Pesquisas devem ser interrompidas por falta de recursos e cientistas mulheres estão ameaçadas no Afeganistão. Unicamp entregou abaixo-assinado ao governo federal para acolhimento de professoras refugiadas
por Juliana Cavalcanti em 24/09/21 20:22
A retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão e a tomada de poder por parte do grupo Talibã coloca sob ameaça no país diversos direitos humanos e fundamentais, como os direitos das mulheres e a liberdade de expressão, e também significa uma ameaça à pesquisa científica desenvolvida no país. Segundo uma pesquisa divulgada pela revista Nature, o número de pessoas nas universidades afegãs passou de 8 mil, em 2002, para 170 mil, em 2021.
Com a situação atual, a tendência é que as pesquisas sejam interrompidas, seja por falta de recursos financeiros – pois as universidades do Afeganistão recebiam muito investimento internacional; seja porque as pessoas mais escolarizadas devem deixar o país.
Em participação no programa Quinta Chamada Ciência, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz apontou que o panorama para a ciência no Afeganistão atualmente é como ter uma “morte anunciada”.
“Tenho colegas cientistas que moram no Afeganistão, colegas mulheres, e a perspectiva de futuro é péssima. Governos autoritários costumam atacar algumas áreas, como o jornalismo, a academia e a ciência. Porque são governos que não se pautam na boa informação. Se pautam na informação como uma forma de coerção e pressão política. É um cenário péssimo. O Afeganistão tem uma universidade muito importante, ela vai ser censurada, as verbas vão ser cortadas. Esse é um cenário que conhecemos não só no Oriente, mas aqui também no Brasil, onde esta situação vai se repetindo”, analisou Schwarcz.
Um dos aspectos preocupantes lembrados pela jornalista Cecília Oliveira é a negação das vacinas promovidas pelo Talibã. Segundo Oliveira, há 20 anos – quando o grupo ainda detinha o poder na região, proibiu a vacinação contra a poliomielite, o que impediu a erradicação da doença no território afegão. Agora, com uma população de 40 milhões de pessoas e apenas 2 milhões vacinadas contra o Covid-19, o que está em risco é o controle global da pandemia do novo coronavírus e a possibilidade de surgirem novas variantes do vírus.
O médico e advogado sanitarista Daniel Dourado explicou que qualquer país que não adote a vacinação em massa de sua população pode estragar a estratégia mundial de controle da pandemia, sendo um lugar para multiplicação de variantes do Covid-19. “É uma das preocupações da Organização Mundial de Saúde desde o começo da pandemia. Chamar atenção para o fato de que nós estamos diante de um agente viral e quanto mais ele circular, mais possibilidade de surgirem mutações e essas mutações podem vencer, como aconteceu com a variante Delta – que mudou completamente o cenário da pandemia”, defendeu.
Professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entregaram ao governo federal e à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), na última segunda (20), uma petição com mais de 30 mil assinaturas pedindo apoio ao acolhimento de professoras refugiadas afegãs em um programa acadêmico na instituição. A entrega do documento foi feita ao Ministério das Relações Exteriores, ao Ministério da Defesa e ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Segundo informações divulgadas pela assessoria de comunicação da Unicamp, houve uma sinalização para montar um grupo de trabalho com representantes da universidade, do Judiciário e dos ministérios da Defesa e dos Direitos Humanos “para atender as demandas emergenciais que implicam a vinda e o acolhimento dos afegãos”.
Foi discutida a possibilidade de enviar um avião para um país vizinho ao Afeganistão para resgatar as cientistas e também as juízas que tentam sair do país. O acolhimento na Unicamp será através da Cátedra Sérgio Vieira de Mello – iniciativa da Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (ACNUR), que promove em parceria com centros universitários brasileiros educação, pesquisa e extensão acadêmica à população em situação de refúgio.
Pelo acordo com a Capes as professoras afegãs receberão bolsas para realização de mestrado, doutorado e pós-doutorado, de acordo com vagas disponibilizadas em processo de seleção da Unicamp. A intenção também é aceitar pesquisadores homens, mas a prioridade será para as mulheres. Segundo a Unicamp, atualmente 15 alunos refugiados estudam na instituição – 14 em cursos de graduação e um no mestrado. Há estudante de Angola, Congo, Egito, Gana, Irã, Palestina, República Democrática do Congo, Serra Leoa e Síria.
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