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Ex-estagiária do ministro Lewandowski teria agido como informante de Allan dos Santos

De acordo com mensagens interceptadas pela PF, Tatiana Garcia Bressan afirmou que seria “uma honra” ajudar o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos

por Vitor Hugo Gonçalves em 06/10/21 17:36

Uma estagiária do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski foi descoberta atuando como suposta informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que é investigado pela Corte em dois inquéritos (das Fake News e dos atos antidemocráticos). A ação foi revelada por meio de mensagens coletadas pela Polícia Federal (PF) e publicadas pelo jornal ‘Folha de S.Paulo’.

As trocas de informações obtidas pela PF se deram por intermédio da quebra de sigilo telefônico do blogueiro, e estão presentes no relatório da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado. O parecer reúne conversas entre Allan e Tatiana Garcia Bressan, datadas de outubro de 2018 a março de 2020 – a estudante estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019.

O primeiro contato foi instigado pela estagiária, que demonstrou interesse em trabalhar na equipe da deputada Bia Kicis (PSL-DF). Na conversa inicial, ela diz a Allan que é estagiária do ministro, obtendo “Fique como nossa informante lá” como resposta. Tatiana replica: “Será uma honra. Estou lá kkk”. A informação, segundo a PF, “naturalmente desperta o interesse de Allan”.

Allan dos Santos é investigado pelo STF no inquérito das Fake News e dos atos antidemocráticos.
Allan dos Santos é investigado pelo STF no inquérito das Fake News e dos atos antidemocráticos. Foto: Reprodução (Agência Senado)

Na sequência, o blogueiro questiona o que ela percebia de mais “espantoso” dentro do gabinete. A menina argumenta, então, que os ministros da Suprema Corte “decidem o que querem e como querem”. Complementou afirmando que “algumas decisões são modificadas porque alguém importante liga para o ministro”.

Tatiana disse também que o general Eduardo Villas Bôas “têm trânsito com quase todos os ministros”. De acordo com a ex-estagiária de Lewandowski, o ministro atende “prontamente” às ligações do militar. “Vc sabe que o Villas Boas botou um general pra trabalhar junto com o [Dias] Toffoli na presidência, né?”, escreveu, “Toffoli nem fala mais em ditadura de 64. Fala em ‘movimento de 64’”.

Em outra conversa, a estudante afirma que Lewandowski seria o responsável por instituir a soltura do ex-presidente Lula – o petista saiu da cadeia em novembro de 2019, após decisão do STF de proibir prisão imediata depois de condenação em segunda instância.

“Tenho pra mim q quem soltará o Lula será o Lewandowski porque com a última decisão nos autos da reclamação q a defesa ajuizou em nome do próprio lula, pedindo q ele pudesse conceder entrevista p/ quem quisesse)….. como esse decisão foi a primeira envolvendo a execução da pena do lula, tornou o Lewa prevento para futuras decisões envolvendo a execução da pena dele”, disse Tatiana.

À ‘Folha de S.Paulo’, a ex-estagiária alegou que nunca operou como informante, uma vez que a ligação com Allan se deu porque ambos foram alunos do escritor Olavo de Carvalho. Segundo ela, o contato com o blogueiro aconteceu devido a uma tentativa de arrumar emprego.  

Em nota, o gabinete do ministro Ricardo Lewandowski afirmou que todas as decisões proferidas por ele possuem “fundamentação constitucional e a eventual modificação delas ocorre por meio de recursos cabíveis, apresentados nos autos e julgados individual ou coletivamente”.

Ainda de acordo com o comunicado, o magistrado “atende os telefonemas institucionais, principalmente vindos de autoridades da República. Na época mencionada, o general Villas Bôas era comandante do Exército Brasileiro”.

Por fim, o gabinete informou que a seleção de estagiários acontece sob supervisão direta da Secretaria de Recursos Humanos do Tribunal.

Prestação de contas sobre espionagem para blogueiro Allan dos Santos

Nesta quarta-feira (6), o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que a PF interrogue Tatiana Garcia Bressan sob o pretexto do inquérito das fake news, que apura a disseminação de informações falsas com cunho político.

Mesmo considerando as informações transmitidas pela estudante como “irrelevantes”, com a decisão os ministros demonstram que a espionagem em um gabinete da Corte deve ser reconhecida como ato grave.


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