Plataforma Lattes saiu do ar e chamou atenção para a redução de investimentos para a ciência no país
por Juliana Cavalcanti em 30/07/21 23:52
A semana terminou com a Plataforma Lattes e a Plataforma Integrada Carlos Chagas do mesmo jeito que iniciaram: fora do ar. A pane no maior sistema de informações sobre pesquisadores e bolsistas do país causou apreensão no meio científico nacional. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) garante que não houve perda das informações e que o problema aconteceu numa peça chamada controladora de armazenamento – que deve ser trocada.
Também garante que foi concluído o backup dos dados, sem perda de informações, com a promessa de o sistema ser restabelecido na próxima segunda (02/08). A possibilidade de sumiço total das informações dos pesquisadores e bolsistas da plataforma que é usada como base para diversos procedimentos da vida acadêmica e científica do país, acendeu mais um alerta sobre a falta de investimentos em Ciência & Tecnologia no Brasil.
Com o sistema fora do ar, diversos procedimentos internos das universidades e de prestação de contas de projetos, com prazos determinados, precisaram ser suspensos até que a plataforma seja retomada. O orçamento do CNPq em 2021 é de R$ 1,21 bilhão – metade do valor reservado para o órgão há 21 anos – segundo o economista Felipe Salto – diretor da Instituição Fiscal Independente do Senado.
A informação – citada no programa Quinta Chamada desta semana, chama atenção também quando é sabido que o orçamento destinado para as universidades e centros de pesquisa brasileiros vem diminuindo seguidamente, ao ponto de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estar sob ameaça de precisar desligar o supercomputador Tupan – que faz as principais previsões meteorológicas do país – por falta de pagamento da conta de energia elétrica.
“O CNPq começou a apresentar uma instabilidade desde a semana passada. Na sexta (23), a gente não tinha mais acesso à Plataforma Lattes – sistema que se consulta o tempo inteiro. No caso da UFPE, por exemplo, estamos num processo de credenciamento de docentes nos programas de pós-graduação e estamos impossibilitados de seguir com esta atividade. Já na Plataforma Carlos Chagas estão projetos de pesquisa, resultados de editais, das consultas, entre outras atividades essenciais”, explica a pró-reitora de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Carol Leandro, em entrevista ao site do Canal MyNews.
Perder os dados das duas plataformas seria um prejuízo incalculável, segundo Carol Leandro, pois nelas estão as principais base de dados que as universidades têm para acompanhar a vida acadêmica de todos os pesquisadores no Brasil, inclusive estrangeiros. A professora explica que além da redução de recursos, as universidades temem que avance um projeto de fusão entre o CNPq e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Uma tentativa de unificação das duas entidades foi feita em 2019, mas não avançou.
“O CNPq é uma instituição importante, que acompanhou todo o processo de evolução da pós-graduação no Brasil. Junto com a Capes faz um trabalho que se complementa. São inúmeros pesquisadores com projetos aprovados, em parceria com outras entidades, abrindo editais de pesquisa e ofertando bolsas. Estamos muito apreensivos e atentos para qualquer tentativa de desmonte do CNPq, ou de colocar em dúvida sua seriedade como instituição de fomento à pesquisa no Brasil”, prossegue Carol Leandro.
A pesquisadora Roberta Froes – professora do Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em participação no Quinta Chamada, alertou que a situação da ciência no Brasil está muito complicada pela falta de recursos para desenvolver pesquisas.
“Não tem bolsa para os pesquisadores, não só para os alunos de pós-graduação. A iniciação científica também não tem. Como você vai incentivar um aluno de iniciação científica a se manter na universidade numa pós-graduação se não tem nenhuma garantia da bolsa? Vale lembrar que o valor da bolsa não é exorbitante, não é um bônus que ele recebe. Muitas vezes a bolsa é pra manter o aluno longe da sua cidade, longe da sua família e ele tem que morar, comer, dormir, se vestir e comprar o material para estudar”, falou a pesquisadora, lembrando que o valor da bolsa de iniciação científica é R$ 400.
Ela pontuou que além da falta de recursos para apoiar os pesquisadores a se manterem na vida acadêmica e científica, a estrutura das universidades também está se deteriorando. “A gente está vendo os laboratórios serem sucateados. A minha área, por exemplo, precisa de insumos para laboratório, manutenção de equipamentos, equipamentos novos, e estamos sempre fazendo gambiarras para não parar de funcionar. O Tupan, por exemplo, estava na base de gambiarra por falta de investimentos. Isso é muito desestimulante; é um ataque à ciência”, ressaltou.
Carol Leandro, da UFPE, vê uma realidade em que a pesquisa científica está ameaçada, principalmente por posturas negacionistas e cortes orçamentários nos últimos 10 anos. “De uma forma geral, a universidade perdeu como um todo. O que fizemos foi uma reorganização interna, para que uma parte do orçamento para universidades continuasse na área de pesquisa. Uma das ações de resistência é manter a pesquisa. É uma prioridade. É grave a situação do fomento à pesquisa nas universidades federais”, finalizou.
Comentários ( 0 )
ComentarMyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.
Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74
Entre no grupo e fique por dentro das noticias!
Grupo do WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.
ACEITAR