da Polícia Civil no Jacarezinho, que terminou com 25 mortos.

Alcadipani explica que os policias tinham mandados judiciais para entrar em casas específicas, mas que depois de terem um membro alvejado, eles deixaram de respeitar os mandados e entraram nas casas que quiseram, que isso não poderia acontecer.

“É uma situação bastante complexa, mas infelizmente é um samba de uma nota só da segurança pública do Rio de Janeiro. Faz anos que a gente tem só essa política de confronto. Se isso resolvesse alguma coisa, o Rio de Janeiro seria hoje a cidade mais segura do mundo, só que infelizmente, são mais mortes que acontecem, é a atuação policial que gerou o maior número de vítimas na história da polícia do Rio de Janeiro”, analisa o professor da FGV.

O membro do Fórum Brasileiro De Segurança Pública destaca que criminosos devem encarar a força da lei, mas que a polícia deve agir com inteligência e com profissionalismo, para que a própria vida dos policiais seja resguardada. Ele também acha que a Defensoria Pública deve tomar medidas sobre essa operação.

“O que a gente esta assistindo, mais uma vez, é que cada um vai jogando para o outro, vai tentando fugir das suas responsabilidades, a própria Policia Civil deu uma entrevista coletiva ontem péssima, de péssimo gosto, tentando justificar o injustificável, tentando explicar o inexplicável. E a violência policial, infelizmente é uma tônica pela cidade do Rio de Janeiro, talvez do Brasil. Isso é um problema grave, isso ganha cores mais fortes onde a gente consegue ver de forma mais nítida.”, argumanta o gestor público.

Sobre a possibilidade de investigação, Alcadipani avalia deve ser feita uma investigação séria e aprofundada do episódio, que o Ministério Público não pode se esquivar do controle externo da atividade policial, sua obrigação constitucional.

“A gente não vê o Ministério Público atuante no que diz respeito ao controle externo [da atividade policial], a gente não vê o próprio judiciário, especialmente do Rio de Janeiro, tomando atitudes para tentar coibir as ações violentas da polícia”, lamenta o professor da FGV.